Câmara homogênea e subordinada ao Executivo ameaça a fiscalização e compromete os interesses coletivos em Porto Velho
Em um cenário político preocupante, os 23 vereadores eleitos para a Câmara Municipal de Porto Velho em 2025 apresentam alinhamento irrestrito com a administração do prefeito Léo Moraes (Podemos). Essa composição, sem oposição, levanta questionamentos sobre a capacidade do Legislativo de cumprir sua função essencial de fiscalizar o Executivo, o que pode comprometer a transparência e a democracia local.
Logo após a posse, realizada com pompa na histórica Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, os vereadores participaram de uma sessão extraordinária que revelou fragilidades e interesses ocultos. A aprovação, em tempo recorde e sem a devida análise, de projetos de grande impacto, como a fusão das pastas da Agricultura, Meio Ambiente e Sustentabilidade e a autorização de um empréstimo de R$ 300 milhões, indica a falta de preparo e autonomia dos parlamentares.
Enquanto vereadores novatos do baixo clero asseguraram entre 6 a 13 cargos na administração municipal, os parlamentares mais experientes e articulados conquistaram mais de 30 nomeações em uma única negociação. Esse desequilíbrio reflete o domínio de líderes políticos dentro da Câmara, que controlam decisões e alianças em benefício próprio.
A influência dos “articuladores” se estendeu até os quatro vereadores bacharéis em Direito, que, mesmo com formação técnica, foram persuadidos a votar sem compreender plenamente o que estava em pauta. Essa falta de discernimento político, combinada com o apoio a medidas de impacto negativo, demonstra a fragilidade do Legislativo atual.
A fusão das pastas de Agronegócio e Meio Ambiente, aprovada sob a justificativa de economia aos cofres públicos, é considerada um retrocesso para ambas as áreas. Unir setores com interesses tão divergentes ameaça a eficiência das políticas públicas, comprometendo o desenvolvimento sustentável e a preservação ambiental.
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Além disso, o empréstimo de R$ 300 milhões, aprovado sem debate público e detalhamento técnico, gera preocupação sobre a real destinação desses recursos e os impactos a longo prazo para a população.
Com uma composição homogênea e alinhada ao Executivo, a Câmara Municipal de Porto Velho perde sua independência. A situação favorece o prefeito Léo Moraes, que agora governa sem obstáculos e conseguiu, inclusive, influenciar a mídia local, consolidando sua narrativa e minimizando críticas.
Essa submissão ficou evidente nas primeiras semanas de mandato, quando a Câmara passou a ser vista como uma extensão da administração municipal, incapaz de questionar ou propor alternativas às políticas do Executivo. A expressão popular “beber água na orelha do prefeito” retrata bem o cenário: vereadores deslumbrados e manipulados por promessas de cargos e vantagens, enquanto interesses coletivos são relegados ao esquecimento.
A composição atual da Câmara pode ser considerada uma das mais frágeis da história política de Porto Velho. Sem fiscalização e com um Legislativo omisso, os maiores prejudicados são os cidadãos, que veem seus representantes priorizarem interesses pessoais em detrimento do bem-estar coletivo.
Esse episódio reforça a necessidade de uma reforma política e de maior conscientização eleitoral. A população precisa estar atenta ao desempenho de seus representantes, cobrando transparência e responsabilidade, para evitar que cenários como este se perpetuem.
Samuel Costa é portovelhense, advogado, jornalista e especialista em Ciência Política
AUTOR: SAMUEL COSTA