EDITORIAL
Confúcio lulista; os Cassol brigam em público; Sobrinho volta ao cenário político; e Marcos Rogério é refém da própria claque

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Rachas internos entre conservadores acentuam a reconfiguração do cenário estadual

Por Informa Rondônia - sábado, 26/04/2025 - 11h12

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Porto Velho, RO – O cenário político de Rondônia segue em transformação acelerada às vésperas das definições eleitorais para 2026. Entre rupturas internas na direita, reaproximações inusitadas e resgates de figuras políticas históricas, o estado assiste a uma movimentação intensa que promete redesenhar forças tradicionais.

Após anos afastado da cena pública, o ex-prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, voltou a participar de um evento político, sendo homenageado durante a entrega de 304 unidades habitacionais no bairro Socialista, zona Leste da Capital. Sem vínculo partidário no momento, Sobrinho destacou que as obras haviam sido iniciadas durante sua gestão, antes de 2012. “Essas moradias foram pensadas, projetadas e iniciadas ainda na minha gestão como prefeito”, declarou, emocionado com a homenagem feita de maneira espontânea pelo ministro das Cidades, Jader Filho.

Acumulando absolvições em processos judiciais após anos de acusações e investigações, Sobrinho encara o momento como um reconhecimento público. “Essa entrega é mais do que a realização de um projeto — é a prova de que quando o poder público trabalha com responsabilidade e compromisso, a vida das pessoas realmente muda para melhor”, completou.

Em paralelo, no mesmo evento, o senador Confúcio Moura (MDB) fez uma defesa enfática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamando atenção para o volume inédito de recursos destinados a Rondônia. “É muita coisa. Vocês precisam saber a verdade. Valumes de recursos como nunca houve antes”, afirmou, elogiando o que classificou como “atenção especial” do governo federal ao estado. O parlamentar reforçou ainda que “é bom que o rondoniense diga em agradecimento: muito obrigado ao presidente da República”. Confúcio concluiu seu discurso sublinhando o perfil social da atual gestão: “É um governo popular. É um governo voltado para resolver as necessidades essenciais da população”.

Esse movimento de aproximação a Lula ocorre em um estado majoritariamente conservador, reforçando o quadro de deslocamento estratégico de lideranças tradicionais diante de uma base política fragmentada.

A divisão interna se manifesta, de forma emblemática, na família Cassol. A nomeação de Jaqueline Cassol para a Casa Civil do governo Marcos Rocha expôs publicamente a ruptura definitiva com seu irmão, Ivo Cassol. Jaqueline, que passou a integrar a gestão estadual, se distanciou do Progressistas após ser retirada da presidência estadual do partido por articulação direta de Ivo. Em resposta, Jaqueline declarou publicamente: “Marcos Rocha é o melhor governador que Rondônia já teve”, enquanto Ivo se apressou em divulgar nota afirmando que “cada um responde pelo seu CPF”, tentando se desvincular da decisão.

As manifestações públicas revelam um racha que transcende disputas partidárias e atinge diretamente o capital simbólico de um dos sobrenomes mais tradicionais da política de Rondônia. Enquanto Ivo tenta preservar seu legado, Jaqueline trilha caminho próprio, agora sob o abrigo do Executivo estadual.

No campo do bolsonarismo, o senador Marcos Rogério (PL), que ainda figura com força nas pesquisas, enfrenta o que parece ser seu maior desafio: o radicalismo crescente de parte de sua base de apoio. Em episódio recente, ao lamentar a morte do Papa Francisco nas redes sociais, Rogério foi atacado por seguidores que o acusaram de endossar o que chamaram de “comunismo” e “heresias” do líder católico. Comentários agressivos como “já vai tarde” e “menos um comunista na Terra” inundaram sua publicação.

O episódio expôs um dilema: ao atrair uma militância cada vez mais radicalizada, o senador se torna refém de uma claque que interpreta gestos mínimos de compaixão ou humanidade como sinais de traição ideológica. A tentativa de prestar condolências, atitude coerente com princípios cristãos básicos, foi rechaçada pela própria base, colocando Rogério em posição desconfortável entre a fidelidade política e os valores de sua fé pública.

O ambiente rondoniense, antes caracterizado por forte coesão conservadora, agora se vê fragmentado em múltiplas frentes: a esquerda vê brechas para ressurgir; figuras tradicionais buscam reinventar suas trajetórias; e a direita, dividida, perde coesão entre pragmatismo e radicalismo.

Neste tabuleiro instável, a reinserção de Roberto Sobrinho, o reforço da defesa de Confúcio a Lula, a cisão entre os Cassol e a exposição da vulnerabilidade de Marcos Rogério são peças que indicarão, mais cedo do que se imagina, a configuração das alianças e disputas em Rondônia para os próximos anos.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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