Violência emocional disfarçada de gentileza mina a autoestima e corrói relações de forma silenciosa
Vivemos em uma era em que a toxicidade não grita, sussurra. Às vezes, com palavras polidas, gestos discretos e sorrisos afiados como lâminas. É o ataque passivo-agressivo, uma forma de violência emocional que passa despercebida, mas que corrói a autoestima, mina relações e gera um desgaste silencioso e constante.
Nem toda pessoa tóxica grita, humilha ou expõe. Há quem sabote com elogios ambíguos, quem invalide com suposta preocupação, quem manipule com frases carregadas de sarcasmo envolto em verniz de boas maneiras. É o “Nossa, você está bem melhor hoje”, que soa como elogio, mas traz embutido o veneno da comparação e da crítica disfarçada. É o “Faz como quiser, mas só estou tentando te ajudar”, que impõe culpa sob o pretexto de apoio.
O perigo desse tipo de comportamento está justamente na sutileza. Ao contrário da agressividade direta, que é facilmente identificada e, muitas vezes, enfrentada, o passivo-agressivo atua nas entrelinhas. É um tipo de violência que desestabiliza, pois dificulta a reação. Quem sofre com esse tipo de toxicidade frequentemente se vê em dúvida: “Será que estou exagerando? Será que fui eu quem entendeu errado?”
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Essa manipulação velada é tão nociva quanto o confronto aberto. Ela mina a confiança da vítima, distorce a percepção da realidade e, com o tempo, pode gerar ansiedade, insegurança e até sintomas depressivos. E, pior: por ser mascarada por palavras cordiais e atitudes aparentemente gentis, é difícil de denunciar, difícil de explicar, difícil de sair.
Por isso, é preciso ficar atento. Educação não é sinônimo de boas intenções. Palavras doces podem carregar intenções amargas. O cuidado não está apenas em evitar o confronto, mas em identificar essas sutilezas que, embora silenciosas, deixam marcas profundas. Precisamos aprender a nomear o que nos machuca, ainda que venha embrulhado em gentileza.
Nem toda toxicidade é barulhenta. Às vezes, ela chega de mansinho, com bons modos e sorrisos diplomáticos. Mas se o que deveria ser afeto vira controle, se o que deveria ser cuidado vira manipulação, é preciso reconhecer: isso também é violência. E o primeiro passo para combatê-la é parar de desculpar o que nos fere, por mais educado que pareça.
Samuel Costa é rondoniense, professor, advogado e especialista em Ciência Política
