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EDITORIAL
De Mariana a Sofia: discurso inflamado contra a esquerda já não mobiliza como em 2018

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Ataques ideológicos ajudam a marcar território político, mas perdem tração no eleitorado, que cobra resultados concretos

Por Informa Rondônia - quarta-feira, 11/06/2025 - 20h50

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Porto Velho, RO – O pronunciamento da vereadora bolsonarista Sofia Andrade (PL) na Câmara Municipal de Porto Velho seguiu um roteiro conhecido da política rondoniense dos últimos anos: ataque frontal à esquerda, acusações morais a adversários e defesa da pauta econômica sob o viés do antagonismo ideológico. Em sua fala, a parlamentar declarou que “esquerdista não se cria mais na política de Rondônia” e afirmou que, ao contrário do ex-governador Confúcio Moura (MDB), “Bolsonaro não roubou”.

O conteúdo das críticas — neste caso, voltadas à criação de reservas ambientais — é legítimo e faz parte do jogo democrático. Contudo, o tom do discurso, carregado de expressões como “esquerdista” em contexto pejorativo e acusações de natureza pessoal, remete a um estilo político que teve seu ápice em 2018, mas que vem perdendo eficácia com o passar dos anos. A tentativa de manter o embate em níveis elevados de tensão emocional — apelando a palavras de ordem e narrativas de “nós contra eles” — já não produz os mesmos efeitos de mobilização.

A prova mais emblemática dessa mudança talvez tenha ocorrido nas eleições municipais de 2024. Mariana Carvalho, também do PL, apostou na cartilha bolsonarista, contou com a presença de Jair Bolsonaro em Porto Velho nos momentos decisivos da campanha, mas acabou derrotada por Léo Moraes, do Podemos, cuja proposta de gestão e discurso voltado a resultados práticos se mostraram mais sintonizados com o novo perfil do eleitorado.

Rondônia segue sendo um estado de maioria conservadora, mas ser conservador não significa, necessariamente, aderir a ataques vazios ou a discursos raivosos. A retórica histriônica que ajudou a construir identidades políticas em ciclos anteriores começa a soar, para parte significativa da população, como repetição cansada de um script ultrapassado. O que antes empolgava e arrastava multidões, agora tende a produzir efeito limitado — restrito às bolhas já convencidas.

Sofia Andrade tem legitimidade para criticar políticas públicas, questionar decisões administrativas e defender os interesses de sua base. Mas, ao adotar um tom beligerante e performático, como ao afirmar que “a Europa vem aqui dentro do Brasil levar as nossas riquezas, mas o nosso povo não pode explorar a sua própria”, corre o risco de falar mais aos seus já convertidos do que aos indecisos — justamente os que decidem eleições.

A política local parece, enfim, entrar em um novo ciclo: menos barulho, mais entrega; menos grito, mais plano de governo. O eleitor segue ideológico, mas cada vez mais pragmático. E quem não perceber essa inflexão poderá, como aconteceu com Mariana, acabar nocauteado nas urnas.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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