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EDITORIAL
Tirando o exagero do papo furado de “bullying” por ser muito honesto, Hildon vai bem ao encarar perguntas de Robson Oliveira

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Entre a autodeclaração de virtudes e a estratégia de alianças, Hildon Chaves reafirma a pré-candidatura ao governo, relata o convite a Fúria para vice e diz que não “venderá a alma” para chegar ao poder

Por Informa Rondônia - terça-feira, 26/08/2025 - 15h21

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Porto Velho, RO – Há entrevistas que começam como aquelas dinâmicas de seleção em que o candidato, instado a falar de defeitos, transforma tudo em virtude: “sou metódico demais”, “sou pontual demais”, “sou objetivo demais”. A conversa de Hildon Chaves no Resenha Política, apresentado por Robson Oliveira em parceria com o Rondônia Dinâmica, abre nesse registro — e a imagem que ilustra este texto reforça o clima. O ex-prefeito afirma não “viver da política”, reivindica experiência de gestor e sustenta que sua pré-candidatura ao Governo de Rondônia é irreversível. Ao sugerir que sofre uma espécie de “bullying” por não aceitar certos acordos, o tom subiu um ponto além do necessário; ainda assim, vale reconhecer que o entrevistado coloca a cara, delimita fronteiras e diz a que veio.

Hildon repete que a disputa é irreversível e que não pretende migrar para o Senado. “A minha situação é muito confortável. Eu não tenho absolutamente nada a perder nesse processo”, cravou. No bloco político, descreve articulações em duas frentes: vice e Senado. Conta ter convidado o prefeito de Cacoal, Adaílton Fúria (PSD), para ser seu vice, com uma proposta encadeada: “eu cumpro um mandato, você vai buscar a reeleição e eu vou para o Senado”. Segundo ele, Fúria considerou “um projeto interessante”, sem dizer sim nem não — resposta que o tucano interpretou como negativa. Também relata convite a Sílvia Cristina para compor a chapa ao Senado, apresentado pelo presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, em reunião “na minha casa”. E projeta encerrar definições “em um mês ou dois”, deixando pendentes apenas nominatas de estaduais e federais.

A autodefesa de Hildon passa pelo repertório que a base conhece: oito anos à frente de Porto Velho, pavimentação de “mais de 800 km de ruas” e o argumento de que a educação municipal deixou as últimas posições e chegou ao quinto lugar entre capitais no seu último ano. São dados que o ex-prefeito atribui à própria gestão e que, no mínimo, ajudam a entender seu discurso de “piloto experiente”: “eu governei por oito anos o segundo maior orçamento do estado”. A metáfora do avião — escolher entre quem pilota pela primeira vez e quem já tem horas de voo — organiza o eixo central da candidatura.

O trecho mais ruidoso da entrevista aparece quando ele descreve resistência no meio político: “eu sofro uma espécie de bullying \[…] porque a gente faz a coisa certa e tem determinados acordos que a gente não aceita”. O termo pesa. Não se trata aqui de negar o conflito — o próprio Hildon afirma ter acumulado “muito problema” na prefeitura exatamente por não compactuar com práticas de bastidor. Mas, dito assim, parece aquela resposta de processo seletivo que beira o autoelogio: sofre por ser “honesto demais”. O exagero do enquadramento não invalida o conteúdo — delimitar o que não topa fazer é compromisso que merece registro —, apenas pede freio retórico para não transformar crítica política em narrativa de martírio.

No mapa eleitoral, Hildon rebate a avaliação de que lhe faltaria capilaridade no interior com um cálculo de base: a região Madeira-Mamoré — Guajará-Mirim, Nova Mamoré, Porto Velho, Candeias e Itapuã — representaria “quase 40% do eleitorado”. Diz que já começou a rodar o estado, pondera que as pesquisas talvez ainda não reflitam esse movimento e lembra que, na estreia de 2016, saiu de “1%” para vencer; hoje, cita algo em torno de “11%” em levantamentos estaduais. A leitura de turno também está no script: “o primeiro turno é a paixão, o segundo é a razão”.

A entrevista revisita ainda boatos sobre saída para os Estados Unidos. Hildon classifica a narrativa como “mentira”: “nunca falei que ia embora”, embora reconheça possuir casa no país. Reconta que, em 2020, decidiu não disputar a reeleição pelo desgaste com a máquina pública, mas foi convencido pelo grupo no limite do prazo. Em tom pessoal, atribui ao estresse dois stents: “é por isso que eu coloquei dois stents, de tanta raiva que eu passei”.

No campo programático, o eixo é conhecido: agronegócio como mola do desenvolvimento, com ênfase na industrialização de grãos (milho e soja), produção de ração e processamento de frango. Para isso, insiste em abrir e manter estradas estaduais e vicinais, já que o escoamento coincide com o período chuvoso. A BR-364 surge como gargalo; as vicinais, como tarefa de rotina. Não há promessa empolada: “nós temos que industrializar o que nós temos aqui”. É uma plataforma ancorada no que o próprio entrevistado chama de “experiência concreta” — e é nisso que ele aposta para diferenciar o discurso da promessa prontinha de cada ciclo eleitoral.

Há, no relato, caminhos alternativos explicitados sem dramatização. Por não ter mandato, diz-se “confortável” para, no pior cenário, voltar a disputar a Prefeitura de Porto Velho. Não é ameaça, é cálculo. E ao citar interlocuções com nomes do interior — como Jesualdo Pires —, sinaliza o desenho de uma frente que busca combinar metrópole e polos regionais.

A condução do programa merece nota. Robson Oliveira abriu espaço, fez as perguntas incômodas — inclusive sobre vaidade, sobre preferir governo a Senado e sobre alianças — e manteve o rumo. Para o público, ajuda contar com Rondônia Dinâmica na transmissão de entrevistas de pré-candidatos, oferecendo material bruto para que o eleitorado avalie. É jornalismo: luz acesa, microfone aberto e contraditório em ordem.

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No balanço, o desempenho de Hildon nesta “entrevista de emprego” expõe virtudes com a ênfase de quem pleiteia o cargo e, por vezes, dramatiza o ambiente para reforçar a própria imagem de inflexibilidade ética. Quando diz “se pra eu ser governador eu tiver que vender a minha alma, eu prefiro não ser”, crava uma linha vermelha; quando fala em “bullying”, escorrega no enquadramento. Entre uma e outra, ficam os oito anos de gestão, os 800 km que ele reivindica ter asfaltado, a defesa de políticas estruturantes na educação e o plano de infraestrutura para o agro — pontos que sustentam sua narrativa de competência.

Já o convite a Fúria funciona como senha de realismo político: testar composição com um prefeito competitivo do interior e, de quebra, inserir uma promessa de transição ao Senado após um mandato. Não colou — ao menos por ora —, mas revela método. E a disposição de fechar chapa cedo (“em um mês ou dois”) indica que o PSDB de Rondônia tenta jogar com antecedência no tabuleiro que o próprio entrevistado resume no ditado que aprendeu com o pai: “quem é manco parte cedo”.

Se a metáfora inicial do “sou metódico demais” ajuda a entender o tom, o que interessa ao fim é o histórico que o candidato traz e a coerência entre discurso e prática. Hildon insiste na experiência, reivindica entregas, delimita alianças e admite planos B sem rodeios. O eleitor julgará se isso basta. Por ora, a entrevista cumpre seu papel: expõe o projeto, evidencia as polêmicas e oferece ao público elementos para avaliar — sem precisar, convenhamos, apelar para a lenda do “honesto demais”.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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