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RESENHA POLÍTICA
Marcos Rogério e os riscos da reeleição; Sílvia enfrenta preconceito; Confúcio mestre; e Scheid é a aposta de Bolsonaro

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Cenário político de Rondônia expõe forças e fragilidades de candidatos locais e atravessa dilemas de preconceito e radicalismo

Por Robson Oliveira - quarta-feira, 10/09/2025 - 13h47

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Na coluna Resenha Política desta quarta-feira, 10, o jornalista Robson Oliveira fala sobre a trajetória do governador Marcos Rocha e sua estratégia de continuidade; os riscos da reeleição para o senador Marcos Rogério; as barreiras enfrentadas por Sílvia Cristina diante de preconceitos; a habilidade política de Confúcio Moura; a aposta bolsonarista no novato Bruno Scheid; as derrotas acumuladas de Marina Carvalho; e a reincidência de Márcio Castro Rodrigues nos atos golpistas. A análise também destaca o julgamento no STF, com votos duros de Alexandre de Moraes e Flávio Dino pela condenação de Bolsonaro e divergência de Luiz Fux quanto à competência da Corte, reforçando as tensões políticas que atravessam tanto Brasília quanto Rondônia.

TROPA

Governador Marcos Rocha que sobreviveu politicamente onde tantos caíram. Tem a caneta, a máquina e o selo bolsonarista, o que em Rondônia ainda vale mais do que programa de governo. Sua vantagem é óbvia: fala a língua da maioria conservadora, tem estrutura e pode vender a imagem de “continuidade”. Embora seja um político sem o carisma de tantos que passaram: tem um perfil discreto, sério e distante do populismo fácil. Não é um líder nato, mas aprendeu a comandar uma boa tropa de seguidores leais.

RISCOS

Já o senador Marcos Rogério, provável candidato a reeleição, é o mais radical de todos, mas também o mais articulado. Orador competente, domina o palco e sabe encarnar o personagem bolsonarista sem parecer forçado. Não à toa, lidera todos os cenários até aqui. O problema é manter o fôlego: ser favorito cedo demais é convite para virar alvo de tiro ao alvo coletivo. Todos os concorrentes querem um pedaço do eleitorado que ele monopoliza, sobretudo dentro da própria bolha bolsonarista — e aí mora o risco de sangrar até a reta final.

PRECONCEITOS

Sílvia Cristina é uma deputada municipalista, fez carreira ouvindo prefeitos e puxando verbas para a saúde, sua marca registrada. Começou no PDT, com discurso mais progressista, mas a onda bolsonarista em Rondônia a empurrou para uma inflexão conservadora — cálculo político de sobrevivência. Apesar de ser uma parlamentar atuante, paga caro pelo fato de ser mulher e negra: sofre racismo, sexismo e até agressões absurdas sobre sua vida pessoal. Tem densidade política, mas enfrenta uma muralha de preconceitos que tornam sua escalada ao Senado muito mais árdua do que a de seus colegas homens.

MESTRE

Confúcio Moura foi prefeito de Ariquemes, deputado federal por vários mandatos, governador duas vezes e hoje senador. Um sobrevivente nato. Confúcio é a clássica raposa política: se faz de morto, observa em silêncio, e quando escolhe a presa, vira águia certeira. Embora Rondônia seja majoritariamente bolsonarista, ele tem um trunfo raro: está na ala conservadora do MDB, mas integra a base lulista — equilíbrio improvável que pode transformá-lo em segunda força senatorial em 2026. Matreiro, sim. Mas também competente e correto no que fala e pensa. O tipo de político que ninguém deve subestimar. Um mestre nato da política rondoniense.

NOVATO

O pecuarista Bruno Scheid é um novato de tudo: nunca disputou eleição, não tem tradição partidária e até agora não disse a que veio em termos de propostas para Rondônia. Seu trunfo é único e explícito: é amigo pessoal de Jair Bolsonaro. Joga todas as fichas nessa relação — e Bolsonaro, raivoso como sempre, já declarou que ele será “um dos seus candidatos ao Senado”, parte de sua cruzada para eleger estafetas e se vingar do STF. Scheid é a aposta do bolsonarismo raiz, mas depender só do carimbo de amizade presidencial pode transformá-lo mais em mascote de campanha do que em senador de verdade.

REPETIÇÃO

A filha de Aparício de Carvalho, Marina, carrega no currículo três derrotas em disputas majoritárias, embora tenha votação expressiva na capital. O problema é estrutural: no interior, onde se decidem eleições para o Senado em Rondônia, os concorrentes têm raízes mais profundas e falam a língua do eleitor interiorano. Se insistir em mais uma corrida senatorial, Mariana corre o risco de ampliar a coleção de derrotas. Já numa disputa para deputada federal, o cenário é bem mais favorável: aí sim, o capital político construído em Porto Velho pode se converter em vitória segura. A fama de “cavalo paraguaio” lhe persegue.

REINCIDENTE

Márcio Castro Rodrigues, bolsonarista condenado pelos atos de 8 de janeiro, que cumpria pena alternativa, tentou transformar o 7 de setembro em desafio ao STF e, especificamente, ao ministro Alexandre de Moraes. Com postagens provocativas nas redes sociais e convocação de um protesto em Porto Velho, a estratégia parecia ousada. Mas o que se desenrolou foi o oposto do espetáculo planejado: o ato fracassou e Rodrigues acabou atrás das grades — justamente por ordem de Alexandre de Moraes. A cena reforça que a combinação de arrogância virtual e desrespeito à lei tem consequências concretas, mesmo quando o palco é apenas digital.  No xilindró, e sem rede social, terá tempo para meditar sobre a reincidência criminosa.

JULGAMENTO

O ministro Alexandre de Moraes, relator do processo da tentativa de golpe de estado, foi incisivo em seu voto, defendendo a condenação de Jair Bolsonaro e seus aliados pelos crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Moraes destacou que os atos praticados pelos réus atentaram contra os pilares da democracia brasileira e a ordem constitucional, enfatizando a necessidade de uma resposta firme do Judiciário para preservar a estabilidade institucional. Sua postura reafirma o papel do STF como guardião da Constituição e da ordem democrática.

CONDENAÇÃO

O ministro Flávio Dino acompanhou o voto do relator, Alexandre de Moraes, alinhando-se à tese da tentativa de golpe e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Dino acrescentou, no entanto, uma nuance importante: sugeriu penas diferenciadas para alguns réus, como Paulo Sérgio Nogueira e Augusto Heleno, reconhecendo a menor participação de certos envolvidos nos atos golpistas. Essa abordagem evidencia uma tentativa de balancear a necessidade de punição com a justiça proporcional, refletindo uma visão mais moderada dentro da Corte.

DIVERGÊNCIA

O ministro Luiz Fux, único integrante da Primeira Turma do STF que não sofreu retaliações do governo dos Estados Unidos, tornou-se a última esperança dos defensores de Jair Bolsonaro. Enquanto outros ministros enfrentaram sanções, como o cancelamento de vistos e congelamento de bens, Fux permaneceu intocado, o que reforçou sua imagem como um possível aliado do ex-presidente.

No julgamento, Fux divergiu dos colegas ao votar pela incompetência absoluta do STF para julgar o caso, argumentando que, à época dos fatos, a jurisprudência da Corte estabelecia que a prerrogativa de foro cessava com o término do mandato. Essa posição foi vista por muitos como uma tentativa de proteger Bolsonaro, alinhando-se à narrativa de seus apoiadores de que o julgamento seria politicamente motivado.

Apesar de sua postura, Fux não conseguiu evitar a condenação do ex-presidente. Sua tentativa de influenciar o desfecho do julgamento, no entanto, reforçou a percepção de que o STF está dividido e que pressões externas podem impactar as decisões internas da Corte.

AUTOR: ROBSON OLIVEIRA





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