Deputados de Rondônia votam por esconder crimes atrás do voto secreto; apenas Cristiane Lopes mantém a coerência
Porto Velho, RO – A aprovação da PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados é um retrocesso inaceitável. A proposta restabelece a exigência de autorização do plenário, em votação secreta, para que o Supremo Tribunal Federal possa processar parlamentares. A história mostra a consequência direta dessa regra: quando esteve em vigor após a Constituição de 1988, mais de trezentos pedidos de investigação contra deputados e senadores foram engavetados, inclusive em casos de corrupção, homicídio e tráfico. Nenhum deles avançou. O Parlamento se transformou em muralha contra a Justiça.
É nesse cenário que se destacam Rafael Fera (Podemos) e Coronel Chrisóstomo (PL). Ambos constroem seus mandatos sob o discurso da moralidade e da ética, mas na hora da decisão escolheram a sombra. Votaram para devolver ao Congresso a prerrogativa de salvar colegas acusados de crimes, escondendo-se atrás do voto secreto. É a contradição em estado bruto: quem se proclama guardião da moralidade não pode reforçar o mecanismo mais antigo e eficaz da impunidade política brasileira.
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Não se trata de defender imunidade para opiniões, palavras ou votos proferidos na tribuna — tema legítimo e digno de debate. O que a PEC promove é a blindagem de crimes comuns, sem limite de gravidade, submetendo-os ao crivo corporativo dos pares, fora do alcance da transparência. Trata-se de institucionalizar o conluio, afastando a sociedade do direito de saber como seus representantes se comportam diante da corrupção, do homicídio ou do tráfico.
Ao aprovarem a proposta, Rafael Fera e Coronel Chrisóstomo não apenas traíram o discurso que carregam, mas também expuseram Rondônia ao vexame de ser cúmplice de um mecanismo que fragiliza a democracia. Os demais deputados da bancada que votaram a favor — Dr. Fernando Máximo, Maurício Carvalho, Lúcio Mosquini e Sílvia Cristina — compartilham da responsabilidade pelo retrocesso, ainda que não sustentem a retórica moralista dos dois primeiros.
Em contrapartida, a postura de Cristiane Lopes (União Brasil) merece registro. Única da bancada a votar contra a PEC nos dois turnos, sua posição reafirma um princípio básico: imunidade não é sinônimo de impunidade. Não se trata de bravura, mas de coerência, qualidade rara num plenário onde prevaleceu o instinto de autoproteção.
O texto segue agora para o Senado, que terá a chance de corrigir o erro e impedir que a Constituição seja novamente usada como abrigo para criminosos travestidos de parlamentares. Resta à sociedade acompanhar e cobrar, porque o eleitor vota de forma aberta — e, ao contrário dos deputados, não tem medo de mostrar sua escolha.
