Censura revertida contra site Joio e Trigo, PEC da Bandidagem em queda no Senado e deputados de Rondônia sob críticas
Na coluna Resenha Política desta quarta-feira, 24, o jornalista Robson Oliveira fala sobre a censura judicial que tentou calar reportagem do site Joio e Trigo sobre o senador Jaime Bagattoli, depois revertida pelo Tribunal de Justiça de Rondônia; aborda a repercussão da PEC da Bandidagem, aprovada na Câmara, rejeitada nas ruas e com sinais de naufrágio no Senado, evidenciando a postura desconectada da maioria da bancada rondoniense; comenta a entrevista do prefeito Léo Moraes, que nega compromissos firmados para as eleições de 2026, em contraste com declarações do deputado Fernando Máximo; destaca o desembargador Alexandre Miguel, cotado para a presidência do TJRO; observa o senador Marcos Rogério reavaliando se disputa a reeleição ou o governo; analisa os movimentos do deputado Delegado Camargo rumo ao Senado; registra a pré-candidatura de Adailton Fúria em meio a dificuldades de tração política; e encerra com as apostas eleitorais que começam a redesenhar o tabuleiro em Rondônia.
PESADELO
A censura imposta ao site Joio e Trigo foi uma dessas decisões judiciais que cheiram a curral fechado. Impedir a imprensa de noticiar suposta relação de empresas de gado com o senador Jaime Bagattoli é mais que um erro jurídico — é um atentado contra o ar fresco da democracia. Parece que alguns ainda sonham com a velha porteira trancada, onde só entra a versão oficial.
LEMBRANDO
Felizmente, o Tribunal de Justiça de Rondônia corrigiu a censura, liberando a reportagem. Foi um tapa de luva contra o autoritarismo e em defesa da liberdade de imprensa . Nada mais constrangedor do que a Justiça ter de lembrar a si mesma que censura prévia é coisa de ditadura, não de República. A famigerada Lei de Impresa é lembrança pra o lixo da história.
MORDAÇA
Para Bagattoli, o estrago está feito. A tentativa de amordaçar a imprensa só reforça o estigma de quem não tolera o contraditório. No fim, mais do que o gado, foi a própria reputação política que entrou na linha de abate. A pergunta que fica: será que o senador aguenta a transparência, ou prefere continuar tentando vender silêncio como se fosse boi no leilão?
VESPEIRO
Até ontem eu não havia me detido sobre os fatos nem lido a reportagem que tanto incomodou a família Bagattoli em Vilhena. Fiz isso agora, com a devida atenção, e constato: o texto assinado pela colega Bruna Bronoski, publicado no Joio e o Trigo, é jornalismo do bom, daqueles que cutucam vespeiro e expõem desconfortos.
FAREJANDO
Não é à toa que tentaram calá-lo pela via judicial — quando a família poderosa se remexe, é porque a pedra no sapato incomoda. A censura, felizmente revertida, apenas acrescenta molho à história. E esta coluna, como não foge de briga, promete: vai destrinchar o caso em breve. Afinal, onde há tanto esforço para esconder, quase sempre sobra pasto fértil para farejar coisa malcheirosa.
BLINDAGEM
A Câmara dos Deputados, em mais um daqueles momentos que fazem a política parecer uma casa de horrores, aprovou a PEC da blindagem parlamentar, apelidada carinhosamente de PEC da Bandidagem. Mas a festa ainda não acabou: após as manifestações espontâneas do último domingo, que pintaram ruas e redes de repúdio à iniciativa, o Senado já sinaliza que vai barrar a proposta. Uma derrota anunciada para deputados que acreditavam que poderiam legislar à margem do bom senso e da opinião pública.
REAÇÃO
Domingo foi dia de teste de popularidade para os congressistas: cidadãos comuns tomaram as ruas em protesto contra a PEC que buscava transformar o Congresso em um bunker jurídico para parlamentares. Cartazes, buzinaços e redes sociais em chamas mostraram que, por mais que se tente, o eleitorado ainda não está disposto a aceitar a impunidade institucionalizada. A política nacional ganhou mais um lembrete ácido: a população percebe e reage quando a “blindagem” passa do limite.
ESCÁRNIO
Enquanto deputados comemoravam a aprovação como se tivessem conquistado algum feito heroico, as manifestações mostraram que a sociedade não está para folia: o que era para ser vitória virou escárnio.
CONTRASTE
AS ÚLTIMAS OPINIÕES
A PEC da Bandidagem deve naufragar no Senado, mas não sem deixar claro o contraste entre o Congresso que legisla para si e uma população que exige, com força, respeito à lei e à ética. A ironia do episódio é tamanha que até o mais cinismo parlamentar parece modesto diante do humor ácido da rua.
IRRESPONSABILIDADE
Enquanto a população se manifestou nas ruas repudiando a PEC da Bandidagem, a maioria dos deputados federais de Rondônia resolveu dar um show de desconexão com a realidade. Votaram a favor da proposta como se blindar a própria impunidade fosse prioridade maior do que qualquer compromisso com o eleitor. É o típico gesto de quem confunde mandato com carteirinha VIP de proteção política, numa demonstração que beira a irresponsabilidade pública.
INDIFERENTES
As manifestações do último domingo deixaram claro que Rondônia não é apenas um mapa político, mas também uma sociedade que observa e julga. Enquanto cidadãos comuns gritam contra a PEC, a maioria dos deputados federais do estado se alinha à excrescência, como se ignorar a ética e o clamor popular fosse natural. Um contraste doloroso: de um lado, ruas cheias de indignação; do outro, cadeiras vazias de sensibilidade política.
BOLHA
Nossa bancada federal, com raríssimas exceções, parece viver em uma bolha extrema, totalmente desconectada da realidade do estado. Entre discursos vazios e votos em favor de interesses próprios — como a PEC da Bandidagem — fica claro que muitos deputados só habitam o Congresso em Brasília, enquanto Rondônia pulsa nas ruas e nas demandas do cotidiano. Aqueles que não conseguirem se reeleger não farão falta, nem serão lembrados no futuro; o estado seguirá adiante, sem saudade de quem preferiu blindar a própria impunidade em vez de servir à população. Nossas demanda são enormes, mas nossa bancada, presa na bolha, faz que não enxerga. Em 2026, ano eleitoral, é uma ótima oportunidade para furar este Milius.
DESCONVERSANDO
Na próxima terça-feira, no podcast Resenha Política, ancorado por este cabeça-chata, o prefeito da capital, Léo Moraes, em entrevista já gravada, contradiz declarações feitas na semana passada pelo deputado federal Fernando Máximo sobre a união dos grupos políticos em torno das eleições do ano que vem. Segundo Léo Moraes, ainda não há nenhum compromisso firmado para as eleições majoritárias de 2026. Há conversas, mas compromissos, ainda, não.
JUDICIÁRIO
Também entrevistamos o desembargador Alexandre Miguel, atualmente à frente da Escola da Magistratura, que destacou, entre outras ações, a qualificação dos quadros do Tribunal de Justiça com novas ferramentas de Inteligência Artificial. Pela linha sucessória historicamente adotada pelo TJ, deverá ser o próximo presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia. Além de magistrado respeitado por todos os operadores do direito rondoniense, Alexandre Miguel é membro da Academia Rondoniense de Letras, demonstrando, com elegância, que sabe manejar a pena tanto na poesia quanto na sentença.
RADAR
O senador Marcos Rogério (PL), que anunciou no nosso podcast, no mês passado, a intenção de disputar a reeleição, pode reconsiderar e se lançar candidato do PL ao governo. Embora ainda não tenha declarado publicamente, ele tem avisado em conversas reservadas que a possibilidade de disputar o cargo voltou ao seu radar.
TAPETE
Se a hipótese se confirmar, estaremos diante da primeira rachadura no tal “grupo unido” que Fernando Máximo jurou existir em entrevista ao podcast Resenha Política. Duas candidaturas ao governo com o mesmo perfil — Marcos Rogério e o próprio Máximo — são o presente dos sonhos para os adversários. A matemática é simples: um deles, inevitavelmente, não passa ao segundo turno. Máximo terá de olhar no espelho e refletir. Afinal, é o único sem partido próprio, sem uma sigla para chamar de lar. O caminho natural seria uma guinada para o Senado, onde, paradoxalmente, suas chances são maiores. No fim, não seria novidade: o tapete de Máximo sempre acaba mais curto do que o tamanho de seu nome.
RAIZ
O deputado estadual Delegado Camargo transformou-se no mais barulhento representante da direita raiz em Rondônia. Usa a tribuna da Assembleia como palanque permanente para seu arsenal de discursos inflamados, sempre pintando o país dividido entre progressistas e conservadores. Curiosamente, é também o que mais bate no governo estadual, embora compartilhem praticamente a mesma cartilha ideológica. Agora, o Podemos pressiona Camargo a disputar o Senado, o que só serviria para pulverizar ainda mais as candidaturas do mesmo campo político. Não espanta que ele consiga incomodar os nomes de “primeiro escalão”. Espanta seria vencer — por enquanto, essa possibilidade ainda é uma miragem que ele parece enxergar. Embora as dificuldades sejam enormes, subestimar sua peroração é temerário.
GASOLINA
Os pré-candidatos ao governo já fazem suas apostas: Adailton Fúria (PSD), prefeito de Cacoal, dificilmente alcançará os concorrentes com a mesma velocidade de combustão que imagina ter para explodir em apoio popular. Sua candidatura, até aqui, parece mais um carro flex rodando na reserva. Se a gasolina acabar no meio da estrada — o que é bastante provável — restará ao prefeito aproveitar a experiência e abrir um posto de combustíveis. Ao menos, clientela não faltará: a política rondoniense é especialista em queimar combustível à toa.
