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ESPAÇO ABERTO
Amizades de alta altitude: quando o poder decola de jatinho

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Entre caronas milionárias, cafés ao amanhecer e gestos caridosos, a política rondoniense segue em voo de cruzeiro rumo às eleições.

Por Cícero Moura - quinta-feira, 25/09/2025 - 08h09

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Na coluna Espaço Aberto desta quinta-feira, 25, o jornalista Cícero Moura fala sobre a mistura de ostentação e política que ganha os céus de Rondônia, desde jatinhos emprestados e prefeitos em voos de conveniência até o senador Confúcio Moura, que compartilha sua rotina matinal de café preto nas redes sociais. A coluna aborda também o deputado Fernando Máximo, que utiliza aparições caridosas registradas em vídeo como vitrine pública, em um cenário em que a proximidade das eleições transforma gestos pessoais em estratégias políticas cuidadosamente calculadas.

OSTENTAR

No Brasil, política e ostentação são como arroz e feijão. Combinação clássica, inseparável e, vez ou outra, indigesta.

DE BRASÍLIA

A mais recente receita desse banquete de escândalos vem do noticiário envolvendo ninguém menos que o presidente nacional do União Brasil, que teria usado o nome de um político de Rondônia para comprar três jatinhos.

GRANDE AMIGO

Isso mesmo, três. Um para cada necessidade: ir à padaria, ao Congresso e, claro, ao paraíso das alianças políticas.

AMIZADE LEAL

Mas não sejamos maldosos. Deve ter sido apenas um gesto de confiança entre amigos.

CONFIÁVEL

Afinal, quem nunca emprestou o nome de um colega para uma transação multimilionária envolvendo aeronaves? É como pedir o CPF emprestado para fazer um Pix, só que com asas e turbinas.

NOSSO ESTADO

E não para por aí. Em Rondônia, a política tem ganhado os ares – literalmente. Parece que viajar de jatinho virou o novo símbolo de status entre os aspirantes ao poder.

PELO INTERIOR

Dia desses, um pré-candidato ao governo estadual foi visto posando com a esposa em frente a uma aeronave “emprestada”.

SÓ GENEROSIDADE

Emprestada por um empresário, claro, cuja generosidade não tem absolutamente nada a ver com interesses políticos.

ELO PODEROSO

Afinal, a amizade é uma força misteriosa, poderosa e, quando convém, bastante lucrativa.

ESTÁ PREFEITO

Esse mesmo político, aliás, ocupa atualmente o cargo de prefeito. Mas quem disse que ser prefeito impede alguém de sonhar alto – ou voar mais alto ainda?

CORRERIA NOS BASTIDORES

Enquanto seus assessores se viravam nos trinta para explicar a origem da tal carona aérea, ele sorria tranquilo para as câmeras, provando que no Brasil não há turbulência que derrube um político com amigos influentes e empresários bem-intencionados.

SEM LIMITES

A real é que, com a eleição se aproximando, o céu é o limite para a criatividade e os agrados.

MOTIVOS JUSTIFICÁVEIS

Aviões, helicópteros, jantares finos, viagens para discutir o futuro da pátria em resorts de luxo – tudo em nome da democracia, claro.

CHUPANDO PIRULITO

O eleitor? Esse pega carona na esperança, enquanto os caciques políticos seguem decolando em seus jatinhos, custeados por amizades generosas e “negócios” que não interessam a ninguém, exceto aos diretamente envolvidos.

APURAÇÃO

Mas fiquemos tranquilos. Tudo será devidamente investigado – depois das eleições, talvez. Por enquanto, é importante manter as aparências e as turbinas ligadas.

ESPAÇO AÉREO

Há muito céu para voar e muito voto para conquistar. E, como todos sabemos, nada diz “compromisso com o povo” como um político pousando de Ray-Ban em uma pista particular no interior de Rondônia.

APROXIMANDO

É só o começo. Preparem-se: vem muito mais pela frente. Ou melhor, por cima.

BEBIDA DOS DEUSES

Há políticos que acreditam que um bule de café é capaz de dissolver a distância entre o Olimpo do poder e a cozinha da dona Maria.

SENADOR

Dias desses, o senador Confúcio Moura — ele que respira a liturgia do cargo e circula pelos salões acarpetados de Brasília — resolveu brindar seus seguidores com uma cena digna de comercial de margarina.

AFAZERES

Lá estava ele, em plena rede social, preparando um “delicioso café preto”. Que singeleza, que mortalidade, que espetáculo cuidadosamente espontâneo.

ROTINA

Disciplinado, Confúcio acorda às 4h30 da manhã. Sim, você leu certo: quatro e meia.

ROTINA 2

Enquanto metade do Brasil ainda está brigando com o despertador ou sonhando com um contracheque menos cruel, Sua Excelência já está de pé, passando um café fresquinho e preparando-se para mais um dia de labuta hercúlea.

EXEMPLO

O homem é praticamente um monge da política — só que com gabinete climatizado, motorista e salário de seis dígitos.

ROTEIRO

O roteiro é de dar inveja a qualquer aplicativo de produtividade: café preto (claro, feito com as próprias mãos para mostrar que é mortal), academia para manter o físico invejável, caminhada para oxigenar as ideias, mergulho na piscina para lavar a alma… e então, revigorado, parte para “enfrentar as demandas gigantescas da política”.

CAMPEÃO

Quem precisa de maratona quando se tem um senador que já venceu a corrida da rotina perfeita antes mesmo do sol nascer?

LEMBRANÇA

É curioso como, de tempos em tempos, certas excelências descobrem a genial estratégia de parecerem gente como a gente.

BENEVOLENTE

Já o deputado Fernando Máximo, aparentemente, não faz café, mas usa as mãos para ajudar na cura de eleitores menos abastados e sem possibilidades de um atendimento justo na saúde pública.

EXEMPLO

É muita bondade em um único coração. Olhando os vídeos comoventes nas redes sociais, quase nem se percebe que ali está um político faminto por votos. O que se vê é uma alma caridosa que não liga nenhum pouco para a contrapartida eleitoral.

OPINIÃO

Fernando Máximo deve acreditar que inventou a roda da caridade: aparece sorridente ao lado de pessoas humildes, entrega uma cesta básica ou um remedinho aqui e ali, tudo milimetricamente registrado em foto e vídeo, claro, porque bondade sem like e voto não enche o tanque da vaidade.

OPINIÃO 2

No fim, a cena parece menos solidariedade e mais campanha antecipada disfarçada, como se a miséria fosse cenário e o povo, figurante da peça eleitoral cujo protagonista já ensaia o palanque para o ano que vem.

FRASE

Há quem vista a máscara da simplicidade para esconder a ambição de poder – e muitos aplaudem sem notar o truque.

AUTOR: CÍCERO MOURA





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