Ações da Polícia Civil, Vigilância Sanitária e governo estadual resultaram em apreensões de garrafas, suspensão de estabelecimentos e investigações sobre mortes e casos de intoxicação
Porto Velho, RO – Um bar na Mooca, em São Paulo, foi interditado na terça-feira (30) durante ação conjunta da Polícia Civil e da Vigilância Sanitária. No local, foram apreendidas garrafas de bebidas destiladas que passarão por perícia da Polícia Científica para verificar possível presença de metanol. A Secretaria Estadual da Saúde confirmou a interdição. O dono do bar, José Rodrigues, prestou depoimento e declarou: “Não sei se a vodca é falsa. No meu comércio nunca entrou. Fiquei triste que o laudo saiu hoje”. Ele também confirmou a compra de bebidas de um distribuidor de rua, afirmando: “Bebida quente é difícil comprar. A gente compra diretamente desses caras que vendem na rua, mas são conhecidos”.
A Vigilância Sanitária informou que o estabelecimento poderá responder a processo administrativo, com penalidades que variam de multa até interdição. A Polícia Civil apura se há ligação entre os produtos vendidos e mortes suspeitas por intoxicação no estado.
Na quarta-feira (1º), a fiscalização avançou sobre distribuidoras de destilados. Ao todo, 128 mil garrafas de vodca foram recolhidas em Barueri, na Grande São Paulo. Três distribuidoras que forneciam bebidas ao bar Ministrão, localizado no bairro dos Jardins, também foram interditadas. A Secretaria da Fazenda determinou que os lotes só serão liberados após apresentação de documentação. Segundo o governo estadual, seis estabelecimentos foram interditados cautelarmente na capital e na região metropolitana.
Entre os locais atingidos, dois endereços na Bela Vista, na região central de São Paulo, pertencentes à mesma distribuidora, tiveram atividades suspensas. Em Barueri, a GRF Distribuidora foi alvo de apreensão de lotes, e outra empresa, a Brasil Excellance Comercial e Exportadora de Bebidas, não estava mais em operação. Em nota, a GRF informou que colaborou com a polícia e com a Vigilância Sanitária.
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Casos confirmados e suspeitos continuam sendo monitorados. O governo estadual informou a existência de dez confirmações de intoxicação por metanol e outros 27 casos em investigação. Até o momento, uma morte foi confirmada em decorrência do consumo de bebida adulterada, enquanto outras cinco seguem em análise. Entre as vítimas, está o advogado Marcelo Lombardi, de 45 anos, que morreu após parada cardiorrespiratória e falência de múltiplos órgãos.
Uma designer de interiores, Radharani Domingos, de 43 anos, perdeu a visão após consumir caipirinhas em um bar nos Jardins. Ela relatou que os sintomas surgiram após uma comemoração: “Bebi três caipirinhas de frutas vermelhas com maracujá e vodca. Causou um estrago bem grande. Não estou enxergando nada”. A irmã dela, Lalita Domingos, afirmou que ainda não há previsão de alta hospitalar.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública emitiu uma recomendação a bares, restaurantes, hotéis, mercados, aplicativos de entrega e outros estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas. O documento orienta atenção a lacres danificados, erros de impressão nos rótulos, preços muito abaixo do normal e sintomas como dor de cabeça, náusea e visão turva, que devem ser tratados como indícios de adulteração.
Além disso, autoridades de saúde investigam se os casos recentes em São Paulo estão relacionados à contaminação deliberada ou falha no envase. Segundo o médico norueguês Knut Erik Hovda, que atua em surtos internacionais pela organização Médicos Sem Fronteiras, a disseminação de informações rápidas à população é fundamental. Ele explicou que os sintomas podem demorar a aparecer, tornando difícil a percepção imediata do risco. “É importante divulgar a informação [sobre os casos de contaminação] para as pessoas. E mensagens como: tenha cuidado com o que você bebe ou procure um posto de saúde se você sentir sintomas”, afirmou.
O tratamento inclui o uso controlado de etanol farmacêutico, aplicado em centros de referência. Em alguns casos, outro antídoto, o fomepizol, é utilizado, mas seu custo elevado limita a disponibilidade. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, declarou que o governo brasileiro avalia criar uma reserva estratégica para garantir o acesso ao medicamento.