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RESENHA POLÍTICA
Problemão fundiário; purgatório político de Bolsonaro; e a bancada rondoniense está omitindo a farra

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Temas fundiários, veto presidencial, movimentos políticos locais e articulações eleitorais marcam os destaques da coluna de Robson Oliveira

Por Robson Oliveira - quarta-feira, 01/10/2025 - 10h19

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Nesta quarta-feira, 01, o jornalista Robson Oliveira aborda a crise fundiária do Projeto Burareiro e o processo de desintrusão em terras indígenas, a forte reação política à decisão judicial, o veto do presidente Lula à mudança na Lei da Ficha Limpa, a polêmica envolvendo o prefeito de Ji-Paraná em evento do PL Mulher, a aparição de Bruno Schaid com o selo de Michele Bolsonaro, o enfraquecimento da bolha bolsonarista, a aprovação de bilhões para partidos em 2026 pelo Congresso, a manutenção de oito cadeiras federais para Rondônia pelo STF, os planos do governador Marcos Rocha para um novo hospital em Porto Velho e a repercussão da entrevista do prefeito Léo Moraes no podcast Resenha Política.

BURAREIRO

No fim da década de 70, com os programas de colonização militar em Rondônia, o governo decidiu despejar multidões de colonos vindos do Sul e Sudeste. Resultado? Quatro décadas depois, um problemão fundiário. O projeto Burareiro, por exemplo, assentou famílias em cima de terras indígenas uru-eu-au-au — exatamente no território “sagrado” da etnia, onde repousam os ancestrais. Planejamento de Estado digno de piada de mau gosto.

DESINTRUSÃO

Na época, os povos originários eram ignorados solenemente pelos governos e não existiam as normas protetivas atuais. Agora, caberá ao Judiciário ordenar a desocupação. O Incra, numa tentativa de lavar as mãos, argumenta que o cacau previsto para o projeto foi trocado pela pecuária. Como se a troca de cultura fosse o problema central. O ponto não é o gado nem o cacau, é a ilegalidade pura e simples: a área é indígena e nunca poderia ter virado assentamento.

GRITARIA

A reação política contra a desintrusão é enorme — e compreensível pelo tempo decorrido. Mas, convenhamos, gritaria não legaliza invasão. Terra indígena é terra indígena, ponto final. Podem berrar até ficarem roucos, mas os cinco municípios que englobam a área terão de engolir a desocupação.

VETO

Como esta coluna já previu, Lula vetou a gambiarra que afrouxava a Lei da Ficha Limpa. Sepultou, de vez, as esperanças dos fichas-sujas voltarem às urnas. Em Rondônia, o veto atinge nomes conhecidos: Ivo Cassol, Acir Gurgacz, Natan e Marcos Donadon, entre outros. A turma que adora posar de vítima agora vai ter que se contentar com a biografia.

LOROTA

A direita histérica resolveu bater no prefeito de Ji-Paraná, Afonso Cândido, porque ele não foi ao palco armado pelo PL Mulher para receber Michele Bolsonaro. Normal. Seria estranho se não reclamassem. O prefeito, com razão, parece preferir quatro anos resolvendo problemas locais a posar de figurante no evento. Quanto à “ingratidão” que tanto falam, olhando o palco armado, o que não faltava era ingrato — o festival da infidelidade pululava. O resto é lorota.

PL

Michele Bolsonaro, a estrela do evento, arrastou liberais (especialmente mulheres), mas a festa não “estourou a boca do balão” como prometido. Quem saiu momentaneamente no lucro foi Bruno Schaid, pré-candidato a senador pela graça e ordem da família Bolsonaro.

OBSCURO

Bruno Schaid, até ontem ausente do noticiário, ganhou o carimbo de Michele. Mas segue o mistério: o que, afinal, liga o rapaz ao clã Bolsonaro? Por enquanto, só os bastidores obscuros sabem.

BOLHA

Não é preciso ser filósofo para notar que a bolha bolsonarista começa a esvaziar. Com a sentença de Jair prestes a transitar em julgado, ele ficará fora da disputa. E o brasileiro, sabemos, esquece rápido. Resta, ainda, um eleitorado conservador expressivo, mas muitos já flertam com o “centro”, esse purgatório político onde ninguém se assume, mas todo mundo se salva.

ESCÁRNIO

O Congresso não tem limites. Depois de aliviar leis que ajudam o crime organizado, aprovou cinco bilhões para os partidos torrarem em 2026. Sim, bilhões, com B de bufunfa. A bancada rondoniense, gastadora contumaz, votou a favor e correu para as redes sociais com cara de pau, omitindo a farra. Enquanto isso, hospitais seguem na idade da pedra. É a política brasileira: champagne para as campanhas, soro vencido para os doentes.

BANCADA

O STF decidiu: Rondônia continua com oito deputados federais em 2026. Melhor assim, porque havia risco de cair para sete. Aliás, diante da baixíssima produtividade dos nossos parlamentares, a redução não seria um castigo, mas um favor ao contribuinte.

HOSPITAL

O governador Marcos Rocha prepara o terreno para pavimentar com mais solidez sua candidatura ao Senado. Não por acaso, escolheu atacar um dos maiores gargalos de sua gestão: a saúde pública. Rocha acelera as tratativas para adquirir uma grande estrutura em Porto Velho, onde pretende instalar o novo hospital de pronto-socorro em substituição ao combalido João Paulo II — unidade que, há décadas, simboliza a falência do sistema estadual.

XEQUE

A jogada é cirúrgica: três governadores prometeram erguer um “novo João Paulo” e fracassaram. Rocha também prometeu, e tudo indicava que seria apenas mais um no rol dos que alimentaram ilusões. Se entregar, entretanto, dará um xeque-mate político. O eleitor, cansado de promessas vazias, tende a esquecer os tropeços do passado e agradecer o gesto concreto.

OXIGÊNIO

Um hospital moderno, capaz de oferecer atendimento digno, tem peso eleitoral muito maior do que qualquer propaganda. Ao trocar corredores e chão superlotados por leitos reais, Rocha não apenas socorre pacientes: injeta oxigênio em seu futuro político. Fracassando, o Senado fica mais distante.

PODCAST

Repercutiu positivamente a entrevista do prefeito da capital concedida a este cabeça-chata no podcast Resenha Política. Sem rodeios, Léo Moraes deixou claro que não pretende ficar em cima do muro em 2026. Disse ainda não ter decidido quem apoiar ao governo, embora tenha distribuído elogios a quase todos os pré-candidatos. Elogios, aliás, sem direito a piscadela para ninguém. Bem avaliado na gestão, Moraes se dá ao luxo de ser cortejado por todos — e quanto mais ele nega, mais aumenta a fila de pretendentes. Política, como sempre, é jogo de sedução.

AUTOR: ROBSON OLIVEIRA





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