Atlas Aerogeofísico do SGB revela áreas estratégicas de minérios em Rondônia, confirma potencial do manganês de Espigão do Oeste e detalha prospecções históricas que sustentam faturamento bilionário do setor mineral.
Nesta sexta-feira, 03, o jornalista Montezuma Cruz aborda a relevância histórica e atual da mineração em Rondônia, destacando o novo Atlas Aerogeofísico do Serviço Geológico do Brasil (SGB), que mapeia minérios e metais no estado. O levantamento confirma a importância da cassiterita, registra a presença de diamantes na região do Roosevelt, detalha reservas de manganês de alta pureza em Espigão do Oeste e resgata o histórico de garimpos de ouro dos rios Madeira e Mamoré. O documento técnico descreve ainda os domínios magnéticos que estruturam o subsolo rondoniense, aponta investimentos privados e públicos, e mostra como a atividade mineral segue movimentando bilhões, consolidando Rondônia como uma das principais províncias minerais do País desde sua criação legal em 1969.
Chumbo, cobre, manganês, zinco e diamantes: muito antes da onda do agro, Rondônia já era considerada por lei uma imensa província mineral. Agora, o Atlas Aerogeofísico do Serviço Geológico do Brasil (SGB) identifica as principais áreas com minérios e metais no estado maior produtor de estanho (cassiterita) no País. O próprio diamante, cujas pedras deixam a região do Roosevelt contrabandeadas, já é conhecido no mundo dos negócios na Europa e Oriente Médio.
Ao mesmo tempo em que estudou o desenvolvimento da atividade aluvionar de diamantes em regiões do estado, o SGB (ex-Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais-CPRM) apontou diversos corpos kimberlíticos em três grandes campos majoritariamente localizados.
Mesmo com dificuldades na fiscalização, o setor mineral ofereceu ao estado um faturamento superior a R$ 3 bilhões em 2023, informa a Secretaria de Finanças.
Rondônia possui dois domínios magnéticos principais individualizados por um lineamento que atravessa longitudinalmente o estado, de direção aproximada leste a oeste. Tal lineamento separa o Complexo Jamari e a Suíte Intrusiva Serra da Providência da Bacia dos Parecis, Suite Intrusiva Cerejeiras e Complexo São Felipe, Formação Palmeiral e coberturas sedimentares cenozoicas. Já o diamante, há décadas se sabe, concentra-se na região do Roosevelt.
FIERO e governo conhecem
Durante a década de 1980 também funcionaram diversos garimpos de ouro aluvionar ao longo do curso dos rios Madeira e Mamoré, e outros de ouro associado a veios de quartzo em Colorado do Oeste, Corumbiara e Tarilândia. No entanto, eles tiveram curto período de atividade, à exceção das dragas para extração de ouro aluvionar no Rio Madeira.
Conforme publica o Atlas Aerogeofísico, novas ocorrências são descritas por trabalhos do SGB, ou por empresas de iniciativa privada, em commodities.
Após a pandemia da covid-19, a Federação das Indústrias do Estado de Rondônia e o Observatório Econômico do governo estadual avaliavam a comercialização do minério de estanho (cassiterita) em US$ 13,4 milhões, enquanto na forma bruta ele totalizava US$ 45,6 milhões. Em 2021, quatro anos antes do novo ataque a balsas no Rio Madeira, o ouro – principal ativo metal, – alcançava US$ 36,6 milhões em formas semimanufaturadas.
O Atlas Aerogeofísico do SGB necessitou de partes de sete diferentes projetos que foram unidos em uma única malha conforme os limites do estado. “Esta tarefa implicou a necessidade do reprocessamento e nivelamento dos dados brutos, e aplicação de filtros para enfatizar assinaturas anômalas”, assinala o documento.
Explicações técnicas
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De acordo com a equipe de geólogos do SGB, uma das principais finalidades do uso de dados magnetométricos é localizar e definir a geometria de corpos de minério. “Só com uma extensa cobertura de dados magnetométricos é possível descobrir novas jazidas de minerais metálicos. De acordo com Isles e Rankin (2013), sem os extensos levantamentos magnetométicos realizados na Austrália e Canadá grandes minas de classe mundial não teriam sido encontradas”, explica o documento.
Essa divisão de domínios magnéticos também se reflete nos dados gamaespectrométricos. Nestes últimos também são observadas, sobretudo, formas circulares ou elípticas alongadas decorrentes de sua correlação com intrusões de rochas com composição granítica.
Manganês puro
Espigão do Oeste (leste de Rondônia) possui áreas de manganês, cuja qualidade ultrapassa 50% o teor de pureza do minério de manganês das jazidas pesquisadas pela Brazil Manganese Corporation (BMC) em Espigão do Oeste, Rondônia.
A reserva de origem hidrotermal nesse município tem apenas uma similar no mundo: a mina de Woodie, na Austrália. A BMC investiu R$ 12 milhões na modernização de sua planta, apurou este repórter em 2016.
Onde foram feitas prospecções
Os dados aerogeofísicos do Estado de Rondônia foram levantados em sete projetos: 1) Sudeste de Rondônia (Lasa Engenharia e Prospecções, em 2006); 2) Rio Machado (a mesma empresa, em 2009); 3) Rondônia Central (Lasa, em 2010); 4) Sudoeste de Rondônia (Prospectors Aerolevantamentos e Sistemas, em 2010); 5) Japuíra (Lasa Prospecções, em 2014); 6) Rio Branco-Machadinho (Lasa), em 2015; e 7) Rio Madeira-Ituxi (Prospectors), em 2015).
“Estes projetos levantaram perfis magnetométricos do campo magnético total e gamaespectrométricos de alta densidade, com linhas de voo e de controle espaçadas de 500 metros e 5.000m, orientadas nas direções N-S e E-W, respectivamente. A altura de voo foi fixada em 100 m acima do terreno”, relata o Atlas.
A pesquisa utilizou aeronaves equipadas com magnetômetro e gamaespectrômetro, posicionadas pelo sistema de observação de satélite GPS com precisão de 1 m. O magnetômetro com sensor de vapor de césio foi montado na cauda da aeronave (tipo Stinger)
As medidas foram realizadas a cada 0,1s o que equivale, dependendo da velocidade média da aeronave a uma medida a cada 7,7m. O gamaespectrômetro com detectores de cristais de iodeto de sódio (NaI) realizou a análise individual e precisa dos fototipos de potássio, equivalente tório (eTh) e equivalente urânio (eU). As medidas foram efetuadas a cada 1s, representando medições a intervalos médios de amostragem de aproximadamente 77m.
RAZÕES HISTÓRICAS
- O Decreto nº 64.590, de 27 de maio de 1969 (Decreto-Lei nº 1.101, de 27 de maio de 1969) estabelece a criação da Província Estanífera de Rondônia pelo Decreto nº 64.590 e a define a área territorial pelo Ministro das Minas e Energia.
- O Decreto-Lei nº 1.102, de 30 de março de 1970 estabelece um regime especial para o comércio de cassiterita (o minério de estanho) na Província Estanífera de Rondônia.
- O livro “Território dourado” (Imediata, 2024) deste repórter, descreve os garimpos de ouro Topless e Serra do Touro, na região sul do estado.
- Os primeiros recursos minerais a serem explorados sistematicamente no estado foram as mineralizações associadas com estanho aluvionar, seguidas posteriormente pela exploração de mineralizações primárias associadas à Suíte Intrusiva Rondônia, que remetem a meados do século XX.
- Esses recursos, além de outros associados a estas mineralizações (Nb, Ta, W), são explorados até os dias atuais por mineradoras e cooperativas garimpeiras.
