Locomotiva 18 volta a apitar no aniversário de 111 anos da capital com protagonismo de Paulo Moraes Júnior e Aleks Palitot no resgate histórico
Porto Velho, RO – Porto Velho amanheceu nesta sexta-feira, 3 de outubro de 2025, ainda sob o impacto do dia anterior. O aniversário de 111 anos da capital não foi apenas mais uma data no calendário oficial: tornou-se o marco de um reencontro coletivo com a história da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), patrimônio que moldou a identidade local e que, por décadas, esteve relegado ao abandono por gestões anteriores. Desta vez, no entanto, a locomotiva voltou a andar.

O apito da “Barão do Rio Branco” ecoou sobre os trilhos do Complexo Madeira-Mamoré, emocionando ex-ferroviários, moradores e visitantes. O feito não se deu ao acaso. Foi resultado do planejamento da Prefeitura, conduzido pelo secretário municipal de Indústria, Comércio, Turismo e Trabalho, Paulo Moraes Júnior, e pelo secretário-adjunto Aleksander Allen Nina Palitot, que assumiram a tarefa de articular parcerias, vencer desconfianças e reerguer um símbolo da capital.
O contraste não poderia ser mais evidente. Por anos, o Complexo ferroviário alternou portas fechadas, trilhos tomados pelo mato e locomotivas sucateadas. O acesso da população ao museu se limitava a uma cobrança que afastava moradores e desestimulava o pertencimento. Esse cenário começou a mudar em janeiro de 2025, quando a nova gestão anunciou a gratuidade no acesso para porto-velhenses. Foi, como lembrou Paulo Moraes Júnior, o primeiro sinal de que a história da cidade voltaria a ser tratada como prioridade. “O que vivemos ontem começou lá no Arco da Posse, quando o prefeito tornou gratuito o acesso ao museu. Ali ficou claro que o turismo e a história de Porto Velho seriam reaquecidos, relembrados e revividos”, disse o secretário.

A nomeação de Paulo Moraes Júnior para a pasta não foi recebida sem resistências. Irmão do prefeito Léo Moraes, ele precisou superar a desconfiança inicial de setores políticos e sociais que viam sua presença como fruto de vínculo familiar. Ao longo dos meses, porém, a condução de projetos e a capacidade de articular parcerias técnicas dissiparam o ceticismo. “Não tem como querer que o turista venha para Porto Velho sem antes resgatar a memória e o pertencimento do portovelhense”, afirmou, ao destacar que o resgate não era espetáculo, mas reparação com a população.
Foi em fevereiro de 2025 que Paulo Moraes Júnior e Aleks Palitot viajaram a Brasília para buscar apoio institucional. Ali conheceram a Associação Brasileira de Preservação de Ferrovias (BPF), entidade sem fins lucrativos com meio século de atuação na preservação de ferrovias no Brasil. “Muita gente não acreditava que seria possível fazer isso. Esse pensamento de que era impossível prevaleceu por 26 anos. De fato, foi muito difícil, mas não impossível. Em Brasília, fomos orientados a procurar a BPF, e dali nasceu a parceria que trouxe engenheiros para cuidar da Locomotiva 18 e da Locomotiva 50”, relatou Aleks Palitot. Segundo ele, o termo de fomento firmado entre a Prefeitura e a entidade deu respaldo técnico para a execução do projeto. “Eles têm total expertise, com engenheiros mecânicos, ferroviários e de caldeira. Foi isso que nos deu segurança para colocar a locomotiva de volta nos trilhos”, completou.

Na noite de 1º de outubro, nas oficinas da EFMM, foi realizado o primeiro teste da locomotiva 18. O cenário reuniu descendentes de personagens históricos, ferroviários, técnicos da BPF e autoridades municipais. “Quando a locomotiva voltou a apitar e andar sobre os trilhos, todos chorávamos. Era o renascimento daquela máquina, que carrega a memória da cidade”, recordou Palitot. No dia seguinte, diante da multidão reunida no Complexo, a emoção se repetiu. Paulo Moraes Júnior descreveu o impacto da cena: “Ao olhar os rostos das pessoas vendo a locomotiva andar, percebi que aquilo não era apenas sobre turismo ou sobre o complexo da Estrada de Ferro. Era um olhar de saudade. Havia pessoas chorando, muita gente dizendo que Porto Velho estava sendo relembrada.”
Palitot fez questão de narrar um episódio pessoal, que sintetizou a dimensão do evento. “Minha mãe viajou de trem até Guajará-Mirim, minha geração passeava de trem até Santo Antônio, e minha filha nunca tinha tido essa oportunidade. Ontem, ela viu o trem andar. No momento em que eu tocava o sino dentro da cabine, vi minha mãe e minha filha abraçadas, chorando e mandando beijos. Aquilo marcou minha vida.” O gesto representou a reconexão entre gerações que se distanciavam de um mesmo patrimônio. “O sonho da minha filha é também o de muitas crianças. Valeu toda a luta, todas as dificuldades e até as falas indecorosas que enfrentamos”, completou o secretário-adjunto.
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Além da reativação da locomotiva, o dia 2 de outubro de 2025 foi marcado por outras atividades organizadas pela Prefeitura: a reinauguração da Praça Jonatas Pedrosa logo às seis da manhã, a realização de uma corrida com inscrições revertidas em cestas básicas, e o corte do maior bolo já produzido na região Norte. “Ontem foi um dia que ficará marcado na memória e no coração de todos os porto-velhenses, tanto dos que nasceram aqui quanto dos que escolheram esta terra como sua cidade. Uma nova página foi escrita na história”, destacou Paulo Moraes Júnior.
Ambos os secretários reconhecem que os desafios permanecem. Palitot anunciou que já está em andamento a recuperação da Locomotiva 50, além de reparos no pátio ferroviário e no trecho de trilhos entre Santo Antônio e Porto Velho. “O prefeito quer realizar esse passeio de trem novamente, para que a população tenha a oportunidade de viajar no tempo”, garantiu. Paulo Moraes Júnior, por sua vez, projetou o futuro: “Sabemos que ainda há muito trabalho para colocar Porto Velho no caminho do desenvolvimento. Nossa ‘princesinha do Norte’ será reconhecida como uma das capitais mais belas do Brasil. Não temos dúvidas disso, mas sabemos também que será necessário muito esforço para que aconteça.”
O caso da EFMM revela o padrão adotado pela atual gestão: nomear professores e técnicos qualificados para áreas estratégicas. A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável é dirigida por Vinicius Miguel, doutor em Ciência Política; a Secretaria de Educação, por Leonardo Leocádio, mestre em Ciências e Administração; e a Secretaria de Saneamento e Serviços Básicos, por Giovanni Marini, mestre em Geografia. Seguindo essa lógica, a SEMTEL foi entregue a Paulo Moraes Júnior, com o apoio direto do historiador Aleks Palitot, especialista em memória e docência. O resultado apareceu cedo: em nove meses, o Complexo voltou a receber atenção institucional inédita nas últimas décadas.
O retorno do apito da Locomotiva 18 não foi apenas um espetáculo para o aniversário de 111 anos de Porto Velho. Foi a prova de que, quando o poder público assume responsabilidade com técnica e compromisso, a memória da cidade pode renascer. A despeito das desconfianças iniciais, Paulo Moraes Júnior e Aleks Palitot consolidam-se como protagonistas de um capítulo que, ao mesmo tempo, repara erros do passado e projeta um futuro em que Porto Velho reencontra suas origens sobre os trilhos.
No contraste entre a omissão de décadas e a entrega de nove meses, a cidade redescobre sua ferrovia. E os nomes de quem possibilitou esse reencontro já se inscrevem, inevitavelmente, na história local.
