Em palestra no Ministério Público de Rondônia, George Marmelstein abordou o papel da tecnologia na transformação da escrita jurídica e destacou a importância da empatia no uso da IA
Porto Velho, RO – Mais de trezentas pessoas, entre membros e servidores do Ministério Público de Rondônia (MPRO), participaram na quarta-feira (22/10) de uma palestra sobre escrita jurídica e transformação digital mediada por inteligência artificial, realizada no auditório do prédio-sede da instituição em Porto Velho e também transmitida de forma online. O encontro fez parte das atividades do Mês do Servidor e teve como palestrante o juiz federal George Marmelstein Lima, reconhecido nacionalmente pela aplicação de modelos de linguagem no processo judicial.
Ao abrir o evento, o Procurador-Geral de Justiça, Alexandre Jésus de Queiroz Santiago, destacou o compromisso da instituição em acompanhar os avanços tecnológicos. “O Ministério Público de Rondônia tem investido bastante nessa área, com ferramentas contratadas e outras em desenvolvimento. É essencial termos essa compreensão para fazermos o melhor uso dessas tecnologias em nosso dia a dia”, afirmou.
Com atuação como juiz federal desde 2001, doutor em filosofia do direito pela Universidade de Coimbra e mestre em direito constitucional pela Universidade Federal do Ceará, Marmelstein iniciou sua exposição situando a inteligência artificial (IA) dentro de um processo mais amplo, que chamou de “revolução cognitiva”. Ele comparou o desenvolvimento da IA a outras inovações históricas criadas para ampliar a capacidade humana de pensar e produzir conhecimento, como a escrita, o livro e o computador.
Segundo o magistrado, a IA generativa representa uma nova extensão do pensamento humano e deve integrar todas as etapas da atividade jurídica. “Em pouco tempo, todas as tarefas jurídicas — análise, escrita, pesquisa, decisão e criação — serão realizadas com a colaboração da inteligência artificial. Ela estará presente no nosso ambiente como a eletricidade ou a internet”, observou.
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O palestrante também ressaltou que o uso da IA já tem proporcionado maior eficiência na rotina forense, contribuindo para a otimização de audiências, análises processuais e elaboração de peças. “Quase todos aqui já utilizam a inteligência artificial no trabalho, e essa é uma tendência sem volta. O importante é usar de forma ética, consciente e segura”, disse.
Durante a apresentação, Marmelstein defendeu que alguns sistemas de IA já alcançaram a chamada singularidade jurídica — fase em que as máquinas realizam tarefas cognitivas com desempenho igual ou superior ao humano. “Os modelos mais robustos já são capazes de analisar processos complexos, interpretar provas, argumentar e redigir decisões com qualidade superior à de juristas experientes. Isso nos leva a repensar nosso papel”, explicou.
O juiz apresentou ainda uma linha do tempo com a evolução dos modelos de linguagem, desde as versões iniciais, lançadas em 2021, até as tecnologias mais recentes, e destacou que os anos de 2024 e 2025 marcaram uma mudança significativa na forma como os usuários interagem com a IA. “Os modelos deixaram de ser estagiários limitados e se tornaram sistemas altamente competentes, capazes de processar centenas de páginas de informação. Mas o salto mais importante foi do lado do usuário, que passou a dominar técnicas de engenharia de prompt, como a cadeia de pensamento e o RAG, para orientar as máquinas com precisão”, afirmou.
Ao encerrar sua exposição, Marmelstein enfatizou que o maior desafio da era digital não está na tecnologia, mas nas relações humanas. “Temos que usar a IA para nos tornarmos mais humanos”, disse. Ele explicou que o uso da ferramenta para análise de dados antes de uma audiência permite mais tempo para o diálogo com as partes. “É muito mais humano esse modo de conduzir uma audiência com inteligência artificial do que simplesmente você ficar naquele modo alienado, trabalhando mecanicamente, sem saber o que está acontecendo”, completou.
A palestra integrou a programação do Mês do Servidor do Ministério Público de Rondônia, iniciativa voltada à valorização dos profissionais da instituição e à oferta de oportunidades de atualização e capacitação em temas relacionados ao futuro da atuação ministerial.