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SAÚDE
Prevenção e promoção de saúde devem orientar combate ao câncer, afirma José Gomes Temporão

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Ex-ministro da Saúde destaca desigualdades no acesso a diagnóstico e tratamento e defende regionalização do SUS

Por Informa Rondônia - domingo, 26/10/2025 - 09h41

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Porto Velho, RO – Para o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão, o foco do enfrentamento ao câncer no Brasil e no mundo precisa estar em ações capazes de evitar o adoecimento. O pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que já foi diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer e atuou no Comitê Consultivo para o Controle do Câncer da Organização Mundial da Saúde, explica que a prevenção e a promoção de saúde devem ser consideradas o “eixo central” do combate à doença.

Em entrevista à Agência Brasil, Temporão relata que o câncer reúne diferentes tipos de enfermidades e tem avançado como causa de óbito no país. Ele cita que, em mais de 600 municípios brasileiros, já ocupa a primeira posição entre as mortes registradas. Com base em projeções da Organização Mundial da Saúde, afirma que o câncer tende a superar doenças cardiovasculares e cerebrovasculares como principal causa de morte nas próximas décadas. O IARC, órgão da OMS especializado em pesquisa sobre câncer, estima 35 milhões de novos diagnósticos em 2050 no mundo. No Brasil, o registro atual do Instituto Nacional do Câncer para o triênio que se encerra em 2025 contabiliza cerca de 700 mil novos casos anuais.

Temporão destaca que 70% das mortes por câncer ocorrem em países de baixa e média renda e atribui o cenário à dificuldade de acesso à prevenção, ao diagnóstico e a tratamentos como quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Ele afirma que o tratamento geralmente ocorre quando a doença já está instalada e reforça que o enfrentamento deve priorizar a redução de fatores de risco, como tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso, hábitos alimentares, sedentarismo e poluição ambiental. Segundo o ex-ministro, “esses fatores ambientais causam 90% dos casos de câncer no mundo”, enquanto os fatores genéticos respondem por proporção menor.

Em relação ao diagnóstico precoce, Temporão aponta que a ampliação da capacidade de atuação da atenção primária é decisiva. Ele menciona os exames de rastreamento do câncer de colo de útero, da próstata, do intestino e da mama como parte da rotina dos serviços básicos de saúde. A rede atual cobre cerca de 150 milhões de pessoas, embora apresente resultados distintos entre regiões do país. Ele explica que há maior concentração de equipamentos e especialistas no Sul e Sudeste, enquanto Norte e Nordeste enfrentam limitações para implantar serviços mais complexos.

Sobre o tratamento de alta complexidade, Temporão cita avanços desenvolvidos pela biotecnologia, como imunoterapias, que possuem custos elevados e dificultam a inclusão em sistemas públicos de saúde. No Brasil, observa que qualquer incorporação tecnológica depende de avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), responsável por verificar custo-efetividade e orçamento disponível.

Ao falar sobre a legislação que determina início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico, Temporão defende a regionalização do SUS. Ele considera que o modelo atual, com mais de 5 mil sistemas municipais isolados, torna a oferta desigual. A proposta discutida no país prevê a criação de cerca de 400 regiões de saúde com autonomia administrativa e poder de contratação para reduzir esperas e equilibrar a distribuição de equipes multiprofissionais. Para o ex-ministro, a lei serve como referência política, mas sua efetivação depende da reorganização da rede e da ampliação do número de especialistas.

Ele também menciona que o aprimoramento do rastreamento depende de protocolos seguidos pelas unidades básicas e da possibilidade de consulta entre profissionais em caso de dúvida, incluindo o uso de telemedicina. Temporão afirma que tecnologias digitais têm contribuído para ampliar o acesso e que a inteligência artificial pode aumentar a precisão de diagnósticos, com revisão constante de profissionais médicos.

O pesquisador comenta que a disseminação de desinformação nas redes sociais e em ferramentas digitais tem influenciado a percepção da população sobre saúde. Ele defende campanhas de comunicação direcionadas às características culturais de cada região para orientar de forma clara a relação entre alimentação, ambiente e riscos de câncer. Como referência, cita a redução do percentual de fumantes no Brasil, que passou de mais de 30% para aproximadamente 10% da população após ações de educação e restrições à propaganda do tabaco. Ele conclui defendendo regulamentações de publicidade de bebidas alcoólicas e alimentos ultraprocessados.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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