Cerimônia recorda o assassinato do jornalista em 1975 e destaca demandas por investigação e julgamento de crimes da ditadura
Porto Velho, RO – A Catedral da Sé, no centro de São Paulo, recebeu neste sábado (25) um ato inter-religioso dedicado à memória do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar em 25 de outubro de 1975. O encontro foi promovido pela Comissão Arns e pelo Instituto Vladimir Herzog, marcando os 50 anos da morte de Vlado, como era conhecido. O templo esteve lotado, assim como ocorreu na cerimônia realizada em 1975, dias após o crime, que reuniu cerca de 8 mil pessoas.
O filho do jornalista, Ivo Herzog, acompanhou o evento. Ele declarou que familiares de vítimas da ditadura aguardam um processo legal sobre os crimes cometidos. “É a investigação das circunstâncias dos crimes que foram cometidos, é um indiciamento dos autores dos crimes, estando vivos ou estando mortos, é o julgamento e a decisão do nosso poder judiciário se eles cometeram ou não cometeram crimes”, afirmou à imprensa.
Segundo Ivo, a revisão da interpretação da Lei da Anistia de 1979 segue como pauta na sociedade. Ele mencionou que a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 320, proposta em 2014 pelo PSOL, está sob relatoria do ministro Dias Toffoli no Supremo Tribunal Federal há mais de oito anos. “Eu entendo que esse atraso, essa abstenção do ministro Toffoli, infelizmente, é uma cumplicidade com essa cultura de impunidade”, declarou. O Instituto Vladimir Herzog ingressou na ação como amicus curiae em dezembro de 2021.
Ivo também comentou sobre a relação do tema com o contexto político atual. “A anistia de 1979, por si só, é uma aberração, porque o regime autoritário da época nunca reconheceu que cometeu nenhum crime. Como anistiar quem não cometeu crime? A mesma coisa está acontecendo novamente com esses que estão sendo julgados pelo 8 de janeiro”, afirmou.
O presidente em exercício Geraldo Alckmin esteve na cerimônia e declarou: “A morte do Vladimir Herzog foi o resultado do extremismo do Estado que, ao invés de proteger os cidadãos, os perseguia e matava. Por isso, fortalecer a democracia, a justiça e a liberdade”. Questionado sobre eventual revisão da Lei de Anistia, disse que “já demos bons passos nessa questão”.
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Ivo destacou a presença do presidente na atividade. Ele lembrou que, em 1975, havia forte aparato militar no entorno da Sé. “Hoje, na pessoa do presidente, Geraldo Alckmin, nós temos o Estado de mãos dadas com a gente, para reafirmar o compromisso com a democracia, reafirmar o compromisso com a justiça, reafirmar o compromisso com os direitos humanos, reafirmar o compromisso com a verdade”, declarou.
Vladimir Herzog dirigia o departamento de jornalismo da TV Cultura quando foi preso sem ordem judicial e levado ao Doi-Codi, em São Paulo, onde foi torturado e morto em 25 de outubro de 1975. Ele havia se apresentado voluntariamente ao órgão de repressão para “prestar esclarecimentos”. O jornalista Sérgio Gomes, que estava detido no local naquele dia, relatou: “Afinal, tem uma hora que para tudo, silêncio, remanejam as pessoas de um lugar para o outro, e é a hora que tiram o cadáver e fazem a simulação do suicídio”.
A esposa do jornalista, Clarice Herzog, esteve à frente das denúncias desde a morte. Em 31 de outubro de 1975, ocorreu o ato inter-religioso que marcou a resistência à ditadura, reunindo líderes religiosos como dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo Jaime Wright, com apoio do jornalista Audálio Dantas. Neste sábado, um novo ato na Sé homenageou todas as vítimas do regime militar.
Antes da cerimônia, jornalistas caminharam da sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo até a catedral. Thiago Tanji, presidente da entidade, afirmou: “É importante lembrar que as pessoas que torturaram, assassinaram o Vladimir Herzog, não foram condenadas, não foram investigadas, então a nossa luta contra impunidade é sobre o passado, mas também no presente”.
Figuras que participaram do ato de 1975 foram recebidas com aplausos. Também estiveram presentes Luiza Erundina, Eugênia Gonzaga, Amelinha Teles, Jurema Werneck, Fernando Morais, José Dirceu, Ivan Valente, Sérgio Gomes, Eduardo Suplicy, José Genoíno, Paulo Teixeira, Paulo Vannuchi, Rui Falcão, Ariel de Castro Alves, José Trajano, Juca Kfouri, Andre Basbaum, José Carlos Dias e Frei Chico.
A programação começou às 19h com apresentação do Coro Luther King e seguiu com manifestações religiosas conduzidas por dom Odilo Pedro Scherer, pela reverenda Anita Wright e pelo rabino Rav Uri Lam. A cerimônia incluiu vídeos com imagens de manifestações e vítimas do Estado desde o período ditatorial. Entre as exibições, ocorreu a leitura de carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, dirigida ao juiz Márcio José de Moraes. A leitura foi realizada pela atriz Fernanda Montenegro.




