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MEIO AMBIENTE
Estudo da USP detecta resquícios de Césio-137 no Rio Ribeira de Iguape

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Pesquisa em Geografia Física identifica material radioativo associado a testes nucleares dos anos 1960 no interior paulista

Por Informa Rondônia - segunda-feira, 27/10/2025 - 21h19

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Porto Velho, RO – Em uma investigação sobre ambientes naturais pouco alterados pela ação humana, um estudo de mestrado da Universidade de São Paulo (USP) localizou vestígios de Césio-137 nos sedimentos do Rio Ribeira de Iguape, no sul do estado. A substância, segundo o pesquisador Breno Rodrigues, está ligada a partículas liberadas durante testes nucleares realizados no início da década de 1960 e, apesar de não representar risco à saúde, funciona como marcador das transformações causadas pela atividade humana no planeta.

O levantamento foi conduzido no âmbito da Geografia Física, com foco em identificar traços de radioatividade em locais de preservação natural. O resultado confirmou a presença de elementos compatíveis com o chamado fallout — a chuva radioativa decorrente de explosões atômicas —, reforçando o papel desses resíduos como indicadores do período geológico conhecido como Antropoceno, em que as ações humanas passaram a modificar de forma significativa os ecossistemas.

Entre 1953 e 1962, cerca de 2 mil testes nucleares foram realizados, sobretudo por Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e França. Em 1962, ocorreram mais de 120 detonações, e em 1958, mais de 100. Algumas delas, como a Tsar Bomb soviética, de 1961, foram milhares de vezes mais potentes que a bomba lançada sobre Hiroshima.

As explosões produziram ondas de choque e calor, além de espalharem materiais radioativos que se depositaram sobre o solo e corpos d’água. Embora a maior concentração de resíduos tenha permanecido próxima aos locais de teste, as correntes atmosféricas transportaram parte das partículas para diferentes regiões do globo, inclusive o Brasil.

Durante a década passada, pesquisadores já haviam identificado traços de radiação no litoral Sudeste. O trabalho da USP aprofundou essa análise no interior, com coletas entre Eldorado e Sete Barras, no Vale do Ribeira. As medições apontaram níveis baixos de Césio-137, insuficientes para causar impacto biológico, mas relevantes para estudos históricos sobre a interferência humana em ambientes naturais.

O maior registro global de precipitação radioativa ocorreu em 1963, após o pico dos testes do ano anterior. No mesmo período, a pressão internacional levou à assinatura do Tratado de Proibição Parcial de Testes (PTBT), acordo firmado em agosto de 1963 entre Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética, que passou a restringir explosões nucleares atmosféricas.

A pesquisa foi conduzida sob coordenação da professora Cleide Rodrigues, do Instituto de Geociências da USP. O grupo atua há mais de duas décadas na região e escolheu o Rio Ribeira por sua baixa interferência urbana e agrícola, presença de quilombos e áreas de preservação, fatores que minimizam a possibilidade de contaminação de origem industrial.

“Queríamos estudar a ocorrência de marcadores do Antropoceno em um sistema natural com alto grau de preservação de intervenções humanas”, explicou Rodrigues à Agência Brasil. Segundo ele, trechos de rios urbanos ou represados foram descartados por apresentarem múltiplas fontes de contaminação.

O estudo avaliou a distribuição espacial do Césio-137, sua interação com o solo e a dinâmica fluvial. O radionuclídeo, formado a partir da fissão de átomos de urânio, tem meia-vida de cerca de 30 anos — período em que metade do material perde radioatividade e se converte em Bário. Embora mais de seis décadas tenham se passado, parte do elemento ainda pode ser detectada.

“A determinação da atividade do radionuclídeo (o Césio-137), isto é, a quantidade de decaimentos, ajuda também a indicar a idade e a origem do material depositado”, afirmou o pesquisador.

Rodrigues destacou que a distribuição do Césio no leito do Rio Ribeira é irregular, variando conforme os processos naturais do rio e dos solos da planície. “Confirmamos e reforçamos a ocorrência residual de Césio-137 nos sedimentos, compatível com o fallout atmosférico da Guerra Fria, mas observamos que os marcadores são continuamente retrabalhados pelos processos fluviais”, completou.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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