Vinicius Valentin Raduan Miguel, secretário de Meio Ambiente de Porto Velho e professor da UNIR, analisa projeções da ONU para ampliar investimentos na preservação florestal
Porto Velho, RO – A Revista Galileu ouviu o professor Vinicius Valentin Raduan Miguel sobre as projeções do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) a respeito do cenário de financiamento para proteção de florestas. O relatório do órgão aponta que, em 2023, foram investidos US$ 84 bilhões na preservação florestal e que o volume de recursos precisaria alcançar US$ 300 bilhões em 2030 e US$ 498 bilhões em 2050 para que metas ambientais globais sejam cumpridas.
Segundo o documento, subsídios destinados a setores com potencial impacto ambiental negativo superaram US$ 400 bilhões no mesmo período, principalmente ligados à agricultura. A análise indica que, para cada US$ 0,20 direcionados à conservação florestal, pelo menos US$ 1 é aplicado em atividades que aumentam a pressão sobre ecossistemas, contribuindo para uma perda estimada de 2,2 milhões de hectares de floresta ao ano.
O PNUMA também destaca que apenas US$ 7,5 bilhões dos investimentos realizados em 2023 vieram de fontes privadas, enquanto US$ 8,9 trilhões foram aplicados em companhias classificadas com alto risco de desmatamento. A Galileu registra que a COP30 pode representar um momento relevante para redefinir prioridades governamentais e consolidar compromissos do setor privado com cadeias produtivas sustentáveis. Para a representante interina do programa, Beatriz Martins Carneiro, alcançar os valores estimados é tecnicamente possível, “mas requer vontade política sem precedentes e mudanças sistêmicas”. Ela observa que medidas concretas para superar o desmatamento ainda estão “atrasadas”.
Vinicius Valentin Raduan Miguel, servidor do magistério superior da Universidade Federal de Rondônia cedido à Prefeitura de Porto Velho, especialista em Administração Pública (CIPAD-FGV) e doutor em Ciência Política (UFRGS), exerce o cargo de secretário principal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMA) na gestão do prefeito Léo Moraes. Ele avalia que alcançar os patamares indicados pelo relatório enfrentaria barreiras significativas. “É praticamente impossível chegar aos valores estipulados pelo relatório”, afirma. Em sua análise, “tanto do orçamento público como de doações da iniciativa privada ou da sociedade civil, o meio ambiente tem uma prioridade mais discursiva do que propriamente financeira”. O professor considera, contudo, que a COP30 pode elevar aportes para a área mesmo sem atingir os níveis previstos e destaca que a conferência está contribuindo para consolidar um sistema de governança ambiental com participação popular.
O relatório do PNUMA indica que 91% do investimento global em florestas em 2023 teve origem no setor público. Dos recursos internacionais destinados à área (US$ 2,9 bilhões), Banco Mundial, Alemanha, Reino Unido e Noruega figuram entre os principais financiadores, enquanto República do Congo, Peru e Brasil aparecem entre os países que mais receberam apoio. O documento aponta a necessidade de ampliar o alcance de políticas de financiamento que atendam diretamente povos indígenas e comunidades tradicionais, já que apenas uma parcela reduzida do total chegou a iniciativas lideradas por esses grupos.
China e Estados Unidos responderam por cerca de 41% do investimento público global em florestas. Em 2023, a China destinou US$ 19 bilhões principalmente para políticas de restauração e florestamento, enquanto os Estados Unidos aplicaram US$ 12 bilhões em manejo de fogo, agricultura sustentável, programas florestais e conservação. Em países em desenvolvimento, limitações fiscais e competição orçamentária reduziram o montante disponível para preservação. Nas florestas tropicais, os investimentos públicos alcançaram US$ 12,9 bilhões.
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O Brasil registrou o segundo maior investimento público doméstico em florestas tropicais, com US$ 1,9 bilhão em 2023, além de US$ 145 milhões provenientes de financiamento internacional. Para Carneiro, “o Brasil está demonstrando um forte compromisso com a preservação da floresta, com iniciativas notáveis e investimentos domésticos significativos”. A Índia aparece na liderança entre os 31 países que mais destinaram recursos às florestas tropicais, com US$ 7 bilhões investidos. Segundo o PNUMA, mesmo com orçamentos restritos, 22 países de menor renda investiram juntos 36 vezes mais do que todo o financiamento público internacional aplicado nessas áreas.
As estimativas do relatório envolvem duas frentes: proteção de áreas já preservadas e reflorestamento. O PNUMA calcula que a conservação pode contemplar 792 milhões de hectares até 2030 com custo anual de US$ 32 bilhões, enquanto a recuperação de 100 milhões de hectares demanda US$ 96 bilhões ao ano, considerando gastos com preparo do solo e aquisição de mudas, além do tempo de restauração. Raduan Miguel explica que manter áreas preservadas assegura a continuidade de serviços ambientais como fertilidade do solo e biodiversidade e afirma que as estratégias “são pontos complementares e integrados”.
Ao final da reportagem, a Galileu disponibiliza os dados completos do estudo do PNUMA para consulta.
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O que é a Revista Galileu
Galileu é uma publicação brasileira de divulgação científica criada pela Editora Globo em 1991. Inicialmente lançada como Globo Ciência, adotou o nome atual em 1998. A revista tem como foco aproximar temas de ciência, tecnologia, saúde, história e comportamento do público geral, com linguagem acessível e conteúdo multimídia. Desde 2019, opera exclusivamente em formato digital e acumula premiações relevantes no jornalismo nacional, como o Prêmio Vladimir Herzog.




