Moradores relatam dificuldades na reconstrução e cobram punições e indenizações pendentes
Porto Velho, RO – O dia 5 de novembro de 2015 permanece vivo na memória dos moradores de Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG). Naquela manhã, a rotina da comunidade foi interrompida pelo rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco, que despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração. O desastre provocou a morte de 19 pessoas, deixou mais de 600 desabrigadas e atingiu também as localidades de Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Pedras, Águas Claras e Campinas.
Entre os atingidos está Mônica Santos, auxiliar de consultório odontológico à época, que havia saído cedo para trabalhar e só conseguiu retornar ao local no dia seguinte. “Quando vi o que restava da minha casa, percebi que não tinha mais nada”, relatou à Agência Brasil. Ela e a mãe viviam em Bento Rodrigues e, segundo conta, a empresa afirmava que a barragem era monitorada 24 horas por dia. Mônica perdeu cinco amigos no desastre e hoje vive no reassentamento Novo Bento Rodrigues, construído pela Samarco a cerca de 13 quilômetros do antigo distrito.
A líder comunitária afirma que o novo conjunto ainda não está totalmente concluído. “A nossa casa ainda está cheia de problemas. Não dá para dizer que foi entregue 100%. Ainda tem casa sendo construída e gente sem projeto aprovado”, disse. Ela também aponta que os imóveis entregues não estão registrados em nome dos moradores. “Enquanto eu tiver força, vou lutar para fazer com que as pessoas sejam de fato indenizadas e restituídas”, declarou.
Outro atingido, o agricultor Francisco de Paula Felipe, mudou-se recentemente para o novo assentamento. “Tem dois meses que eu consegui mudar para a minha casa aqui no assentamento novo. A gente recebeu parte da indenização no começo. Parte está na Justiça ainda para ser resolvida. Não foi fácil a gente viver esses dez anos”, afirmou. Ele espera concluir a criação das filhas e vê-las seguir com os estudos.
AS ÚLTIMAS OPINIÕES
O promotor de Justiça Guilherme de Sá Meneguin, do Ministério Público de Minas Gerais, afirmou ao programa Caminhos da Reportagem que o rompimento afetou cerca de 3 milhões de pessoas em Minas Gerais e no Espírito Santo. “Afetou o meio ambiente, matou pessoas, destruiu economias. Mais do que um crime ambiental, foi uma grave violação dos direitos humanos”, disse.
De acordo com a Samarco, desde 2015 foram aplicados R$ 68,4 bilhões em ações de reparação e compensação, incluindo R$ 32,1 bilhões pagos em 735 mil acordos de indenização individual. A empresa informou que os recursos “têm transformado a realidade econômica da bacia, estimulando o comércio, fortalecendo cadeias produtivas e gerando empregos”.
Para o ativista Márcio Zonta, integrante da direção nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, o episódio reflete a falta de participação das comunidades nas decisões do setor. “São projetos antidemocráticos em que as empresas não levam em consideração as organizações e populações”, afirmou. Ele alertou ainda que o país possui 916 barragens, sendo 74 com maior risco de colapso e 91 em situação de alerta, com destaque para Minas Gerais, onde há 31 estruturas desse tipo.
O superintendente executivo da Agência Nacional de Mineração, Júlio César Rodrigues, também ouvido pelo programa Caminhos da Reportagem, avaliou que a regulação das barragens avançou, mas ainda há falhas. “A política nacional de segurança de barragens já foi alterada. A gente tem hoje uma política bastante robusta para barragens. Isso não se repete ainda em pilhas”, declarou.
Para os atingidos, a sensação é de que a reconstrução continua incompleta. Mônica resume o sentimento de quem ainda aguarda reparação: “Se tivesse acontecido a punição, não teria ocorrido a tragédia de Brumadinho”.




