Desgaste da adversária e “sorte de vencedor” contribuíram para que o postulante do Podemos virasse o jogo
Porto Velho, RO – As eleições de 2024 em Porto Velho surpreenderam analistas e eleitores com a reviravolta no segundo turno, que culminou na vitória de Léo Moraes, do Podemos, sobre Mariana Carvalho, do União Brasil. Com um resultado final de 56,18% dos votos válidos, Moraes superou Mariana, que obteve 43,82%. O cenário eleitoral foi marcado por uma série de fatores que pavimentaram o caminho da vitória para Moraes e expuseram fraquezas na campanha de Mariana, que liderou no primeiro turno, mas não conseguiu manter o ritmo.
No primeiro turno, Mariana Carvalho surgiu como favorita, conquistando 44,53% dos votos válidos (111.329 votos), enquanto Léo Moraes, em segundo lugar, obteve 25,65% (64.125 votos). No entanto, a ausência de Mariana em debates estratégicos, como o do Conselho Regional de Medicina (Cremero) e o promovido pela Rede Amazônica, deixou espaço para especulações sobre sua capacidade de lidar com questionamentos públicos, uma lacuna que Léo Moraes explorou com eficiência no decorrer do pleito. A imagem de Mariana também foi desgastada pelos ataques da ex-juíza Euma Tourinho, do MDB, que se envolveu em embates intensos com a candidata durante o primeiro turno, desviando parte da atenção que poderia ter sido direcionada a Léo.
Em 2024, Léo Moraes apresentou uma postura bem diferente da que adotou em 2016, quando enfrentou Hildon Chaves na disputa pela Prefeitura. Naquela época, Moraes era conhecido por ser mais sisudo, ofensivo e por empostar a voz em busca de embates diretos, o que lhe rendeu a fama de “brigão”. O amadurecimento político ficou evidente nas eleições de 2024, quando Léo optou por uma abordagem mais serena e conciliadora, atributo que ele mesmo relaciona à experiência da paternidade. Em vez de seguir o caminho dos confrontos, escolheu a parcimônia, com uma voz mais mansa e centrada nas propostas. Essa transformação permitiu que ele mantivesse a tecnicidade que o tornou uma figura influente, consolidada em Rondônia, desde os tempos de sua atuação na Câmara de Porto Velho, passando pela Assembleia Legislativa do Estado (ALE/RO) e pela Câmara Federal.
Com o cenário político aquecido e as tensões crescendo, o segundo turno trouxe mudanças significativas. A decisão de Fernando Máximo, deputado federal mais votado em 2022 e uma figura de grande influência eleitoral, de apoiar Léo Moraes foi um ponto decisivo. Máximo, que acusou sua legenda, o União Brasil, de tê-lo preterido em favor de Mariana, demonstrou sua insatisfação ao transferir seu apoio para Moraes, gerando um impacto direto na base eleitoral e ampliando a visibilidade do candidato do Podemos. Esse respaldo trouxe um novo fôlego à campanha de Moraes e ampliou sua capacidade de penetração junto aos eleitores indecisos.
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A gestão de crises também teve um papel determinante. Na véspera do segundo turno, uma chuva torrencial alagou Porto Velho, reacendendo debates sobre a drenagem e saneamento básico, problemas crônicos da cidade que permaneciam sem solução após oito anos de administração de Hildon Chaves, apoiador principal de Mariana Carvalho. Moraes aproveitou a ocasião para realizar gravações em áreas afetadas pela enchente, destacando os desafios que persistiam. Mariana e seu aliado, o prefeito Hildon Chaves, tentaram desqualificar as imagens, mas a mensagem já estava consolidada, reforçando a imagem de Moraes como um candidato atento aos problemas do cotidiano da cidade.
O desempenho nos debates também influenciou o desfecho eleitoral. Embora o primeiro confronto do segundo turno, promovido pela SIC TV, tenha terminado com um empate técnico entre os dois candidatos, o debate subsequente, transmitido pela Rede Amazônica, foi marcado pela performance superior de Léo Moraes, que dominou a maior parte do tempo e conseguiu desestabilizar Mariana em momentos-chave. Sua habilidade de controle do tempo e de condução dos temas discutidos foi vista como um fator que contribuiu para inclinar a balança a seu favor na reta final.
Outro ponto relevante foi a percepção pública influenciada pelos institutos de pesquisa. Enquanto a Quaest indicou uma disputa acirrada, os demais levantamentos, especialmente os conduzidos pelo Instituto Phoenix, favoreceram Léo Moraes, possivelmente criando um efeito de adesão entre os eleitores indecisos, que optaram por “fechar a fatura” no segundo turno.
A comparação dos resultados revela mudanças significativas entre as duas fases da eleição. Mariana Carvalho, que liderou o primeiro turno, viu sua votação cair para 105.406 votos no segundo turno, enquanto Léo Moraes saltou de 64.125 para expressivos 135.118 votos. O aumento da abstenção também chamou a atenção: de 93.663 eleitores no primeiro turno para 110.962 no segundo, refletindo um crescimento de desinteresse ou indecisão em relação à disputa final. Os votos brancos e nulos também apresentaram variações, indicando que parte do eleitorado preferiu não se posicionar na escolha final.
A vitória de Léo Moraes foi, assim, fruto de uma combinação de fatores estratégicos: a habilidade de aproveitar o desgaste da adversária, o suporte de figuras políticas relevantes como Fernando Máximo, e uma abordagem comunicativa eficaz em momentos críticos, como as enchentes que castigaram a cidade. A evolução de Moraes, de um candidato considerado “brigão” em 2016 a um político mais moderado e centrado em 2024, foi também um diferencial que ressoou positivamente entre o eleitorado, contribuindo para sua ascensão e consolidando sua vitória na Prefeitura de Porto Velho.
AUTOR: INFORMA RONDÔNIA