Por Vinicius Valentin Raduan Miguel
O autor é especialista em Administração Pública (CIPAD-FGV). Doutor em Ciência Política (UFRGS). Professor da Universidade Federal de Rondônia.
Os resultados das eleições municipais de 2024 reafirmaram a res publica do centro político no Brasil, destacando a solidez de partidos como PSD e MDB, enquanto revelaram o crescimento expressivo do PL e um renovado otimismo para o PSB. Nesse corpus politicum dinâmico, partidos tradicionais buscaram consolidar suas bases, enquanto outros se reestruturaram para enfrentar os desafios emergentes. O PSDB, apesar de expandir sua base por meio de uma federação com o Partido Cidadania, enfrentou um declínio notável que sugere a necessidade de uma nova estratégia política.
PSD e MDB: Força e Continuidade no Centro Político
O PSD liderou o cursus honorum eleitoral, governando 37 milhões de habitantes e consolidando-se como a principal força política em termos de população. Desde suas primeiras eleições municipais em 2012, o partido cresceu de forma constante, o que pode ser visto como uma verdadeira parcours politique de sucesso. Capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba, além de importantes centros urbanos como Ribeirão Preto e Londrina, refletem essa expansão estratégica e sustentada.
O MDB, por sua vez, continua sendo uma peça central na machine politique brasileira, governando 36,6 milhões de habitantes e mantendo uma presença significativa em cinco capitais, incluindo São Paulo. A reeleição de Ricardo Nunes na maior cidade do país demonstra a capacidade do partido de maintenir le pouvoir, preservando bases eleitorais históricas e mantendo-se competitivo em grandes centros urbanos.
Expansão do PL e Renascimento do PSB
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O Partido Liberal (PL) experimentou um crescimento expressivo, triplicando a população sob sua gestão em relação a 2020 e passando a administrar 27 milhões de habitantes. Essa expansão pode ser descrita como um verdadeiro momentum politicum, impulsionado pela filiação do ex-presidente Jair Bolsonaro. O PL consolidou-se como a terceira maior força, vencendo em quatro capitais e em várias cidades de médio porte, demonstrando uma clara estratégia de occupation politique.
O PSB, por outro lado, apresenta sinais de renovação e resiliência, fortiter in re, suaviter in modo. Embora tenha registrado uma leve queda na população governada, de 9,5 milhões em 2020 para 9 milhões em 2024, o partido conseguiu vitórias simbólicas que indicam uma reestruturação estratégica eficaz. A reeleição de João Campos no Recife, conquistada no primeiro turno, demonstra uma prouesse politique e destaca a habilidade do PSB em construir narrativas de gestão eficiente e políticas públicas bem-sucedidas. A presença do PSB em outras cidades estratégicas sinaliza um caminho promissor para o partido, que segue se apresentando como uma alternativa progressista e inclusiva no cenário nacional, ceteris paribus.
Desafios para Outras Siglas e Declínio do PSDB
O União Brasil e o PP completam o grupo das cinco maiores forças em termos de população governada. No entanto, o União Brasil viu sua base populacional reduzir-se em 19%, reflexo de desafios internos que sugerem a necessidade de uma nouvelle stratégie. Já o Republicanos conseguiu expandir sua influência, crescendo de 7,6 milhões para 13,8 milhões de habitantes, especialmente no interior paulista. Esse crescimento foi sustentado pelo apoio de lideranças conservadoras e o fortalecimento de alianças regionais, qui tacet consentire videtur.
O PSDB, em contraste, enfrentou um declínio acentuado. Mesmo após expandir sua base eleitoral por meio de uma federação com o Partido Cidadania, a sigla viu sua população governada despencar de 34,4 milhões em 2020 para 8,5 milhões em 2024. Essa queda acentuada, post hoc, ergo propter hoc, sugere dificuldades em se adaptar às novas dinâmicas políticas, apesar das tentativas de ampliação do escopo partidário. A ausência de vitórias em capitais e uma única conquista em cidades com mais de 500 mil habitantes revelam um esgotamento de sua estratégia eleitoral, indicando a necessidade de uma réforme structurelle.
Um Novo Equilíbrio Político e Perspectivas Futuras
As eleições de 2024 reafirmam a importância do centrão na política brasileira, refletindo o crescimento do PSD, a recuperação do PSB e a consolidação do PL como novas forças dinâmicas. Apesar dos desafios, partidos como o PSB demonstram uma capacidade de reinvenção que pode transformar o cenário político nos próximos anos. Com esses novos alinhamentos, as eleições gerais de 2026 prometem uma disputa intensa e um campo fértil para alliances de convenance, parcerias estratégicas e coalizões que definirão os rumos do poder político no Brasil, pax et bonum.
AUTOR: VINICIUS MIGUEL