RESENHA POLÍTICA
ROBSON OLIVEIRA
VIRADA
Embora a maioria dos analistas políticos não acreditasse numa virada espetacular de Leo Moraes sobre Mariana Carvalho, esta coluna cravou ainda em março – quando os 12 maiores partidos da capital anunciaram apoio à filha de Aparício Carvalho -, que a união seria um fracasso e lembraria o Titanic. Não foi a primeira vez que em Porto Velho os donatários das legendas tentam impor ao eleitor candidaturas dos seus interesses em detrimento às preferências do povo. Uma receita política rejeitada no passado e derrotada humilhantemente no presente. A virada de Léo sobre Mariana foi simplesmente espetacular.
ENCOLHEU
No primeiro turno, quando o Titanic de Mariana alcançou pouco mais de 111 mil votos e o solitário Leo recebeu 64 mil votos; neste segundo, a reviravolta foi tão devastadora que a candidata do União Brasil obteve seis mil votos a menos que no primeiro. Um caso inédito onde uma favorita perde e ainda encolhe entre um turno e o outro ao ser abandonada por eleitores que pularam do barco antes de afundar. Mariana Carvalho encolheu nas urnas e diminuiu de tamanho político após três derrotas fragorosas a cargos majoritários.
IMPOSIÇÃO
O prefeito Hildon Chaves foi o principal timoneiro de propagação da campanha de Mariana Carvalho nesta reta final. Quem acompanhou a eleição assistiu a um prefeito que abandonou a administração municipal para virar cabo eleitoral. De rádio em rádio o prefeito vociferava críticas veementes ao candidato Leo Moraes e derramava elogios à pupila que impôs como candidata à sucessão. Mariana foi uma imposição dos caciques rondonienses sob a batuta do prefeito.
ARROGÂNCIA
Hildon acreditou que seria capaz de transferir seu capital político para a escolhida e não economizou no uso da força política e administrativa para capturar votos. Quebrou a cara e o resultado das urnas fala por si. Humildade é um sentimento nobre para quem está na política, mas essa virtude anda escassa no prefeito, o que também contribuiu para a derrota de Mariana Carvalho, embora o prefeito agora alegue que seja em razão à rejeição que Mariana contabilizou na campanha.
PERDEDOR
Mesmo o governador Marcos Rocha também tenha manifestado apoio público à candidata do União Brasil, com aparições na TV e rádio, sua participação em toda a campanha foi permeada pela discrição e sem permitir o uso indecente da estrutura pública estadual. Já Hildon Chaves aparecia mais nos programas do que a própria candidata e exigia que colaboradores próximos fossem às ruas pedir votos. Quem não acatou a ordem foi afastado dos postos em que se encontrava. A forma agressiva pela qual adotou na campanha e na relação com as pessoas que não concordavam com ele revela o tamanho da derrota que tentava evitar. Mariana perdeu pela terceira vez consecutiva a um cargo majoritário, Hildon amargou a primeira grande derrota no colégio eleitoral que achou que ser uma extensão do seu patrimônio. Vivo foi Marcos Rocha que não passou o constrangimento de aparecer na última fotografia que a derrotada fez em despedida.
MAGISTRAL
O comportamento sereno, seguro e preparado de Leo Moraes nos debates revelou o quanto os eleitores perceberam a diferença entre os dois candidatos. Não foi à toa que a própria Mariana repetidamente se incomodou com a postura do oponente que em eleições anteriores era mais beligerante. A sobriedade de Leo nos debates pegou de surpresa uma adversária belicosa e estabeleceu uma ligação de empatia imediata com os eleitores. Leo foi simplesmente magistral numa campanha onde entrou como azarão e sagrou-se favorito para derrotar o imponderável.
PESQUISA
Exceto o instituto Quaest que errou em Porto Velho nos dois turnos, todos os outros institutos nacionais de pesquisa acertaram nos prognósticos de vitória folgada de Leo Moraes. É preciso destacar o Veritá que cravou certinho todas as pesquisas sobre as eleições da capital, resultados sempre divulgados pelas emissoras do jornalista Everton Leoni. De forma gratuita. Quem assistiu aos comentários de Leoni sobre esses números apurados pelo Veritá percebia nas palavras do experimentado jornalista para onde o favoritismo eleitoral sinalizava. Everton acertou no instituto e nas avaliações políticas feitas em suas emissoras. Quem é do ramo dificilmente erra.
LOROTA
Os perdedores vão creditar ao temporal que caiu sábado à noite sobre a capital o principal elemento catalisador que favoreceu a acachapante vitória de Leo Moraes. Desculpa de perdedor. Uma eleição não se vence nem se perde por apenas uma variável, exceto aquelas incomuns. Foram erros atrás de erros que a campanha de Mariana cometeu, inclusive adotando estratégias de trinta anos atrás que não fazem o menor efeito em tempos de internet.
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DIFERENÇAS
A chuva que caiu sobre Porto Velho e alagou diversas ruas e bairros revelou um comportamento diverso entre os dois candidatos: enquanto Leo caminhou na lama debaixo da tempestade criticando o descaso administrativo com as alagações, Mariana, Hildon e o vereador Breno Mendes se regozijavam aos gritos de felicidade feitos adolescentes irresponsáveis num banho de chuva registrado nas mídias sociais como um acinte a quem perdia tudo em razão do temporal. Foram essas condutas (entre outras) que fizeram a diferença na campanha. Leo transbordou de empatia, Mariana se encharcou de antipatia. São diferenças que contam no final.
FORRA
Fernando Máximo, filiado ao mesmo partido de Mariana Carvalho, foi mais um político que faturou com a vitória de Leo Moraes. Inicialmente favorito no pleito, Máximo viu sua postulação ser violentamente fulminada pelos dirigentes da legenda que optaram por refutar sua candidatura em favor de Mariana Carvalho, que na época sequer era filiada ao União Brasil.
TROCO
Neste segundo turno, após apoiar discretamente o candidato Benedito Alves no primeiro, o deputado federal mais votado de Rondônia declarou e fez campanha ostensiva em favor do vencedor Leo Moraes. O anúncio foi duramente criticado pelos apoiadores da candidata de Mariana Carvalho, especialmente pelos impropérios ditos contra ele por Hildon Chaves numa emissora de rádio local. Máximo deu o troco à puxação de tapete que levou em março do União Brasil ao ser preterido de uma postulação que aparecia como promissora. A vitória do aliado lhe deu mais visibilidade e o coloca como um dos protagonistas nas eleições de 2026.
DESARMAR
Vencido o pleito é hora de Leo Moraes desfazer o palanque e desarmar os espíritos mais beligerantes para se concentrar em reunir o maior número de dados e planejar as primeiras ações para 2026. A campanha passa, mas os problemas permanecem e a população não tem muita paciência com administrações lerdas e formada no compadrio. É preciso colocar as pessoas certas, nos postos adequados e competentes. Leo tem um desafio enorme em suceder um prefeito bem avaliado e que não dará trégua toda vez que instado a falar sobre o sucessor. Tem que adotar a mesma tolerância da campanha com as críticas e ignorar o antecessor. É hora de se desarmar e concentrar as energias no trabalho.
MEDIDAS
As primeiras medidas administrativas que Leo deveria adotar estão circunscritas em recomendações que o Tribunal de Contas sugeriu ao atual prefeito e que foram em parte ou completamente desdenhadas. A extinção da famigerada agência reguladora criada como cabide de emprego a quem sequer entende de regulação, revisão do contrato de prorrogação da rodoviária e adotar as medidas sugeridas pelo órgão de controle, tomada de contas na Emdur e Semob para averiguar eventuais descompassos administrativos e rever ações para que a Semagric seja mais ágil em atender aos distritos e área rural. São medidas preventivas e necessárias, entre outras, ao início de uma gestão que se propõe a ser popular.
DEDO PODRE
Bolsonaro está sendo considerado o dedo podre das eleições. Onde ele apontou o candidato perdeu, a exemplo de Mariana Carvalho. Ainda esteve por aqui a messiânica Michelle Bolsonaro e a “goiabeira” Damares Alves. Nem assim conteve a perda de votos da filha de Aparício. Foi uma eleição em que o cidadão começa a sinalizar que está farto do extremismo e optou em voltar ao centro, posição que sempre professou a maioria dos brasileiros ao longo de sua história pós ditadura.
ESQUERDA
Apesar do encolhimento dos petistas em Rondônia, quando votam numa candidatura que não seja sua, descarregam em massa os votos. Foi assim com Confúcio Moura, Marcos Rocha e agora repetem com Leo Moraes. A esquerda não ganha, mas ajuda a derrotar quando votam para a derrocada do inimigo comum. Os votos da esquerda na capital, conforme revelaram as urnas, foram para Leo Moraes. O único a destoar desse rol foi o ex-candidato a prefeito pelo PDT, Célio Lopes, que anunciou de forma envergonhada apoio a Mariana Carvalho. Um apoio tão tímido e destrambelhado que ninguém mais lembra do candidato pedetista.
TRAIDORES
A esquerda nunca perdoa traidores, isto é um fato que Palloci experimentou e Célio experimentará. Nada adiantaram os memes “marianistas” nas redes sociais de que o PT era Leo e Leo o PT. A população sabe bem distinguir as coisas na política e besta é quem a trata como obtusa. Quando um candidato cai nos braços do povo nem por reza forte muda de posição. Leo caiu na graça do eleitor que lhe concedeu uma vitória até então inimaginável.
EMPATE
Nossa coluna Resenha Política foi a única do gênero a confirmar o favoritismo de Leo Moraes nas urnas. Também cravamos que a diferença seria substancial bem diferente dos que apostavam em uma diferença apertada. Leo venceu com folga e ainda impôs a humilhação à adversária por perder seis mil votos do primeiro para o segundo turno. Agora terá mais tempo para torcer pelo Botafogo, que, aliás, tem virado uma espécie de ‘cavalo paraguaio”.
AUTOR: ROBSON OLIVEIRA