JUSTIÇA
EXCLUSIVO – Da cadeia, ex-secretário Júnior Lopes publica carta falando de abandono, racismo e desistência; leia a íntegra

"Eu desisto de lutar pelo bem": o desabafo revela mágoa e desespero após prisão preventiva por suspeita de fraudes

Por Informa Rondônia - domingo, 22/12/2024 - 19h52

Porto Velho, RO – O Informa Rondônia recebeu, com exclusividade, uma carta de seis páginas escrita pelo ex-secretário da pasta estadual da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer (Sejucel) de Rondônia, Lourival Junior de Araújo Lopes, conhecido como Júnior Lopes. A carta, encaminhada à redação pelo advogado de defesa do ex-secretário, Samuel Costa, expõe um relato emocional e detalhado sobre os impactos da prisão preventiva, mencionando abandono, racismo e o que Lopes descreve como uma luta solitária contra as acusações que enfrenta.

Preso durante a primeira fase de uma operação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em 13 de dezembro, Lopes é investigado por suspeitas de fraude e falsidade ideológica em contratos públicos. Ele teria atuado no direcionamento de recursos destinados a eventos culturais, que, segundo o Ministério Público de Rondônia (MP-RO), somam R$ 13 milhões.

Na carta, escrita com palavras carregadas de dor e indignação, Lopes declara: “Estou sofrendo hoje mais do que quando perdi meu pai, pois lutei minha vida toda para orgulhar ele. Hoje as pessoas julgam e condenam um filho que honrou o pai e a família.” Ele também se refere à prisão como um ato de injustiça, apontando para o que considera uma discriminação racial: “Empurraram os pretos, pobres, lutadores e trabalhadores para a prisão, e todo mundo bate palma.”

Denúncias de racismo e desistência

Um dos pontos mais marcantes da carta é a ênfase nas questões raciais. Lopes relata o impacto do preconceito em sua trajetória, dizendo: “Todo mundo divulga e acaba com a vida do preto […] Só o preto é acusado. Injustiçado, sendo inocente.” Em outro trecho, ele afirma ter sido abandonado por aqueles que antes o apoiavam, mencionando que “parabéns aos brancos dos olhos azuis” é uma expressão de ironia para a falta de empatia que sentiu.

O ex-secretário demonstra um sentimento de desistência ao longo da carta, culminando na declaração: “Eu desisto de lutar pelo bem, eu desisto de ajudar, desisto de viver.” Ele também aborda sua fé como uma das poucas fontes de força, mencionando que continuará orando mesmo diante do que considera uma grande injustiça.

Impacto familiar e pessoal

Além de abordar os temas de racismo e perseguição, Lopes menciona os efeitos devastadores que sua prisão teve sobre sua família. Ele relata a dor de ver sua filha de seis anos se despedir dele antes de sua detenção: “O preço que paguei por ser inocente e honesto foi ter minha filha de 6 anos perguntar o que estavam fazendo com o papai.”

Ele também reflete sobre sua trajetória profissional e os sacrifícios que diz ter feito para honrar sua família e contribuir com a sociedade. “Fui pobre de família humilde e nunca peguei nada de ninguém. Então, não seria hoje que teria interesse de tocar no dinheiro de alguém”, escreve.

Investigação e contexto

A prisão de Lopes faz parte de uma investigação que aponta irregularidades em contratos de eventos culturais organizados sob sua gestão, como a Expovel 2023 e 2024. Segundo o MP-RO, foram detectados indícios de direcionamento de contratos para associações sem capacidade técnica, superfaturamento e cobrança indevida de camarotes que deveriam ser gratuitos.

As autoridades justificaram a prisão de Lopes alegando que ele e outros envolvidos teriam tentado interferir na investigação, incluindo a destruição de provas. O governo de Rondônia, em nota oficial, reforçou que não compactua com atos de corrupção e destacou esforços para aumentar a transparência na administração pública.

Repercussões e próximos passos

A defesa de Júnior Lopes, representada pelo advogado Samuel Costa, não comentou diretamente o conteúdo da carta, mas afirmou que trabalha para provar a inocência de seu cliente. “O foco neste momento é desmontar as acusações e demonstrar que houve um erro de interpretação sobre as ações de Lopes enquanto gestor público”, disse Costa.

Lopes permanece em prisão preventiva, onde, segundo ele mesmo escreve na carta, enfrenta o “mandamento mais difícil de Jesus: amar os inimigos”.

A CARTA NA ÍNTEGRA:

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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