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Meta da JBS de zerar desmatamento na Amazônia até 2025 é vista como inalcançável por produtores de Rondônia

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Pecuaristas apontam entraves fundiários, burlas no rastreamento e dificuldades técnicas para cumprimento da promessa ambiental da maior empresa de carne do mundo

Por Informa Rondônia - segunda-feira, 21/04/2025 - 11h13

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Porto Velho, RO – Em estados da Amazônia Legal como Rondônia e Pará, produtores rurais que abastecem a cadeia da carne bovina expressaram descrença quanto à possibilidade de a JBS atingir a meta de banir o desmatamento em suas operações na região até o fim de 2025. A avaliação foi colhida em entrevistas com dezenas de atores do setor, incluindo lideranças sindicais e donos de propriedades de criação de gado.

A proposta da JBS, anunciada publicamente, envolve o rastreamento completo dos animais comprados, de modo a garantir que não tenham origem em áreas desmatadas ilegalmente. A empresa afirma que vem investindo em ferramentas digitais, como plataformas com tecnologia blockchain e monitoramento por inteligência artificial, para alcançar esse objetivo.

Apesar dos esforços declarados pela companhia, relatos colhidos pelo jornal The Guardian mostram resistência em campo. Entre as dificuldades citadas pelos produtores estão a falta de regularização das terras e a permanência de práticas como a “lavagem de gado” — quando bovinos criados em fazendas irregulares são transferidos para propriedades legalizadas antes do abate, mascarando sua verdadeira origem.

Em Rondônia, a percepção de que o plano não será executado a tempo é recorrente. Um dos entrevistados resumiu a situação afirmando que “é impossível dizer que toda a carne será livre de desmatamento”.

A presidente da Comissão de Mulheres do Agronegócio, Cristina Malcher, destacou o impacto da insegurança fundiária no processo de regularização ambiental. “Se você não sabe quem é o dono da terra, não tem como fazer regularização ambiental”, declarou à reportagem.

A JBS respondeu às críticas afirmando que a amostra abordada na investigação — cerca de 30 pecuaristas — não representa o universo de mais de 40 mil fornecedores ativos. Segundo a empresa, o compromisso com práticas sustentáveis está mantido, mas envolve desafios que extrapolam a atuação de uma única corporação.

No estado do Pará, a JBS atua em parceria com o governo estadual em um projeto piloto de rastreamento do rebanho por meio de brincos eletrônicos. A meta é monitorar aproximadamente 26 milhões de cabeças de gado até 2026. O governador Helder Barbalho reconheceu entraves, principalmente entre os pequenos produtores. Ele informou que o Fundo Bezos aportou R$ 143 milhões no projeto.

Por outro lado, representantes do setor agropecuário relataram que não receberam instruções detalhadas sobre o funcionamento do novo sistema, nem suporte técnico adequado para sua implementação. Segundo Ticão, liderança sindical do sudeste do Pará, “nem eles sabem como essa rastreabilidade será feita”.

A reportagem também aponta que, mesmo com avanços tecnológicos, ainda existem brechas que permitem a comercialização de carne bovina fora do circuito controlado. Uma das falhas identificadas é o abate de animais em regiões não cobertas pelo sistema de monitoramento, dificultando a verificação da origem da carne.

Com o prazo de 2025 se aproximando, o cenário retratado pelos produtores de Rondônia indica que alcançar a meta da JBS demandará superação de entraves estruturais e mudanças profundas nos mecanismos de controle da cadeia da carne na Amazônia.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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