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EDITORIAL
Entrevista com Marcos Rocha toca em temas ”espinhosos” que o jornalismo chapa-branca costuma evitar

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Questionamentos sobre traições, ausência de Bolsonaro, crise com o vice e influência do irmão no governo oferecem ao governador a chance de se explicar sem cortes nem blindagens

Por Informa Rondônia - quarta-feira, 02/07/2025 - 11h32

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Porto Velho, RO – A segunda parte da entrevista concedida pelo governador Marcos Rocha (União Brasil) ao podcast Resenha Política, publicada no YouTube e veiculada com exclusividade pelo site Rondônia Dinâmica, apresenta um modelo de jornalismo que contrasta com o que se vê em boa parte do noticiário institucionalizado: em vez de evitar os temas mais sensíveis ou repetir pautas já exaustivamente exploradas, os entrevistadores optaram por expor feridas ainda abertas — e ouvir as respostas do próprio chefe do Executivo.

O resultado não é o embate, nem o constrangimento. É o cumprimento de uma função essencial da imprensa: levantar questões que, muitas vezes, ficam de fora das coletivas oficiais e das entrevistas dirigidas. O governador foi instado a comentar assuntos incômodos e teve a oportunidade de se posicionar, explicar, refutar e justificar atos administrativos e políticos.

A crise com o vice Sérgio Gonçalves, por exemplo, foi trazida para o centro da conversa. Rocha reconheceu que a comunicação entre eles é escassa e relatou um breve diálogo: “Sentei ao lado dele e falei: ‘preciso conversar contigo. Acho que você está indo pelo caminho errado’.” Também admitiu que a escolha do vice não partiu de sua preferência inicial: “Ele não era a minha primeira opção”, disse, acrescentando que nomes como Divino Cardoso haviam sido cogitados antes.

Rocha foi além: contou que o próprio irmão de Sérgio, Júnior Gonçalves, se manifestou contra a escolha, algo que, segundo o governador, foi comunicado diretamente a ele. “Inclusive o Júnior não queria que ele fosse.”

A entrevista também permitiu a Marcos Rocha esclarecer pontos sobre sua relação com Júnior Gonçalves, ex-braço-direito na Casa Civil. O governador afirmou que a parceria chegou ao fim, mas lembrou que, ao ser afastado por 60 dias, Júnior recebeu seu apoio. “Ele chorando, eu mandei uma mensagem pra ele dizendo: ‘Fica tranquilo. Fique em paz. Eu estou com você. Acredito na tua seriedade. Até que se prove ao contrário, você está tranquilo’.”

Outra questão sensível abordada sem rodeios foi a viagem institucional a Israel. Rocha explicou que a ida ao país incluiu agendas com empresas e o parlamento local, tratando de temas como agropecuária, combate a incêndios e segurança. “Eu ajudei um monte de gente lá, de outros estados e até de outros países”, afirmou, dizendo que levou o tambaqui como exemplo da produção rondoniense. Justificou ainda o sigilo da agenda como protocolo de segurança. “Mesmo dentro do estado, às vezes eu mudo o trajeto. Tudo é protocolo.”

Questionado sobre um vídeo em que alertava seus secretários contra a corrupção, publicado dias antes de uma operação da Polícia Federal, o governador negou qualquer relação entre os fatos. “Foi coincidência. As pessoas conjecturam, mas não foi. Eu falo o tempo inteiro para os secretários não se envolverem em corrupção.”

Ao ser provocado sobre críticas ao irmão Sandro Rocha, que comanda o Detran-RO, Marcos Rocha rebateu diretamente. “Isso é covardia. Os covardes fazem covardia”, disse, após ser lembrado das declarações de Júnior Gonçalves. Defendeu a atuação de Sandro: “Ele é muito inteligente. Uma pessoa preparada, e sem safadeza. Não tem safadeza.”

A entrevista também trouxe à tona a ausência de apoio de Jair Bolsonaro à campanha de reeleição de Rocha em 2022. “Eu sou leal. Bolsonaro me estendeu a mão, me puxou para uma área que eu nunca sonhei fazer parte. Eu não sou ingrato”, declarou. Quando perguntado se foi abandonado pelo ex-presidente, respondeu: “Ele tem um partido. Eu tenho outro.”

Sem ignorar o campo partidário, Marcos Rocha disse que a União Brasil em Rondônia está sem comando local. “Hoje não tem presidente. A comissão saiu toda”, afirmou, ao citar Luciano Bivar, dirigente nacional da legenda.

Na área administrativa, abordou projetos sociais liderados pela primeira-dama Luana Rocha, incluindo os programas “Mamãe Cheguei”, “Mulher Protegida”, “Vencer” e “Prato Fácil”. Segundo ele, as ações têm origem em vivências familiares. “Ela passou muita fome. Ela é de Guajará-Mirim. A gente combina em casa: vamos fazer tudo que ninguém nunca fez?”

Falou ainda do programa habitacional “Meu Sonho”, com subsídio de até R$ 30 mil para aquisição de imóveis via Caixa Econômica, que já atraiu mais de 110 mil inscritos para cinco mil unidades disponíveis.

Na economia, voltou a tratar da proposta de encontro de contas entre Caerd e Energisa. “Existe uma dívida da Energisa com a Caerd e uma dívida da Caerd com a Energisa. Seria uma espécie de encontro de contas.” Afirmou que a ideia, antes criticada, hoje é defendida por prefeitos e deputados. “Nosso Tribunal de Contas é extremamente coerente”, declarou.

Marcos Rocha também defendeu os critérios técnicos nas nomeações de sua equipe, mencionando Elias Rezende e Lauro Fernandes, diretor técnico e operacional da Caerd. “Se a pessoa é competente, se a secretaria entende que vai ser útil, por que não?”

Por fim, reafirmou sua pré-candidatura ao Senado e fez uma referência direta a Sérgio Gonçalves. “Exemplo: se Sérgio Gonçalves assumir o governo e começar a agir de forma cruel, não sou eu que vou ver isso, é a população.”

Ao propor perguntas diretas e oferecer tempo e espaço para que o entrevistado responda, Resenha Política e o Rondônia Dinâmica escapam do modelo que, muitas vezes, reduz o jornalismo a uma vitrine de boas notícias e pronunciamentos filtrados. O governador foi confrontado com os fatos — e teve a oportunidade de apresentar suas versões. É assim que se cumpre o papel público da comunicação.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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