Em entrevista ao Resenha Política, secretário de Segurança afirma que Morar Melhor e Orgulho do Madeira deixaram de ser redutos criminosos, atribui queda de indicadores a videomonitoramento e integração e sustenta: “É o LCP que está ligado a facção”
Porto Velho, RO – O editorial parte de um ponto incontornável da fala do secretário de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania, coronel BM Felipe Bernardo Vital, em entrevista ao podcast Resenha Política, apresentado por Robson Oliveira em parceria com o Rondônia Dinâmica:
“Não mandam mais.” A sentença, dirigida às facções que, segundo ele, dominavam condomínios populares de Porto Velho, é sustentada por operações contínuas e policiamento permanente nas áreas do Morar Melhor e do Orgulho do Madeira. É, de fato, uma das grandes vitórias da gestão de Coronel Marcos Rocha, do União Brasil, no setor de Segurança Pública.
Vital explicou que o estopim da “guerra” de janeiro decorreu da execução do plano para retirar invasores de apartamentos e devolver unidades aos legítimos proprietários — ação inserida no “projeto Moradia Segura, Plano Aliança pela Vida” — e relatou que, após a morte de um policial militar, a resistência à entrada das forças policiais levou aos confrontos. “A partir de hoje eu não quero mais que fique sem policiamento aqui”, disse que determinou o chefe do Executivo, ao justificar a presença constante no território.
No balanço da crise, o secretário sustentou que a resposta do Estado foi rápida e integrada, com apoio de Acre, Mato Grosso, Amazonas e da Força Nacional. “Em menos de uma semana, 4, 5 dias, a gente conseguiu estancar”, afirmou. O argumento central é que a estrutura de segurança pública, antes carente — “não tínhamos colete […] armamento usados […] doados” —, passou a operar com incremento salarial, reequipamento e tecnologia.
Ele credita as reduções a um ecossistema de vigilância eletrônica e inteligência: “Hoje, através dos vídeo monitoramentos, nós já reduzimos quase 60% de roubos de carro aqui na capital.” Em complemento, disse que “furto de veículo está em 30 e poucos por cento” e que “homicídio teve uma redução de 17%”. O eixo tecnológico foi descrito com a “Muralha Rondon” (leitura de placas), reconhecimento facial e integração de dados com estados vizinhos.
A outra frente polêmica da entrevista mira o campo: Vital associou diretamente a Liga dos Camponeses Pobres ao crime organizado. “É o LCP que está ligado a facção”, afirmou, acrescentando que “já” identificou chefias, embora “ainda não” presas por depender de “um trabalho forte com o Judiciário”. A crítica se desloca então para o ordenamento jurídico:
“A culpa não é da Justiça. A culpa são das nossas leis que são frágeis”, disse, ao defender endurecimento para reincidentes e restrição de benefícios quando há novo crime sob monitoração eletrônica. No mesmo diapasão, reforçou um bordão que norteia sua visão de enfrentamento: “Os direitos humanos são para humanos direitos.”
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A moldura que o secretário dá ao problema inclui geografia e fronteira. Ele citou a contiguidade com Bolívia, Peru e Colômbia e a extensão da “fronteira molhada” como vetores do narcotráfico. Para esse cenário, mencionou a atuação do batalhão de fronteira e a cooperação com outras unidades da Amazônia Legal. Nas contas apresentadas por ele, o volume de apreensões neste ano seria “a maior da história”: “Agora, esse ano, nós já estamos chegando a 11 mil toneladas de drogas apreendidas”, disse, indicando marca “em 10.500 e pouco” até então.
Em relação a políticas federais, Vital relatou ter se alinhado “dos contra” em propostas anunciadas sem consulta prévia aos estados: “Ninguém melhor do que o secretário de Segurança do estado para saber a realidade.” Ao mesmo tempo, defendeu um sistema nacional unificado para boletins de ocorrência, reconhecimento facial e leitura de placas, com base em experiências observadas fora do país e na integração já em curso entre estados. Em segurança cibernética e violência digital, disse que há setor específico na Polícia Civil e pediu maior controle parental, destacando a “adultização” precoce e crimes on-line.
No campo da violência contra a mulher, o secretário afirmou que Rondônia figura “entre os três maiores índices de violência doméstica, abuso sexual infantil e feminicídio”, apesar de entregas recentes e ações especializadas. Para além de campanhas e patrulhas, advogou medidas de “efeito pedagógico” como a divulgação de rostos de agressores e, em registro voluntarioso, citou: “Olho por olho, dente por dente. Matou a mulher, tu tá morto.” Em seguida, reconheceu limites legais e voltou a defender mudanças graduais na legislação.
Por fim, Vital abordou o episódio do “influencer” que simulou bomba no aeroporto. “Ele não tem nada de louco não, ele gosta de querer aparecer”, disse. Informou que a investigação é conduzida pela Polícia Federal, com apoio das forças estaduais, e que o autor “vai responder nos rigores da lei”.
O conjunto do relato reforça a diretriz operacional afirmada pelo secretário:
“A população pode ficar tranquila […] não dar sossego para o crime.” Na leitura editorial, a narrativa de resultados — com resposta rápida à crise de janeiro, retomada de condomínios, integração com estados vizinhos e uso de videomonitoramento — dialoga com a pauta de investimentos e comando político que ele atribui à atual gestão.
A ênfase no tripé presença territorial, tecnologia e coordenação interinstitucional, somada às cobranças por mudanças legais, estrutura a linha que Vital apresenta como caminho para manter os indicadores “em números aceitáveis”, mas deixa claro:
“O crime só vai acabar quando Jesus voltar.”
