Cenário político de Rondônia é marcado por disputas de popularidade, influência ideológica e indefinição da esquerda
Nesta quarta-feira, 17, o jornalista Robson Oliveira, titular da coluna Resenha Política, aborda três temas que marcam o tabuleiro político de Rondônia: o prefeito Léo Moraes, que desponta como o gestor mais bem avaliado da nova geração de prefeitos; o deputado federal Fernando Máximo, pré-candidato ao governo que aparece na dianteira das pesquisas apoiado pelo eleitorado conservador; e o senador Confúcio Moura, que surge como alternativa viável no campo progressista, mas deve optar pela reeleição ao Senado diante do impasse entre partidos de esquerda.
AVALIAÇÃO
Ninguém no mundo da política é obrigado a gostar do prefeito da capital, Léo Moraes — seja pela forma como governa, seja pelo uso extravagante das plataformas digitais. Mas o fato é que ele vem conseguindo se sobressair entre a nova safra de prefeitos como o mais bem avaliado em Rondônia. Pelo menos é o que revela uma pesquisa séria a que este cabeça-chata teve acesso.
POPULARIDADE
Léo Moraes se destaca por sua habilidade em se conectar com a população. Sua comunicação direta e presença constante em eventos e redes sociais consolidam a imagem de um político acessível, atento às demandas da cidade. É fácil compreender por que tantos eleitores confiam nele: sua popularidade não decorre apenas do marketing, mas também de gestos concretos que fazem diferença no cotidiano das pessoas.
RESULTADOS
A administração apresenta sinais claros de acertos: investimentos em obras visíveis — embora ainda modestas —, iniciativas sociais que alcançam a comunidade e a tentativa de modernizar processos administrativos revelam um gestor comprometido com resultados palpáveis. Esses movimentos reforçam a percepção de proximidade e eficiência.
FALHAS
Ainda assim, como toda gestão em construção, há desafios. Alguns projetos estratégicos avançam mais lentamente do que o esperado, e decisões estruturais exigem maior planejamento. Essas falhas, entretanto, não apagam o esforço em criar uma administração que dialogue com o cidadão e busque melhorias contínuas.
CONEXÃO
O ponto forte de Léo Moraes reside justamente nesse equilíbrio: unir popularidade a ações concretas, transformando expectativas em resultados. Se mantiver o foco na eficiência sem perder a conexão com o público, tem potencial para consolidar uma administração sólida, reconhecida tanto pelo carisma quanto pela competência.
LONGEVIDADE
No fim, sua gestão é reflexo de esperança e possibilidade: méritos a celebrar, desafios a superar e uma base de confiança capaz de transformar promessas em conquistas duradouras.
PERSPECTIVAS
Com a antecipação do processo eleitoral no país, em Rondônia as negociações e articulações estão em pleno vapor nos bastidores. Os prováveis candidatos a governador começam a mostrar o rosto e o esboço das propostas que levarão às urnas, num estado acostumado a eleger azarões e conservadores convictos de suas crenças. Os três mais bem posicionados nas pesquisas estão sendo entrevistados pelo podcast Resenha Política, apresentado por este cabeça-chata, que tenta extrair de cada um o que realmente prometem executar no governo.
FÚRIA
O jovem prefeito de Cacoal, Adailton Fúria, tem como virtudes a juventude, a energia e a autenticidade. Consegue falar ao povo sem burocracia e transmite proximidade. É visto como novidade em um cenário saturado de velhos caciques. Mas, como defeito, ainda é um fenômeno municipal: fora de Cacoal, falta-lhe musculatura política e base organizada. Pode ser percebido mais como agitador do que como estadista. Usa bem as mídias sociais — às vezes com exagero pirotécnico — e aí deixa transparecer seu jeito de menino travesso, que empolga o público local, mas suscita dúvidas sobre a experiência necessária para encarar problemas estaduais mais complexos.
FERNANDO MÁXIMO
O deputado federal Fernando Máximo é pré-candidato a governador, ancorado em forte apelo junto aos evangélicos e ao eleitor conservador de Rondônia. Lidera as primeiras pesquisas e reúne hoje o maior grupo político entre os pré-candidatos, com musculatura eleitoral e apoio consolidado na bolha bolsonarista. Tem recall expressivo, carrega a imagem de médico comprometido e sabe se comunicar com a base popular. Em Rondônia, contudo, liderar pesquisas não significa vencer eleições — a história mostra que favoritos muitas vezes sucumbem ao voto volúvel e às surpresas de última hora. Além disso, sua força ainda depende da sombra de Bolsonaro. Seu discurso tende a repetir a cartilha ideológica, e será obrigado a apresentar um projeto robusto de gestão estadual para que o favoritismo não murche à medida que a campanha afunilar.
HILDON CHAVES
É um provável candidato que corre por fora dos grupos políticos tradicionais. Foi um bom prefeito de Porto Velho, com avanços de gestão e resultados que lhe renderam respeitabilidade. Tem preparo técnico e trânsito no meio empresarial. Em seu desfavor, a vaidade é o calcanhar de Aquiles: exagera na autopromoção, não construiu um grupo político sólido e tampouco domina as dinâmicas do interior, o que o deixa restrito à capital. Corre o risco de ser lembrado como “o bom prefeito que acreditou poder governar o estado sem conhecer Rondônia”. Apesar dessa característica personalista, não é um candidato a ser subestimado num estado que, não raro, aposta no azarão. Sua dificuldade em abrir espaço para aliados funciona como óbice para agregar nomes e formar uma base política consistente.
AS ÚLTIMAS OPINIÕES
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PROGRESSISTAS
Enquanto os conservadores rondonienses exibem mais de um pré-candidato a governador, no campo dito progressista não há, até o momento, um nome consensual entre os partidos de esquerda disposto a enfrentar a disputa. O vazio deixa o tabuleiro eleitoral desequilibrado, com a direita disputando espaço entre si e a esquerda ensaiando movimentos sem coordenação.
VIABILIDADE
O senador Confúcio Moura (MDB), embora distante de ser um esquerdista clássico — pelo contrário —, surge como o nome mais promissor entre os progressistas. Matreiro e astuto, conhece como poucos os atalhos da política. Ainda assim, deverá optar pela reeleição ao Senado, alternativa mais viável e segura para sua trajetória. Moura sabe que parte considerável do eleitor rondoniense segue atento a quem vota com o governo Lula e tem consciência que, na eleição de 2026, sua decisão vai pesar. Daí saberemos se é para o bem ou para seu mal: hoje há quem mais o demonize do que o canonize.
GARIMPO
A mais recente operação da Polícia Federal no Rio Madeira recolocou os refletores sobre um problema histórico: a mineração clandestina que avança sobre nossos rios, driblando a fiscalização e financiando redes criminosas. A ação expôs a magnitude da atividade ilegal, que movimenta fortunas paralelas sem retorno fiscal ao Estado e com altíssimo custo socioambiental. O combate ganhou respaldo popular, mas evidencia também a necessidade de políticas contínuas, e não apenas de operações pontuais.
VENENO
Os efeitos do garimpo vão muito além da destruição da paisagem ribeirinha. O despejo indiscriminado de mercúrio contamina peixes, principais fontes de proteína da população ribeirinha, e atinge diretamente comunidades inteiras. Estudos já apontam níveis elevados da substância no organismo de crianças e adultos que vivem nas margens do Madeira. A tragédia, silenciosa e cumulativa, é um retrato cruel de como práticas ilegais comprometem gerações futuras, ao transformar um rio em depósito de veneno.
OMISSÃO
Enquanto a PF tenta conter a devastação, o silêncio — ou a complacência — de parte da classe política local chama atenção. O garimpo ilegal ainda encontra defensores em palanques e discursos que apelam ao “direito ao trabalho”, ignorando os efeitos catastróficos sobre a saúde pública e o meio ambiente. O dilema se repete: ceder à pressão de grupos econômicos que lucram com a ilegalidade ou apostar em alternativas sustentáveis para a região. Rondônia e a Amazônia, nesse xadrez, seguem pagando a conta da omissão histórica. E criminosa…
MINAMATA
O alerta não é exagero: o Rio Madeira corre o risco de repetir a tragédia ambiental de Minamata, no Japão, onde a contaminação por mercúrio nos anos 1950 deixou um rastro de doenças neurológicas e mortes que até hoje marcam a memória mundial. Ignorar os sinais pode transformar o maior rio de Rondônia em um símbolo global de descaso ambiental. A história já deu o aviso — e insistir no erro, aqui, seria condenar populações inteiras a um futuro de sofrimento e irreversibilidade.
PÁGINA VIRADA
O julgamento de Jair Bolsonaro pelo STF já produziu sua sentença e não há mais espaço para idas e vindas. Certo ou errado, o veredito está dado, e o país precisa seguir em frente. Permanecer aprisionado ao passado, remoendo cada detalhe, é alimentar a instabilidade política. O Brasil tem urgência em olhar para o futuro, enfrentar seus desafios econômicos, sociais e ambientais, em vez de desperdiçar energia em um debate que já foi decidido pela mais alta corte do país. O debate sobre o que é justo ou injusto do ‘juridiquês de boteco’ é lorota de torcida organizada. Vida que segue e página virada.
BLINDAGEM
A proposta de PEC, aprovada ontem, na Câmara Federal, conhecida como a lei da blindagem, revela a lógica estranha de um sistema que prefere proteger o deputado do que combater a corrupção. Com o apoio da maioria dos parlamentares de Rondônia, a ideia é criar uma espécie de escudo jurídico que impeça investigações contra políticas enquanto estiverem em andamento.
ESCÁRNIO
O presidente da Comissão de Justiça do Senado anunciou que vai tentar barrar o avanço dessa legislação. Mas, o objetivo é clara: a pressão dos partidos, o jogo de interesses e o desejo de blindar aliados fazem da tramitação uma novela que promete ter mais capítulos do que os enredos mexicanos. E o cidadão, que paga a conta, assiste a tudo com aquela expressão de quem já sabe como termina: no final, quem manda na blindagem é quem tem força, e quem fica de fora… bem, fica de fora. A lei é, talvez, uma tentativa de transformar a impunidade em norma, um convite à brasilidade de sempre: fugir da lei enquanto o olho da rua estiver fechado. Um escárnio que nosso parlamento decidiu encenar.
ENCENAÇÃO
Nossos parlamentares federais, acostumados a usarem as mídias digitais e falar abobrinhas, destas vez evitaram as ferramentais tecnológicas e não anteciparam o voto. Nem revelaram como votaram. Tudo no escurinho do cinema. O moralismo que adornam em suas publicações, conforme vemos, é uma encenação ficcional.
REPERCUSSÃO
A entrevista do pré-candidato a governador Fernando Máximo, concedido ao podcast Resenha Política, tem repercutido nos meios políticos. Infelizmente, por razões ainda não esclarecidas, estamos encontrando dificuldades para agendar com o pré-candidato do PSD, Adailton Fúria – embora convidado, ele tem evitado com evasivas. A mesma dificuldade com o dirigente do PT de Rondônia. Renovo aqui o convite para ambos.
