A pauta do dia percorre a nostalgia da esquerda rondoniense, os movimentos estratégicos de Hildon Chaves, a crise ambiental no Madeira e a política às claras no avanço do Resenha Política
Nesta terça-feira, 28, o jornalista Robson Oliveira aborda o retorno das caravanas da esquerda pelas estradas de Rondônia em um ambiente eleitoral transformado, a perda de empolgação de partidos e lideranças que marcaram os anos 90, o isolamento político de Hildon Chaves e sua possível migração para a disputa federal, o ambientalismo às vésperas da COP e o silêncio da bancada rondoniense diante do garimpo no Rio Madeira, além das campanhas de renegociação de dívidas da Energisa e da expansão do podcast Resenha Política, que prepara novas entrevistas e estreia em TV e rádio.
CARAVANA
Os partidos de esquerda voltam a percorrer as estradas de Rondônia, repetindo um ritual que o tempo parece não ter ensinado a renovar. Há trinta anos, essas caravanas levavam esperança e debate político às pequenas cidades, quando a utopia ainda encontrava ouvidos atentos. Hoje, o cenário é outro: o conservadorismo fincou raízes no eleitorado, e a travessia tornou-se mais árdua. O discurso progressista, antes movido por ideais de transformação social, soa anacrônico em palanques onde a fé, o agronegócio e o pragmatismo se tornaram os novos dogmas. A esquerda rondoniense, embora tente reacender a chama do passado, parece falar a uma plateia que já se dispersou — ou que, simplesmente, não a escuta mais.
EMPOLGAÇÃO
Nos anos 90, MDB, PT, PDT, PSDB e PSB exibiam musculatura e renovação. Havia figuras com densidade eleitoral real: Valdir Raupp, Ildemar Kussler, Confúcio Moura, José Guedes, Aguimar Piau, Ernandes Amorim, Jorge Streit — nomes que enfrentaram um adversário mitológico, Chiquilito Erse, e fizeram história. Hoje, com exceção do sempre cerebral Confúcio, o resto da caravana não empolga nem a militância contratada para bater palma. Falta brilho, sobra nostalgia.
GUETO
A fórmula de se lançar às estradas é antiga, quase ritualística, mas revela mais resignação do que ousadia. Os partidos que outrora proclamavam mudança agora se debatem dentro do próprio espelho. Faltam lideranças com vigor intelectual e carisma popular — e sobram slogans repetidos, como velhas canções em vinil riscado. O que antes foi movimento político transformador hoje soa como eco de uma era perdida. A esquerda rondoniense, confinada ao seu gueto, parece envelhecer antes do tempo, presa ao saudosismo de uma glória que já não existe e a um discurso que o presente não compreende.
ESMERANDO
Hildon Chaves, ex-prefeito da capital, esmera-se em parecer candidato a governador, embora saiba que a empreitada é mais difícil que fazer gelo no inferno. O isolamento político que construiu tijolo por tijolo agora o cerca. Em reservado, admite o óbvio: talvez seja mais sensato disputar vaga de deputado federal. É o caminho natural para quem cansou de ser protagonista sem plateia.
OPORTUNIDADE
No PSDB, Hildon pode não ter legenda suficiente, mas tem capilaridade e nome limpo — duas raridades no zoológico político local. Sozinho, pode até surpreender com votação próxima à de Fernando Máximo. E para os oportunistas de plantão, fica a dica: filiar-se ao ninho tucano pode render uma suplência de luxo. O voo solo do ex-prefeito talvez inspire outros passarinhos sem gaiola.
AMBIENTALISMO
AS ÚLTIMAS OPINIÕES
++++
Às vésperas da COP em Belém, o governo federal intensifica as ações de combate aos crimes ambientais — repressão de ocasião, com muito drone e pouca prevenção. As operações chegam sempre depois do estrago feito, mais performáticas que eficazes. Ainda assim, é melhor do que nada: se continuar nesse ritmo, o único verde que sobrará será o dos dólares contrabandeados.
GARIMPO
O Fantástico escancarou domingo passado o desastre no Rio Madeira — uma ferida aberta no coração da Amazônia. E a reação da bancada rondoniense? Um silêncio de cemitério. Nem um piado. Nossos parlamentares, sempre tão loquazes para defender garimpeiro ilegal, agora se fingem de mortos. O garimpo destrói o rio, intoxica comunidades, corrompe o Estado e ainda sonega impostos. Ouro amaldiçoado — brilha no bolso de poucos e apodrece o futuro de todos.
DÍVIDAS
A Energisa, sempre “preocupada” com o consumidor, lança mais uma campanha de renegociação de débitos — descontos generosos e parcelamentos camaradas. Uma mão lava a outra, desde que o cliente não esqueça quem segura a mangueira.
INADIMPLÊNCIA
Boa oportunidade para regularizar as contas e, quem sabe, evitar aquele corte inconveniente na sexta-feira à noite. A inadimplência, claro, serve de justificativa para os reajustes nas tarifas dos pontuais — o capitalismo da conta de luz não perdoa. Na última campanha, 81 mil contratos foram renegociados, amparados pelo programa “Desenrola Brasil”. Tudo muito patriótico — desde que se pague o boleto.
OPÇÃO
A modernidade chegou: Pix, cartão, parcelamento e toda a mágica digital. O cliente pode negociar sem sair do sofá — e sem o risco de enfrentar o olhar impassível do atendente. No fim, todos saem satisfeitos: a empresa, por receber; o cliente, por continuar endividado, mas de forma elegante.
PODCAST
O Resenha Política segue em expansão — mais entrevistas, mais repercussão, mais dor de cabeça para os poderosos de plantão. O engajamento nas plataformas digitais cresce a cada episódio, e em novembro o programa estreia na TV e Rádio Jovem Pan. Rondônia terá, enfim, um espaço para discutir política sem anestesia.
AGENDA
As próximas entrevistas prometem. Na quinta, o petista Ramon Cujuí abre a temporada; depois, Fátima Cleide, Nestor Ângelo, vereador Santana, Samuel Bera e o professor Vinícius Assis. Um painel plural — do comício à academia, da tribuna à ribalta.









