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A VERDADE QUE DÓI
Extrema-direita, minha paixão!

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Uma história sobre como um personagem projeta sua entrada na política, descrevendo passo a passo a candidatura, as ideias que defenderia e o modo como exerceria o cargo caso fosse eleito

Por Professor Nazareno - sexta-feira, 14/11/2025 - 11h31

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Professor Nazareno*

No próximo ano haverá eleições. E eu quero me candidatar a um cargo político. Não interessa qual. Vou procurar um partido qualquer para que eu possa concorrer nas urnas. O negócio é ser eleito para poder colocar em prática tudo aquilo que penso e entendo ser o melhor para o meu povo, o meu Estado e também para o meu glorioso país.

Sou e sempre fui orgulhosamente da extrema-direita e por isso, acreditei sempre no slogan “Deus, Pátria e Família”. Minha plataforma é muito singela: entendo que toda mulher deve ser submissa ao seu marido.

Creio que muitas mulheres deveriam ser surradas pelo esposo toda vez que ousassem discordar dele. Ser a favor da violência conta a mulher é algo normal em nossa sociedade levando-se em conta que “tem muita mulher que merece apanhar”. E justifico: Deus fez primeiro o Homem e depois, de sua costela, fez a Mulher.

O pensamento da extrema-direita, de um modo geral, sempre foi a minha paixão. Por isso entendo também que não deviam existir pessoas pobres em lugar nenhum do nosso país.

Muito menos vivendo em nossa cidade. Todo morador de rua, por exemplo, deve ser expulso sistematicamente do lugar onde nós moramos e educamos a nossa família. Pessoas sem emprego, sem moradia fixa, enfim, pessoas “sem lenço e sem documento” não devem ter a dignidade nem o privilégio de se misturar conosco, que temos “horror a pobre”.

Se eleito for, manterei fiscalização rigorosa tanto no porto quanto na rodoviária para impedir esse acinte, essa invasão descabida de gente “estranha” ao nosso meio. Todas as pessoas deviam viajar só de avião. É muito mais chique esperar pessoas num aeroporto do que em um barranco escorregadio ou num ônibus sujo e fedido.

Eleito deputado estadual ou mesmo federal, eu coloco toda a minha família em empregos custeados pelo Estado. Minha esposa será a minha assessora direta com salário de 30, 40 ou 50 mil reais por mês. Meus filhos e até outros parentes mais próximos também serão beneficiados com empregos em meu gabinete. Detalhe: nenhum deles precisará ir ao trabalho.

Receberão a grana em casa mesmo. Sei que muita gente invejosa pode até dizer que é nepotismo. Mas se for, não terá nenhum problema. Não serei o primeiro nem o último a fazer isso. Afinal de contas eu fui eleito e esses idiotas que ficam falando bobagens sequer foram candidatos. Como político da extrema-direita reacionária, eu também não gosto de índios e muito menos de pessoas negras. Se der, trabalharei incansavelmente para restaurar a escravidão. “Naqueles bons tempos todos trabalhavam”.

Uma vez eleito, vou transformar todas as escolas públicas do Brasil em escolas militares, que é o único lugar onde reina a disciplina e o bom-senso. Comigo não haverá também esse negócio ridículo de direitos humanos e muito menos de respeito à natureza. 

Lutarei com força para desmatar toda a região amazônica. E desde que me entendo por gente sempre achei que “bandido bom é bandido morto”.

Pregarei com força uma única religião, a cristã, e o Estado por aqui jamais será laico. Ensinarei que esse negócio de soberania nacional é bobagem. Todos deverão amar Israel e os Estados Unidos. Censura comigo não haverá, mas toda a mídia terá um certo controle. Comunismo? Nunca, jamais!

Não vou me preocupar se algum indivíduo pobre, uma mulher ou algum negro se sentir injustiçado com as minhas medidas. Existem muitos pobres de direita neste país e todos sempre só votaram em candidatos que pensam assim como eu.

Alguém votaria em mim?

*Foi Professor em Porto Velho.

AUTOR: PROFESSOR NAZARENO





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