Reciclagem de vidro em Rondônia esbarra na falta de estrutura e oportunidades de negócios
Segundo o químico francês Antoine-Laurent de Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Pensando nisso, podemos notar que existem na Capital e no Interior de Rondônia algumas possibilidades de aplicação dessa máxima.
A exemplo de outras cidades que consomem produtos embalados em vidros, Rolim de Moura (Zona da Mata) esbanja uma “montanha” deles, pois a sua cooperativa de reciclagem (Recoop) não dispõe da prensa específica, limitando-se a trabalhar com papel, papelão e plástico.
Recentemente visitei o barracão dos cooperados catadores, constatando que o estado vem deixando escapar esse filão de negócios.
O vidro é fabricado basicamente de areia e calcário, cujas reservas no estado são para, pelo menos, duzentos anos.

A presidente da Recoop, Lucineide dos Santos Silva, relatou-me que, nas quatro viagens diárias dos dois caminhões cedidos pelo Governo de Rondônia e pela Prefeitura de Rolim, chegam também ao pátio carregamentos de vidros.
O que faz com esse material? Mais de 20 toneladas estão amontoadas no terreno ao lado do barracão da Recoop.
Esporadicamente, quando aparece algum comprador de São Paulo, a 2.479 quilômetros de distância, parte do vidro deixa a cidade para ser reciclado longe de Rondônia.
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Alô Sedam, ou quem mais se dispuser a enxergar essa realidade: se o vidro for triturado na própria Zona da Mata, dezenas de famílias ganharão, a Recoop ganhará, a economia contará com um item a mais em seu movimento anual.
O ideal é triturar para não perder, moer para não poluir o ambiente com mosquitos que se criam e multiplicam em garrafas, garrafões e outros vasilhames de alimento ou remédio. Não se pode desprezar esse potencial alimentado pelos catadores de Rolim, que já veem alguma renda com papelão, papel e isopor, dos quais se originam até peças de artesanato para vendas na feira, ou porta a porta.
Em 2024, consultando recente levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), este repórter apurou que o Brasil produz por ano mais de oito bilhões de unidades de vidro.
Conforme a entidade, aproximadamente 1,3 milhão de toneladas do material são colocadas no mercado nos mais variados formatos, movimentando aproximadamente R$ 120 milhões. Deste total, somente trezentas mil toneladas (quase 25%) são destinadas à reciclagem.
Entenderam, agora, que Rondônia tem a ganhar socialmente se modernizar a Recoop?
A gente ouve uma falação imensa a respeito das eleições de 2026, mas dificilmente encontra um iluminado ou uma iluminada dispostos a enxergar definitivamente que “lixo é dinheiro.” À exceção de Lucineide, essa lutadora socioambiental que engrandece a Zona da Mata.
Além de ser infinitamente reciclável, o vidro é um dos materiais mais simples e eficientes para reciclar. Entre os problemas que impedem a economia circular do vidro no País estão: a coleta seletiva ainda não consolidada em muitas cidades, e o descarte incorreto pela população.
No caso de diversas cidades do interior rondoniense, falta mesmo investidor disposto a conjugar o verbo transformar. Quem sabe, a Associação Rondoniense de Prefeitos e a Sedam possam se dar as mãos – e as cabeças também.
Se assim for, logo tudo se resolverá.
AUTOR: MONTEZUMA CRUZ