EDITORIAL
Sofia Andrade entre o confronto e o diálogo: vereadora radicaliza posições, mas valoriza o debate público

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Entrevistada por Robson Oliveira no podcast Resenha Política, parlamentar do PL reafirma pautas conservadoras, relativiza o regime militar e adota postura combativa

Por Informa Rondônia - quinta-feira, 17/04/2025 - 11h51

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Porto Velho, RO – A entrevista da vereadora Sofia Andrade (PL) ao jornalista Robson Oliveira, no podcast Resenha Política, durou pouco mais de meia hora, mas foi densa em conteúdo e declarações controversas. Ao longo da conversa, a parlamentar reafirmou bandeiras da direita ideológica, rebateu críticas sobre intolerância religiosa, defendeu a anistia a envolvidos nos atos de 8 de janeiro e negou que o Brasil tenha vivido uma ditadura entre 1964 e 1985.

“Eu não acredito que houve ditadura militar no Brasil, pelo que eu estudei. Tivemos um regime militar duro, mas não uma ditadura”, declarou, ignorando os fatos históricos amplamente documentados. A afirmação omite, por exemplo, a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968, que suprimiu direitos civis básicos, fechou o Congresso Nacional, institucionalizou a censura e permitiu prisões arbitrárias. O AI-5 é considerado por juristas e historiadores como o marco mais autoritário da ditadura militar brasileira, tornando a negação do regime uma forma explícita de revisionismo histórico.

Sofia também relativizou os atos golpistas de 8 de janeiro. Segundo ela, “não houve golpe”, porque não havia armas, líderes ou estratégia. Ao mesmo tempo, defendeu a anistia para pessoas presas durante os atos, inclusive citando casos de mães de família. “Uma mulher escreveu com batom ‘perdeu, Mané’ e está há dois anos presa. Isso é discrepante”, argumentou, traçando um paralelo entre a atuação da direita e ações violentas de militantes de esquerda no passado.

Em outro momento emblemático da entrevista, a vereadora repete uma máxima que resume sua postura política: “Fale bem ou fale mal, fale de mim, divulgue o meu trabalho.” A frase, embora usada de forma aparentemente espontânea, revela um certo traço narcisista, ao transferir para a visibilidade a centralidade de sua atuação. A política, nesse modelo, se torna mais palco do que projeto, mais exposição do que conteúdo.

A parlamentar também afirma não ter ídolos na política, dizendo que sua inspiração maior é Jesus Cristo: “Meu ídolo é Jesus”, declarou. Contudo, a entrevista demonstra uma ligação direta com Jair Bolsonaro. Ela assume que sua candidatura futura depende de alinhamento com o senador Marcos Rogério (PL), um dos aliados mais próximos do ex-presidente, e defende reiteradamente as teses do bolsonarismo, ainda que tente revestir essas pautas de um discurso cristão genérico. A negação de ídolos, nesse contexto, soa menos como humildade e mais como tentativa de evitar rótulos, mesmo sendo, na prática, quase uma líder de torcida do ex-presidente.

Outro ponto de controvérsia foi o projeto de lei apresentado por Sofia na Câmara de Vereadores de Porto Velho, que determina a necessidade de autorização dos pais para a participação de crianças em atividades religiosas nas escolas. Embora a vereadora afirme que a medida tem apoio de órgãos de controle e representantes de diversas religiões – “A lei é unânime”, disse –, sua proposta parece ter como alvo mais a plateia de apoiadores do que a resolução de um problema real.

Apesar do verniz democrático, a iniciativa parte de uma lógica que, na prática, reforça o monopólio religioso no ambiente escolar. Ao transferir a decisão aos pais – sendo que a maioria esmagadora da população brasileira se declara cristã, entre evangélicos e católicos –, o efeito direto é o apagamento das manifestações religiosas de minorias. Se houvesse intenção real de garantir pluralidade, a vereadora poderia propor uma regulamentação que assegurasse espaço igual a todas as crenças ou a nenhuma. Em vez disso, propõe uma democracia condicionada, previsível e desigual, que se apresenta como plural, mas produz exclusão. O projeto, portanto, viola o princípio do Estado laico, ainda que disfarçado de proteção familiar.

Um destaque importante da entrevista é a condução firme e respeitosa de Robson Oliveira. Ao contrário de muitos entrevistadores que adotam o tom chapa-branca em conversas com políticos, Robson se permite tensionar o diálogo, questionar diretamente e rebatê-los com argumentação clara, sem perder a civilidade. Isso eleva a qualidade do conteúdo e oferece ao público a oportunidade de ouvir o contraditório real, sem roteiros ensaiados nem complacência.

Robson Oliveira conduz a conversa no podcast Resenha Política / Reprodução

Apesar de todas as polêmicas e inconsistências, Sofia Andrade acerta ao se colocar diante de uma entrevista aberta, onde não controla a pauta nem evita temas sensíveis. Em um ambiente político frequentemente marcado pelo monólogo das redes sociais, sua disposição em participar do Resenha Política – com direito a réplicas, provocações e confrontos de ideias – é um gesto que merece reconhecimento. Nesse ponto, o exercício do mandato se aproxima do espírito republicano: a política como arena pública, onde posições são testadas, confrontadas e, por vezes, desmentidas.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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