EDITORIAL
Não é com chantagem — pior ainda com chapéu alheio — que se faz política

O secretário estadual de Justiça, Marcus Rito, precisa sair, mas não pela chantagem financeira do deputado Edevaldo Neves, e sim pelo caos no sistema prisional de Rondônia

Por Informa Rondônia - quinta-feira, 20/03/2025 - 11h39

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Porto Velho, RO – A sessão realizada na Assembleia Legislativa de Rondônia, no dia 18 de março de 2025, expôs ao público não apenas um embate ríspido entre o secretário estadual de Justiça, Marcus Castelo Branco Alves Semeraro Rito, e o deputado estadual Edevaldo Neves (PRD), mas revelou, principalmente, como a política estadual segue mergulhada em métodos questionáveis e práticas ultrapassadas. O episódio, lamentável sob vários aspectos, trouxe à tona um problema grave para a segurança pública estadual, mas, infelizmente, a discussão tomou rumos inadequados, com propostas de troca financeira pelo afastamento do secretário.

Marcus Rito, titular da Secretaria de Justiça (Sejus), foi até a Assembleia Legislativa para prestar esclarecimentos sobre o funcionamento do sistema penitenciário, setor que vive em evidente crise há tempos, comprovada pelas constantes fugas de presos, pela sensação generalizada de insegurança e pela visível falta de diálogo com os policiais penais, responsáveis diretos pela segurança nos presídios. No entanto, o debate rapidamente degenerou para a troca de acusações pessoais e, ao fim, culminou numa situação embaraçosa: o deputado Edevaldo condicionou publicamente o envio de recursos financeiros à exoneração do secretário.

Durante o acalorado diálogo, Rito provocou Edevaldo, afirmando que o parlamentar, conhecido como “referência da carreira policial penal”, jamais havia encaminhado qualquer recurso significativo em três anos de mandato para apoiar diretamente os servidores que ele diz representar. O secretário chegou a dizer que o deputado só enviou “30 mil reais para fazer bola”, enquanto outros parlamentares destinam verbas para armamento, uniformes e alojamentos. Em resposta, visivelmente irritado, o deputado fez uma proposta indecorosa, afirmando claramente:

“Se o governador exonerar o secretário amanhã, eu dou 5 milhões pra Sejus. Está aqui gravado nessa casa. Cinco milhões pra Sejus.”

Ao dizer isso, o deputado expôs uma prática política inaceitável, tentando barganhar a exoneração de um secretário com recursos públicos— dinheiro que não é seu, mas dos contribuintes rondonienses. A fala do deputado foi mais que inadequada; foi vergonhosa e reveladora de uma prática política que precisa ser extirpada da gestão pública.

Por outro lado, apesar da maneira reprovável pela qual Edevaldo expressou sua indignação, a permanência de Marcus Rito à frente da Sejus também não se justifica. A justificativa para sua saída, entretanto, não é a chantagem barata feita pelo deputado, mas sim os fatos objetivos que revelam uma gestão fragilizada, incapaz de manter a ordem mínima no sistema prisional do estado. São sucessivas as fugas de presos, inúmeras denúncias de falta de equipamentos básicos, carência extrema de efetivo e, sobretudo, uma total desconexão entre o secretário e os servidores da Polícia Penal.

Nas palavras do próprio deputado Edevaldo, embora ditas num contexto equivocado de chantagem financeira, reside uma verdade que não pode ser ignorada:

“O senhor pode enganar alguém que está aqui, o senhor pode enganar alguém que está assistindo, mas quem conhece o senhor sabe quem é o secretário Marco Rito.”

Ao apontar o problema central—que é a relação problemática entre o secretário e os policiais penais—o deputado acertou, ainda que tenha errado gravemente ao propor uma solução condicionada a dinheiro público. A exoneração de Marcus Rito não deve ocorrer por cinco milhões, nem por barganhas pessoais, mas porque é necessária para resgatar a confiança dos servidores, restaurar a segurança dos presídios e, principalmente, devolver o mínimo de tranquilidade à população de Rondônia.

Edevaldo conduziu bem a sessão até cair na “pilha” e chantagear o governo / Reprodução

A política de segurança pública exige gestores qualificados e comprometidos, capazes de dialogar com categorias fundamentais como a Polícia Penal. Marcus Rito, comprovadamente, não conseguiu estabelecer essa comunicação, e a sociedade paga diariamente o preço dessa falha em forma de insegurança constante. A decisão, no fim, é do governador Coronel Marcos Rocha, do União Brasil. Cabe a ele deliberar se deseja continuar com esse gargalo administrativo, com nome e sobrenome, manchando os inúmeros casos de sucesso em suas conduções nos últimos anos.

Já Edevaldo Neves, infelizmente, perdeu a oportunidade de apontar com maturidade a gravidade da situação, ao preferir o caminho equivocado da chantagem financeira com dinheiro alheio. A crise da segurança pública não será resolvida com barganhas políticas, mas com responsabilidade, competência e seriedade—elementos que faltaram a ambos os protagonistas deste lamentável episódio.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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