EDITORIAL
Maurício Carvalho cobra reconhecimento e expõe distorção: emenda pública, vaidade privada

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A teatralização das emendas parlamentares transforma um direito do cidadão em espetáculo de vaidade e moeda de barganha eleitoral — e o silêncio institucional sobre isso legitima a distorção

Por Informa Rondônia - sábado, 24/05/2025 - 10h33

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Porto Velho, RO – Não há generosidade alguma em destinar emendas parlamentares. Nenhuma. O recurso não é do deputado, da deputada, do senador, do vereador. É da população. Vem dos impostos que o cidadão paga sobre o pão, a luz, a gasolina, a renda, o consumo. Ainda assim, o Brasil assiste, com naturalidade alarmante, a parlamentares que transformam essa obrigação institucional em vitrine política. Como se estivessem tirando dinheiro do próprio bolso, encenam entregas em vídeos, espalham outdoors com suas fotos e falam de “parceria” com prefeitos como se prestassem um favor pessoal à cidade. A distorção virou regra.Esse comportamento afronta a lógica da democracia representativa. Parlamentares não são benfeitores. São servidores públicos eleitos para legislar, fiscalizar e encaminhar recursos. Quando o fazem, cumprem uma função — não oferecem um presente. E é exatamente por isso que a teatralização da emenda parlamentar deveria constranger, e não enaltecer.

O caso mais recente que escancara essa lógica é o do deputado federal Maurício Carvalho (União Brasil), atual líder da bancada federal de Rondônia. Em entrevista ao jornalista Fábio Camilo, Maurício lamentou que o prefeito de Porto Velho, Léo Moraes (Podemos), não cite, em público, a origem das emendas que financiam obras na capital. Com tom visivelmente magoado, chegou a dizer que ônibus escolares comprados com recursos articulados por sua irmã, a ex-deputada Mariana Carvalho — que hoje está sem mandato, após ter sido derrotada justamente por Léo Moraes no segundo turno das eleições de 2024 — talvez não recebam o devido “crédito”.

“Vai chegar ônibus agora, deputada Mariana, 14 ônibus já. Articulação dela, será que ele vai falar?”, reclamou Maurício. E seguiu listando obras, como a Praça do Ofaville, a nova rodoviária, a maternidade municipal e o lar dos idosos, atribuindo-as a emendas de Mariana, como se o reconhecimento público fosse uma parte contratual da transferência de recursos.

A pergunta que deveria ser feita, no entanto, é outra: quem é que está confundindo dinheiro público com ativo privado? Porque se os recursos fossem de Maurício, de Mariana, da família Carvalho ou de seus empreendimentos — como o Centro Universitário Aparício Carvalho (FIMCA Porto Velho) — aí sim, faria sentido cobrar reconhecimento. Se o dinheiro fosse privado, o feito seria privado e o aplauso, legítimo. Mas não é.

Dinheiro público se aplica. Ponto. É direito da população, não moeda de troca para alimentar o ego de parlamentar em vídeo. Não é de Maurício. Não é de Mariana. Tampouco de Léo Moraes. É do povo.

É louvável quando um deputado atua para garantir recursos ao seu domicílio eleitoral. Mas daí a esperar faixa, bolo, vela e palanque por isso — como se tivesse feito um gesto nobre de desprendimento — é um exagero. E mais que exagero: é imoral.

A política brasileira precisa, urgentemente, de um pacto de seriedade. De um posicionamento institucional claro contra a espetacularização das emendas. O dinheiro do povo não pode continuar sendo tratado como vitrine de vaidade para alimentar campanhas futuras ou consolidar hegemonias locais. Não se constrói democracia com caridade forçada. Constrói-se com responsabilidade, com sobriedade e, acima de tudo, com respeito ao que é público.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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