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EDITORIAL
Rocha finalmente responde sobre “grampos” e defende Elias Rezende e a Polícia Civil em entrevista sem filtro

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Governador fala pela primeira vez sobre acusações de espionagem feitas por Júnior Gonçalves e Marcelo Cruz; conversa com Robson Oliveira expõe rachaduras políticas e revela bastidores do governo

Por Informa Rondônia - terça-feira, 01/07/2025 - 11h31

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Porto Velho, RO – A entrevista concedida pelo governador Marcos Rocha (União Brasil) ao jornalista Robson Oliveira no podcast Resenha Política marca um ponto de inflexão na cobertura dos bastidores do Poder Executivo em Rondônia. Pela primeira vez desde que surgiram publicamente as denúncias de supostos “grampos” e bisbilhotagem dentro do governo, o chefe do Executivo estadual foi diretamente confrontado sobre o tema. “Talvez tenham grampos de alguma mulher que tenha deixado na Casa Civil, em cima da mesa. Porque não tem grampo nenhum, não existe isso. Isso é fictício”, declarou Rocha, reagindo às acusações feitas por dois ex-aliados: o ex-chefe da Casa Civil Júnior Gonçalves e o deputado estadual Marcelo Cruz.

A coragem de Robson Oliveira em fazer a pergunta que nenhum outro jornalista ou veículo havia feito até então — apesar de o assunto dominar as conversas políticas há semanas — é um mérito que merece registro. A suspeita pública de bisbilhotagem envolvendo atores com passagem recente pelo núcleo central do Palácio Rio Madeira pairava como uma espada sobre a cabeça da Polícia Civil de Rondônia (PC/RO), e até aquele momento, o governador, egresso das forças de segurança do Estado, não havia sido instado a defender a instituição. Agora, diante da pergunta direta, apresentada olho no olho, Rocha reagiu com firmeza: “A Polícia Civil tem liberdade para atuar. Tudo aconteceu dentro da lei”.

O governador se disse surpreso com a reação que seguiu a troca no comando da Polícia Civil, onde substituiu o delegado Samir Fouad Abboud — à frente da corporação desde a gestão de Confúcio Moura. Rocha afirmou que mudanças de comando fazem parte da rotina institucional e que outras substituições em secretarias não geraram o mesmo tipo de reação: “Quando eu mexi na Polícia Civil, criaram 40 sites, 22 perfis com minha foto, pra tentar gerar quantidade. Por quê? Eu não sei. Eu não sou investigador”.

Governador defendeu escolha de Elias Rezende para a Casa Civil / Reprodução

Ao falar sobre Elias Rezende, nomeado como novo secretário-chefe da Casa Civil, Rocha foi incisivo em defender sua escolha. “Havia uma sensação de que o Elias não poderia assumir. Por que não? Porque ele é policial penal? Porque é da área do direito? Qual o problema?”, questionou. E seguiu: “Ele é extremamente inteligente. Estava comigo desde o início”. O governador reconheceu que Elias enfrentou resistência, mas atribuiu os ataques a uma tentativa de desestabilizar sua gestão: “Existem pessoas atacando o tempo inteiro para gerarem em você a sensação de que a pessoa está errada. E alguns fazem isso por dinheiro”.

Rocha também voltou a falar sobre Júnior Gonçalves, com quem manteve relação próxima durante seis anos. O governador contou que prestou apoio ao então secretário no momento em que ele foi afastado por 60 dias. “Ele chorando, eu mandei uma mensagem pra ele dizendo: ‘fica tranquilo, fica em paz, eu estou com você, acredito na tua seriedade, até que se prove ao contrário’”, relatou. Segundo ele, a mensagem podia inclusive ser divulgada, como forma de expressar publicamente sua confiança naquele momento.

A entrevista também abriu espaço para outras questões sensíveis, como a polêmica substituição do Hospital João Paulo II. Rocha confirmou que o Estado caminha para a compra de uma unidade hospitalar já existente, evitando citar nomes, mas sinalizando que o processo está “tudo meio que pronto”. A compra será alternativa à fracassada parceria público-privada iniciada para construção do novo hospital. “Um dos sócios saiu, e os outros não tinham condições de manter. Cancelamos. Não foi gasto um centavo do governo”, explicou, afirmando que o modelo previa entrega da unidade pronta e equipada, após aquisição de terreno pela empresa.

Ao comentar as críticas que recebeu sobre a compra do hospital Regina Pacis, Marcos Rocha foi direto: “Fui surrado porque queriam que eu comprasse um hospital de lona. Por que será?”. Disse que três críticos da medida foram internados na unidade, um dos quais morreu, e que outro lhe pediu perdão posteriormente: “Eu fui pago para bater”, teria confessado. “Aquele local salvou a minha vida”, disse o governador.

Também foram abordadas as operações da Polícia Federal durante a pandemia, especialmente na Secretaria de Saúde, então sob comando de Fernando Máximo. Rocha reconheceu os fatos, mas afirmou que agiu dentro do que era possível à época. “Se só tem aquilo, o Estado pode comprar e depois entrar com a ação”, teria sido o entendimento compartilhado em reunião com representantes de outros poderes. Ao ser questionado sobre os kits com medicamentos sem comprovação científica, respondeu com uma metáfora: “Se não tem medicamento, e dizem para chupar limão, você chupa limão. A fé cura”.

A entrevista ainda expôs bastidores da entrada de Marcos Rocha na política, sua aliança inicial com Jair Bolsonaro e a campanha feita com R$ 19 mil em 2018, além da recusa em pagar por divulgação em pesquisas. “Me pediram R$ 8 mil pra me colocar entre os cinco primeiros. Eu não aceitei.” Sobre o início da gestão, lembrou que herdou um Estado com R$ 420 milhões a menos do que o necessário para pagar a folha. Cortou contratos, reduziu gastos e afirmou ter recuperado o equilíbrio fiscal. “Pagamos todos os salários dentro do mês durante esses anos todos”, garantiu.

Robson Oliveira ainda tentou arrancar do governador a informação sobre qual hospital será adquirido para substituir o João Paulo II, mas Rocha preferiu manter o suspense: “Vamos deixar acontecer. Está tudo meio que pronto.” Prometeu voltar ao programa no momento da entrega.

A conversa, visceral e sem cortes, como frisado por Robson no início e no fim do episódio, ofereceu à população uma rara oportunidade de conhecer, sem filtros, o ponto de vista do próprio governador sobre os temas mais espinhosos de sua gestão. Perguntar o que ninguém mais perguntou — como no caso das denúncias de espionagem envolvendo Júnior Gonçalves e Marcelo Cruz — não é apenas jornalismo: é serviço público. E o Resenha Política, neste episódio, prestou um deles.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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