A Operação Arcana Revelada afastou figuras-chave do poder em Ji-Paraná e, ao final, resultou na cassação definitiva do mandato de Negão do Isaú
Porto Velho, RO – A queda do então presidente da Câmara Municipal de Ji-Paraná, Welinton Fonseca, conhecido como “Negão do Isaú”, marcou um momento de profundo escrutínio das estruturas de poder na cidade. A derrubada gradual de seus domínios políticos foi oficialmente desencadeada em 26 de março de 2024, com a deflagração da Operação Arcana Revelada — conduzida pela DRACO da Polícia Civil em parceria com o Ministério Público estadual — voltada a investigar supostos crimes de corrupção ativa e passiva, concussão, tráfico de influência e lavagem de dinheiro em esferas do Poder Executivo e Legislativo municipal.
Na sequência, foram cumpridos, conforme previsto, 11 mandados de busca e apreensão nas residências dos investigados e nas sedes dos referidos poderes, além de 5 mandados de afastamento de funções públicas por 120 dias, que incluíam o prefeito Isaú Fonseca e o próprio “Negão do Isaú”.
Tal ação resultou em uma parada abrupta das atividades do vereador, afastando-o não apenas da presidência da Câmara, mas também do exercício do mandato, conforme decisão judicial.
O clima na Câmara Municipal se intensificou, e em 4 de abril de 2024, uma denúncia formal foi acolhida — por 9 votos a favor e 6 contrários — por vereadores da casa, apontando irregularidades que implicavam o parlamentar em possíveis atos de improbidade administrativa e quebra de decoro, além de interferências no processo investigativo sobre seu pai, o prefeito Isaú Fonseca. Como consequência imediata, foi instalada uma Comissão Processante para análise da cassação, e o afastamento da presidência da Câmara foi determinado por 90 dias.
Havia, portanto, um claro movimento institucional para que a apuração seguisse seu curso, independente da força político-familiar. Em 9 de maio de 2024, uma decisão liminar do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO) permitiu que o vereador reconquistasse sua cadeira no Legislativo municipal. Importante ressaltar que, naquele momento, ele continuava afastado da presidência da Casa, situação confirmada em 16 de maio de 2024, quando o Supremo Tribunal Federal negou recurso que buscava sua volta ao comando do Legislativo.
AS ÚLTIMAS OPINIÕES
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Em setembro de 2025, após sucessivas etapas do processo, a Câmara Municipal de Ji-Paraná aprovou a cassação definitiva de Negão do Isaú. A decisão encerrou um ciclo de disputas judiciais e políticas que mantiveram a cidade sob tensão por mais de um ano, representando a queda final de uma liderança que parecia inabalável no cenário local.
O que se desenha é um cenário em que o poder político e familiar não se torna intocável simplesmente por costume ou influência. A Operação Arcana Revelada revelou uma atuação coordenada entre Polícia Civil e Ministério Público para enfrentar governos locais suspeitos de práticas ilícitas — um sinal de que a institucionalidade pode e deve prevalecer.
Ao mesmo tempo, o alívio jurídico concedido pelo TJRO demonstrou que o sistema de freios e contrapesos está vivo: mesmo suspeitos de envolvimento em irregularidades têm direito à defesa e aos recursos judiciais. Ainda assim, o resultado final, com a cassação, reforça a necessidade de vigilância permanente da sociedade e o valor da transparência nas instituições públicas.
Sobre “Negão do Isaú” e seu entorno político, não cabe mais retórica acusatória — mas sim, confiança nos procedimentos instaurados, no trabalho da Comissão Processante, na Justiça e, sobretudo, no julgamento final dos fatos. As evidências reunidas até o momento fundamentaram uma decisão institucional de grande peso, baseada em documentos, deliberações legislativas e decisões judiciais.
O que se observa em Ji-Paraná é um episódio emblemático na política local: o colapso de um aparato de poder que, até então, parecia inabalável. A Operação Arcana Revelada, com sua amplitude investigativa e consequências institucionais, representa um divisor de águas — não apenas para o vereador e seu pai, mas para o ambiente político como um todo.
A lição que fica é clara: por mais enraizado que seja um grupo político, o sistema democrático dispõe de instrumentos para limitar abusos, corrigir rumos e devolver a sociedade a esperança de que a lei vale para todos. O jornalismo sério acompanha de perto os desdobramentos, sem atropelos ou declarações precipitadas. A sociedade merece saber — e saber com fatos.
