A condenação do ex-presidente destruiu o argumento da “base no Senado” e abriu caminho para o cálculo puro: o senador do PL não vai desperdiçar o protagonismo que as pesquisas lhe oferecem
Porto Velho, RO – O senador Marcos Rogério, do PL, domina o palco. Exímio orador, experiente na arte do enfrentamento, sabe manejar a palavra para onde o vento eleitoral sopra. Já soprou do PDT, quando se apresentava como uma liderança de centro-esquerda. Subiu a bordo do Centrão pelo DEM. E agora aporta no PL, abraçando com fervor um bolsonarismo que vive o momento mais delicado de sua história recente. Se existe algo constante na carreira do senador, é o movimento. E todo movimento tem cálculo.
O cálculo de 2026 é cristalino. Jair Bolsonaro foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de 27 anos de prisão em regime fechado. A retórica de anistia se distancia da realidade jurídica. Não há governo Bolsonaro no horizonte para embalar discursos de “base leal no Senado”. A ideia de disputar a reeleição para servir a um projeto que não existirá carece de racionalidade política. Seria desperdício para quem se vê maior do que o papel de escudeiro. Tolerar um substituto ao “Mito”? O aloprado Eduardo Bolsonaro, que se mandou para os Estados Unidos, dificílimo. Um Tarcísio de Freitas, talvez? Menos complicado, mas pouco provável. Michelle Bolsonaro? Se o (a) leitor (a) acredita em Papai Noel e Coelho da Páscoa, com certeza.
Mas no mundo real as coisas são diferentes. O exemplo recente do senador Cleitinho, em Minas Gerais, ilustra o momento. Ao afirmar que sua “gratidão já estava paga”, provocou ira de bolsonaristas e precisou pedir perdão em plenário. No entanto, a mensagem subjacente permaneceu. O instinto de sobrevivência eleitoral começa a atropelar a submissão. A base ideológica cede espaço ao pragmatismo. Rondônia não está blindada a esse fenômeno.
Marcos Rogério enxerga que o bolsonarismo como projeto de poder nacional perdeu tração e que insistir na retaguarda pode custar o protagonismo. Há meses seu discurso se desloca para temas de governo. Saúde, educação, segurança. O vocabulário é de quem não deseja mais a arquibancada do Senado, mas a cadeira de comando no Palácio Rio Madeira. A quem interessar duvidar, basta observar onde concentra críticas, onde promete soluções e como distribui presença pelo Estado.
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Ao mesmo tempo, instala-se a disputa por capitais políticos dentro da direita rondoniense. Adailton Fúria, Fernando Máximo e Hildon Chaves se movem com rapidez para preencher lacunas regionais. Poucos espaços ficam vazios por muito tempo. Cada dia de indecisão rouba vantagem competitiva. Quem conhece o jogo sabe: a janela está escancarada agora. Depois, pode estar trancada.
Rogério aprendeu cedo que fidelidade não é uma camisa de força e que não existem amarras que resistam a pesquisas favoráveis. Trocou legendas quando lhe foi conveniente. Reposicionou ideologia quando o público exigiu. Se existe desconforto em abandonar o pedido de Bolsonaro para disputar a reeleição ao Senado, ele saberá convertê-lo em narrativa de coragem, autonomia e responsabilidade com Rondônia. O discurso está pronto antes mesmo do primeiro comício.
A política rondoniense encontra-se diante de uma escolha cujo sentido se tornou inevitável. Se Marcos Rogério pretende exercer poder real, precisa assumir que sua ambição é o Governo. Permanecer no Senado seria uma contradição entre gesto e desejo. Não se pode servir a dois projetos quando somente um deles ainda respira.
Para quem sempre soube virar a página no momento exato, falta apenas fazer o que todo mundo já percebeu: meter o louco e assumir o protagonismo.
Imagem: ilustrativa / Feita por IA









