Quais são os pecados de Breno Mendes e Zé Paroca?; Bolsonaro terrorista igual a Dilma; e o peculiar Ivo Cassol

Quem paga o preço?

Por Herbert Lins - sexta-feira, 08/11/2024 - 10h08

Prof. Herbert Lins – DRT 1143

08/11/24 – sexta-feira

Era manhã de 2 de julho de 2013, no Palácio Presidente Vargas, sede do Governo de Rondônia – hoje Museu da Memória Rondoniense, eu trabalhava como Assessor de Assuntos Estratégicos na Casa Civil no governo de Confúcio Moura (MDB). Daí fui chamado por um superior de trabalho na sua sala, ele foi implícito com a seguinte frase: “Herbert, você é super inteligente, tem nos ajudado demais, algo está para acontecer, eu sugiro que você deixe Rondônia amanhã!” Entramos em detalhes e fiquei perplexo com tudo que me foi falado. Na noite do dia 03 de julho, com ajuda de um ex-aluno do IFRO, eu iria me esconder numa fazenda em Colorado D’Oeste, mas quando fui entrar no carro para fugir, parei, olhei para o céu, virei para o meu ex-aluno e disse: “Não sou bandido, vou ficar, esperar a polícia e provar que sou inocente!” Manhã de 04 de julho, policiais civis bateram com força na minha porta dizendo: “Abre a porta, vagabundo!” Era a famigerada Operação Apocalipse que veio se cumprir como me foi avisado e não fugi, enfrentei de peito aberto e cabeça erguida. Romeu Tuma Junior, no livro de sua autoria Assassinato de Reputações: um crime de estado (2013, p. 513), diz: “Existe um provérbio escocês […] que uma “ferida ruim pode sarar, mas uma reputação ruim matará”. Por isso, prefere-se atacar a reputação do que a própria pessoa. Neste caso, o médico pode curar sem deixar cicatrizes, mas, para uma reputação assassinada, não há ressurreição, é prego no caixão. Assim, existe um preço a pagar quando somos antissistema. Esse preço eu paguei e posso pagar novamente amanhã, já estão armando desde 2020.

Volte

Depois do cárcere político, voltei a João Pessoa – Paraíba, na casa da minha mãe, testemunhei à família e aos presentes o que é ser um morto-vivo no ambiente do presídio e depois no convívio em sociedade como ex-presidiário. Daí o deputado estadual Edmilson Soares – pai do atual deputado estadual Tanilson Soares (PSB) – disse: “Herbert, volte para a Paraíba, do jeito que apoiamos você enquanto esteve no cárcere político, vamos lhe apoiar na sua volta, conhecemos sua índole, aqui é o seu lugar”.

Levantar

Eu olhei nos olhos do deputado estadual Edmilson Soares, coloquei meus braços sobre os ombros dele e disse: “Onde eu caí, vou me levantar, não vou voltar!” Assim, voltei, fui para a Escola de Linha da Amazônia – área rural de Nova Mamoré/RO, precisamente na Escola Marrechal Cândido Rondon – Bacia do Ribeirão, ministrar minhas aulas. No início, fui incompreendido, mas eu estava doente – capítulo do meu livro “Memórias”, mas das minhas aulas saíram advogados, médicos e houve uma intensa transformação. O agronegócio passou a dominar a paisagem por influência das aulas de Geografia, ciência que liberta a mente e as pessoas da pobreza quando bem estudada.

Resisti

Confesso, fui humilhado publicamente com a Operação Apocalipse e sofri muito durante e depois do cárcere político. Resisti graças às leituras anteriores dos seguintes livros: A vida de Olga Benário Prestes de Fernando de Moraes; Recordações da Ilha Maldita de Luiz Hugo Guimarães; Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos; Cartas do Cárcere de Antônio Gramsci; Recordação da Casa dos Mortos de Dostoiévski.

Resistência

Seguem as demais referências da resistência lidas antes do cárcere: Vigiar e Punir de Foucault; O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde; Moleque Ricardo de José Lins do Rêgo; Cartas da Prisão de Nelson Mandela; Mein Kampf de Adolfo Hitler; Economia e Sociedade de Max Weber. Tais autores me fizeram resistir a todas as humilhações em Rondônia e provar, a cada dia, depois do cárcere político e do assassinato de reputação, que não sou e não nasci para ser bandido, nem mesmo do colarinho branco.

Boaventura I

O sociólogo português – Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, escreveu que “o crescimento global da extrema-direita voltou a dar uma nova importância ao conceito de antissistema em política. Segundo ele: “O binarismo sistema/antissistema está presente nas mais diferentes disciplinas, das ciências naturais às ciências humanas e sociais, da biologia à física, da epistemologia à psicologia. O corpo, o mundo, a cidade ou o clima podem ser concebidos como sistemas. Há mesmo uma disciplina dedicada ao estudo dos sistemas – a teoria dos sistemas”.

Boaventura II

O sistema, segundo Boaventura, é, em geral, “definido como uma entidade composta de diferentes partes que interagem de modo a comporem um todo unificado ou coerente. O sistema é algo limitado e o que está fora dele tanto pode rodear e influenciar (o seu meio-ambiente) como lhe pode ser hostil e pretender destruir (antissistema).” Nas ciências sociais, ainda que algumas correntes rejeitem a ideia de sistema, são muitas as formulações do binarismo “sistema/antissistema”.

Epistemológicos

Diante dos conceitos de Boaventura de Sousa Santos – inclusive estudei seu livro Epistemologias do Sul –, me fez aprofundar nos estudos epistemológicos das palavras “sistema” e “antissistema”, inclusive trazendo esses conceitos para representação política. Daria um artigo científico de excelência. Por sua vez, a coluna é pequena para um tema tão complexo e para colocar numa linguagem coloquial próxima da compreensão popular.

Bolsonaro

Existe um vídeo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) numa entrevista à Rede Globo na década de 1990 pregando a morte de 30 mil pessoas e de Fernando Henrique Cardoso – na época presidente da República. No primeiro momento, fiquei perplexo, mas compreendi sua posição política como revisionista do período da Ditadura Militar e seu posicionamento antissistema depois da redemocratização do país. Neste caso, nossa democracia é jovem e o Brasil ainda é influenciado pela herança colonial, complexo-vira-lata e o analfabetismo funcional.

Fiéis

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode ser considerado um terrorista igual à ex-presidente Dilma Rousseff (PT), basta estudar a biografia de ambos. De lados opostos, Dilma e Bolsonaro sentaram na mesma cadeira no Palácio do Planalto. Contudo, Dilma e Bolsonaro, fiéis às suas ideias, valores e princípios, foram vítimas do sistema, cada qual no seu tempo, por conta de suas ações políticas e tomadas de decisões que contrariaram o sistema.

Lula I

O presidente Lula (PT), quando foi humilhado com a Operação Lava-jato – muitos seguidores discordarão da minha opção em sair em sua defesa. A Lava-Jato veio para destruir nossas empresas e indústrias nacionais. Contudo. Lula contrariou o sistema quando trouxe os pobres para o orçamento do Governo Federal, pagou a dívida externa com o FMI sem privatizar e criou uma reserva de US$ 380 bilhões de dólares.

Lula II

O presidente Lula (PT) foi mais além, transformou nossas empresas nacionais em multinacionais, criou um ambiente de pleno emprego no país, realizou obras estruturantes e pesados investimentos em moradia. Entretanto, Lula contrariou o sistema quando abriu o ensino superior e possibilitou ao filho da empregada doméstica e do pedreiro se tornar advogado, médico ou engenheiro, inclusive viajar de avião. 

Cassol

O ex-governador Ivo Cassol (PP), no seu jeito peculiar de ser, foi o governador municipalista que projetou Rondônia para o agronegócio. Construiu hospitais, escolas, pavimentou e abriu estradas, fez concurso público, investiu em melhoria genética dos nossos rebanhos, modernizou o estado e realizou grandes obras nos 52 municípios rondonienses. Mas qual foi seu pecado capital? Enfrentar o sistema. Quem paga o preço? Jaqueline Cassol e qualquer outro familiar que resolver disputar cargos eletivos.

Penalizados

Os ex-senadores Valdir Raupp (MDB), Expedito Júnior (PSD) e Acir Gurgacz (PDT), cada qual com sua história e biografia – acertos e erros, porém, foram penalizados na sua caminhada por algum momento enfrentar ou contrariar o sistema. Contudo, políticos com enorme capacidade de entrega fazem falta para Rondônia no Congresso Nacional. O mesmo podemos dizer dos ex-deputados federais Nilton Capixaba e Natan Donadon.

Donadon

Falando em Donadon, não poderia esquecer de Melki Donadon, ele que foi prefeito de Colorado D’Oeste e Vilhena, como gestor municipal, deixou sua marca em ambas as cidades. Eu tive a oportunidade de ser candidato a primeiro suplente de senador ao lado de Melki no PHS nas eleições de 2010, posso afirmar e confirmar, ele é um ser humano espetacular, visionário e sua palavra não tem curva. Mas qual é o seu erro? Enfrentar o sistema. Quem paga o preço? Rosane Donadon e seus familiares que se lançam na vida pública.

Jair

O ex-deputado Jair Montes (Avante), beiradeio de Humaitá, lavador de peixe, filho de parteira e de administrador do Mercado Pedacinho de Chão, se fez gente sendo estagiário do Banco Itaú e depois vendendo roupa numa brasilia amarela. Conquistou mandatos eletivos de vereador na capital e de deputado estadual, em ambos os espaços de poder, fez um mandato diferenciado. Neste caso, considerado o mais atuante na defesa dos taxistas, motoristas de aplicativos, vigilantes, professores – rateio do Fundeb, ações de combate à pandemia do Covid-19, na defesa dos servidores públicos, em especial, policiais civis, militares, bombeiros e policiais penais. Qual é o seu pecado capital? Enfrentar o sistema, ser incompreendido e odiado por muitos por conta da sua “boca grande”.

Breno

O vereador eleito Breno Mendes (Avante) – o fiscal do povo – foi criado no bairro Caladinho, filho de uma professora, já o seu pai foi vítima de atropelamento de uma caçamba. Daí, Breno, quando criança, precisou vender dim-dim na rua para complementar a renda familiar. Depois cursou pedagogia, se tornou professor e servidor público concursado na Seduc. Com o passar do tempo, cursou Direito e começou a advogar para as classes mais baixas, inclusive se tornou o calo da empresa Energisa. Qual é o pecado do Breno? Ser antissistema e estar próximo de Jair Montes.

Paroca

O jovem vereador Zé Paroca é filho de Gabriel e da saudosa Maria Aparecida, mais conhecida como Paroca, que fez do apelido o nome famoso do restaurante da família em Porto Velho, onde Zé começou a trabalhar desde criança. Paroca estudou no Colégio Maria Auxiliadora, é casado com Carol Matos e pai de Gabriel. Além do restaurante, trabalha com infoprodutos e construção civil. Por sua vez, aceitou o convite de ser candidato a vereador, foi leito entre os mais votados, fazendo uma campanha linda e disruptiva. Mas qual é o seu pecado? Está próximo de Jair Montes, que é antissistema.

Injustiçado

A coluna de hoje é disruptiva mediante a Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE, pedindo a cassação dos registros e diplomas dos candidatos do partido Avante, em especial, do jovem vereador eleito Zé Paroca e do advogado Breno Mendes. No caso do Paroca, ele começa a vida pública sendo injustiçado. Já Breno Mendes, com toda sua energia em defesa das classes mais baixas, também pode ser injustiçado por ser antissistema. Segunda-feira (11) tem mais detalhes da Aije contra Paroca e Breno.

Sério

Falando sério, o cantor e compositor Renato Russo cantava que “quem acredita sempre alcança”, portanto, propostas simples, discurso distante dos marqueteiros e o modelo de político antissistema são alguns dos fatores que ajudam a explicar por que tantos conseguem se destacar nos processos eleitorais, porém, são injustiçados pelo sistema nas mais diversas áreas, setores e espaços de poder e de tomada de decisões. Comece a enxergar o óbvio, caro leitor.

AUTOR: HERBERT LINS





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