Deputado mistura pautas ideológicas e simbólicas com temas sérios para manter sua bolha mobilizada,
Porto Velho, RO – O deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO) é um dos parlamentares que melhor compreendem a lógica atual das redes sociais. Entre postagens exaltadas contra uma suposta camisa vermelha da Seleção Brasileira e denúncias graves como as fraudes bilionárias no INSS, ele construiu um modelo de comunicação híbrido: mistura temas sérios com pautas ideológicas e simbólicas, muitas vezes tratadas de forma caricatural, a fim de manter sua base permanentemente em alerta e engajada.
A recente postagem em que repudia a possível adoção de um uniforme alternativo vermelho pela Seleção — classificada por ele como “absurda, imoral e antipatriótica” — ultrapassou 4,6 mil curtidas e 1,7 mil comentários em menos de 24 horas. É, de longe, um de seus conteúdos com maior repercussão. E é justamente esse tipo de conteúdo que Chrisóstomo entende como eficaz para manter o algoritmo a seu favor.
A estratégia é clara: em meio a conteúdos que abordam questões reais e importantes, como desvios no sistema previdenciário e denúncias contra órgãos públicos, o deputado intercala publicações que falam de “ameaças comunistas”, “camisas ideológicas” e referências constantes a personagens como Trump, Bolsonaro, Lula e os Estados Unidos. Pouco se fala de Rondônia, de suas estradas, de sua saúde pública, de sua juventude ou do drama ambiental no estado. Rondônia, nesse sentido, torna-se pano de fundo para o projeto político do parlamentar, cujo discurso se concentra nas batalhas de sua bolha.
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A crítica, portanto, não é por ignorar pautas sérias — ele não ignora. Chrisóstomo trata de fraudes no INSS, cobra providências e, muitas vezes, faz o que se espera de um deputado de oposição ao governo federal. O problema é a desproporção de ênfase e o foco quase exclusivo em narrativas que alimentam conflitos simbólicos — como a suposta “camisa comunista da CBF” —, mesmo quando fatos históricos mostram que a Seleção já vestiu vermelho em 1917, 1936 e 1937, além do uniforme preto de 2023.
A charge usada neste post, na qual o deputado aparece gritando “Camisa vermelha comunista e safada!” enquanto o uniforme responde “Calma, deputado. Eu só sou uma camisa”, ironiza justamente esse exagero retórico. É um traço cômico, sim, mas também uma observação sobre como uma peça de vestuário pode gerar mais mobilização que a revelação de desvios bilionários de dinheiro público.
O cenário revela algo mais profundo: a política que se rende ao teatro permanente. Ao dar palco a bobagens com potencial viral, Chrisóstomo preserva sua relevância digital, mas abre mão de construir pontes fora de sua bolha. A aposta é manter os já convertidos inflamados, ainda que isso signifique, muitas vezes, substituir o debate real por ruído ideológico.
Enquanto a camisa vermelha da Seleção segue sendo apenas uma especulação de marketing esportivo, Rondônia continua enfrentando desafios reais, que precisam mais de atenção parlamentar do que de curtidas em redes sociais.
