EDITORIAL
A raivinha da camisa vermelha da Seleção Brasileira: Chrisóstomo domina o jogo das redes, mas deixa Rondônia em segundo plano

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Deputado mistura pautas ideológicas e simbólicas com temas sérios para manter sua bolha mobilizada,

Por Informa Rondônia - terça-feira, 29/04/2025 - 12h02

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Porto Velho, RO – O deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO) é um dos parlamentares que melhor compreendem a lógica atual das redes sociais. Entre postagens exaltadas contra uma suposta camisa vermelha da Seleção Brasileira e denúncias graves como as fraudes bilionárias no INSS, ele construiu um modelo de comunicação híbrido: mistura temas sérios com pautas ideológicas e simbólicas, muitas vezes tratadas de forma caricatural, a fim de manter sua base permanentemente em alerta e engajada.

A recente postagem em que repudia a possível adoção de um uniforme alternativo vermelho pela Seleção — classificada por ele como “absurda, imoral e antipatriótica” — ultrapassou 4,6 mil curtidas e 1,7 mil comentários em menos de 24 horas. É, de longe, um de seus conteúdos com maior repercussão. E é justamente esse tipo de conteúdo que Chrisóstomo entende como eficaz para manter o algoritmo a seu favor.

A estratégia é clara: em meio a conteúdos que abordam questões reais e importantes, como desvios no sistema previdenciário e denúncias contra órgãos públicos, o deputado intercala publicações que falam de “ameaças comunistas”, “camisas ideológicas” e referências constantes a personagens como Trump, Bolsonaro, Lula e os Estados Unidos. Pouco se fala de Rondônia, de suas estradas, de sua saúde pública, de sua juventude ou do drama ambiental no estado. Rondônia, nesse sentido, torna-se pano de fundo para o projeto político do parlamentar, cujo discurso se concentra nas batalhas de sua bolha.

A crítica, portanto, não é por ignorar pautas sérias — ele não ignora. Chrisóstomo trata de fraudes no INSS, cobra providências e, muitas vezes, faz o que se espera de um deputado de oposição ao governo federal. O problema é a desproporção de ênfase e o foco quase exclusivo em narrativas que alimentam conflitos simbólicos — como a suposta “camisa comunista da CBF” —, mesmo quando fatos históricos mostram que a Seleção já vestiu vermelho em 1917, 1936 e 1937, além do uniforme preto de 2023.

A charge usada neste post, na qual o deputado aparece gritando “Camisa vermelha comunista e safada!” enquanto o uniforme responde “Calma, deputado. Eu só sou uma camisa”, ironiza justamente esse exagero retórico. É um traço cômico, sim, mas também uma observação sobre como uma peça de vestuário pode gerar mais mobilização que a revelação de desvios bilionários de dinheiro público.

O cenário revela algo mais profundo: a política que se rende ao teatro permanente. Ao dar palco a bobagens com potencial viral, Chrisóstomo preserva sua relevância digital, mas abre mão de construir pontes fora de sua bolha. A aposta é manter os já convertidos inflamados, ainda que isso signifique, muitas vezes, substituir o debate real por ruído ideológico.

Enquanto a camisa vermelha da Seleção segue sendo apenas uma especulação de marketing esportivo, Rondônia continua enfrentando desafios reais, que precisam mais de atenção parlamentar do que de curtidas em redes sociais.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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