Espécie sofre impactos de queimadas, alterações no nível do rio e caça predatória
Porto Velho, RO – Alterações ambientais e ações humanas têm comprometido a reprodução das tartarugas-da-Amazônia. A elevação do nível do Rio Guaporé, o turismo desordenado, a caça predatória e as queimadas ilegais estão entre os principais fatores que afetam a sobrevivência da espécie. Para conter os impactos, organizações ambientais, voluntários e comunidades locais intensificam trabalhos de monitoramento e preservação.
O ciclo reprodutivo das tartarugas ocorre, em geral, entre agosto e setembro, quando as fêmeas fazem a desova. Cada ninho pode receber mais de 90 ovos, que se desenvolvem sem acompanhamento da mãe. A incubação varia de 45 a 80 dias, dependendo de fatores como solo, temperatura e porte da fêmea. A eclosão acontece normalmente em dezembro, quando os filhotes seguem para a água e tornam-se alvos de predadores. Em 2024, a cheia repentina do Guaporé colocou ninhos em risco e operações de salvamento foram realizadas.
A espécie Podocnemis expansa é considerada o maior quelônio de água doce da América do Sul, podendo medir até 1 metro e pesar mais de 50 quilos. Além de sua dimensão, é vista como bioindicadora da qualidade ambiental, já que seu sucesso reprodutivo reflete condições da região. Contribui também para o equilíbrio ecológico ao dispersar sementes, consumir invertebrados e enriquecer o solo com restos de ovos e ninhos.
José Soares Neto, conhecido como Zeca Lula, da Associação Comunitária e Ecológica do Vale do Guaporé (Ecovale), relatou que em 2024 o nível do rio não baixou como antes. “No ano passado, as pedras ficaram 50 centímetros acima da água no final de julho. Agora, já estamos iniciando outubro e não há uma só pedra visível”, disse. Ele ressaltou que a redução de filhotes compromete a cadeia alimentar de várias espécies aquáticas e de aves.
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Outro ponto levantado por Zeca é o impacto do turismo sem orientação. “Elas têm um lugar para desovar e, de repente, chega um monte de turistas, sem nenhum tipo de orientação, e isso faz com que migrem para outro local”, explicou. Ele destacou que a caça é ainda mais prejudicial: “O que mais afeta a sobrevivência delas são os caçadores. Com a queimada e a fumaça, elas se atrapalham, mudam de praia, mas continuam vivas. Já quando o caçador captura e vende a tartaruga, ela está condenada à morte. Mas, se existe caçador, é porque existem compradores”.
Assim como os quelônios, as gaivotas apresentaram alterações em seu ciclo. O período habitual de postura ocorre entre maio e junho, mas em 2025 foram registrados ovos e filhotes em setembro. A redução das áreas de areia no Guaporé foi apontada como fator de atraso, e os ninhos passaram a ser acompanhados pela Ecovale junto ao monitoramento das tartarugas.
As mudanças no rio também refletiram na 25ª edição do Festival de Praia de Costa Marques, realizado de 25 a 28 de setembro. O prefeito Dr. Fabiomar (União Brasil) relatou que a faixa de areia estava menor que nos anos anteriores, o que reduziu o número de participantes. Ele destacou a relevância cultural e econômica do evento para o município.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que mantém prioridade na fiscalização e proteção das praias e animais. A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) declarou que atua junto à Ecovale, ao Ibama e ao Batalhão de Polícia Ambiental em operações de combate a crimes ambientais. O Exército Brasileiro, instalado às margens do Guaporé, declarou que sua missão inclui a defesa da Amazônia e o controle da fronteira com a Bolívia, com operações de policiamento e bloqueios contra o tráfico de animais e drogas. A Superintendência Estadual de Turismo (Setur) não respondeu até o fechamento da reportagem.