Evento reuniu autoridades e debateu violência de gênero sob a perspectiva da interseccionalidade racial e social
Porto Velho, RO – O encerramento da campanha “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher” foi marcado, na quarta-feira (17/12), por uma palestra realizada no auditório do Ministério Público de Rondônia (MPRO), em Porto Velho. A atividade integrou a programação conduzida neste ano com o tema “A Violência Contra as Mulheres Interrompe Futuros” e reuniu representantes de instituições do sistema de justiça, movimentos sociais e áreas de proteção às vítimas.
A palestra “Crimes de Gênero, Direito Antidiscriminatório e Feminicídios sob a Perspectiva da Mulher Negra” foi ministrada pela advogada e influenciadora digital Fayda Belo, especialista em crimes de gênero e direito antidiscriminatório. A iniciativa foi promovida pelo MPRO em parceria com a Comissão de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade (Comissão EGRD) e resultou da articulação com a Ouvidoria das Mulheres, o Núcleo de Atendimento às Vítimas (Navit), a 35ª Promotoria de Justiça da Capital, o Gaeciv, o Gaeduc, o Comitê Gestor da Política Interinstitucional de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade, além do TJRO, TRT da 14ª Região, MPT RO/AC e Rede Lilás.
Durante o evento, a mesa de autoridades contou com a participação da promotora de Justiça Flávia Barbosa Shimizu Mazzini, chefe de gabinete da Procuradoria-Geral de Justiça e presidente da Comissão EGRD; da procuradora de Justiça Andréa Luciana Damacena Ferreira Engel; da promotora de Justiça Tâmera Padoin Marques Marin, coordenadora substituta do Navit; do promotor de Justiça Tiago Lopes Nunes, secretário-geral do MPRO; da juíza de Direito Miria do Nascimento de Souza, coordenadora do Comitê Gestor; da defensora pública Késia de Abrantes Gonçalves Neiva; de Rosimar Francelino, coordenadora da Rede Lilás; e de Rosa Negra, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado. Também estiveram presentes Benedita do Nascimento, presidente do Fórum Popular de Mulheres e Levante Feminino, e Itaci Ferreira, coordenadora de Vigilância das Violências da Secretaria Municipal de Saúde.
Ao avaliar a campanha, Flávia Shimizu explicou que, ao longo desta edição, foram discutidos temas relacionados a masculinidades, corresponsabilidade, racismo, interseccionalidade, prevenção, acolhimento e políticas públicas. Segundo ela, as ações buscaram sensibilizar e transformar ambientes institucionais e sociais, com a finalidade de romper ciclos de violência que ainda atingem mulheres em diferentes contextos. A promotora ressaltou que as iniciativas terão continuidade ao longo de todo o próximo ano e afirmou que o debate sobre crimes de gênero e de raça visa ampliar a proteção a meninas e mulheres em Rondônia, reafirmando o compromisso institucional do MPRO com a defesa de direitos e o enfrentamento da violência de gênero.
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Na mesma linha, Tâmera Padoin destacou medidas implementadas em 2025, como o desenvolvimento do Mapa da Violência, o fortalecimento do Navit em Porto Velho e a preparação para a implantação de sedes físicas em Ariquemes e Ji-Paraná, prevista para o início de 2026. Ela também mencionou a aprovação, pelo Colégio de Procuradores, de um projeto piloto voltado à atuação especializada em segundo grau nos crimes de gênero, dignidade sexual e crimes contra crianças e adolescentes, além da obtenção do selo “Respeito, Inclusão e Combate ao Feminicídio”, concedido pelo Conselho Nacional do Ministério Público.
Segundo a promotora, a participação do Navit e da Promotoria de Justiça da Violência Doméstica no projeto dos 21 Dias de Ativismo representa a reafirmação do compromisso diário com a proteção das mulheres, com a escuta qualificada, o acolhimento responsável e a atuação institucional contínua, sensível às vítimas e rigorosa diante das estruturas que perpetuam a violência.
Na palestra, Fayda Belo abordou a violência de gênero a partir da interseccionalidade entre gênero, raça e classe social, destacando como fatores sociais e raciais intensificam situações de vulnerabilidade. Reconhecida nacionalmente pela atuação jurídica e pela comunicação de temas complexos nas redes sociais em linguagem acessível, a advogada também é conhecida por mobilizações contra práticas racistas e pela participação em campanhas de alcance internacional, como a iniciativa #paracadauma, da ONU.
Durante sua exposição, Fayda afirmou que o debate sobre violência de gênero precisa considerar o recorte racial para alcançar todas as vítimas. Para ela, a ausência dessa perspectiva faz com que apenas parte das mulheres avance em direitos, enquanto outras continuam expostas a diferentes formas de violência, incluindo estupros e feminicídios. A palestrante reforçou que a justiça deve alcançar todas as mulheres, sem exceção, e que o enfrentamento das desigualdades exige políticas públicas e ações coletivas permanentes.




