Já fiz muito por Porto Velho

Um olhar irônico sobre Porto Velho: os "feitos" de um deputado fictício em meio ao caos urbano e social da capital

Por Professor Nazareno - segunda-feira, 09/12/2024 - 14h37

Professor Nazareno*

Moro nesta “antessala do inferno” há quase meio século. E durante todo este tempo nunca me cansei de trabalhar pelo bem da cidade e de todos os seus moradores. Outro dia, depois de uma bruta ressaca de cachaça ruim, sonhei que tinha sido eleito deputado federal para representar a cidade mais suja e imunda do Brasil e também todos os seus distintos e esclarecidos habitantes. Em Brasília, corria feito um louco atrás de verbas para beneficiar a cidade que tem o pior hospital público do país, o “açougue” João Paulo Segundo, tem a pior qualidade de vida dentre as 27 capitais e em 2024 teve também o pior ar para se respirar. Era eu o maior responsável pela criação do lindo, aconchegante, funcional e prestativo porto rampeado que existe ali no Cai N’água no rio Madeira. Junto à Santo Antônio Energia consegui verba para presentear a cidade com esta modernidade.

O aeroporto de Porto Velho praticamente não tem voos regulares. O deputado federal aqui resolveu, ainda que em sonho, o problema. Permitindo a possibilidade de ligação aérea até com Guayaramerín na Bolívia. Já no quesito arborização, fiz o que pude. Com verbas públicas, mandei arrancar todas as árvores da Avenida Tiradentes e livrei todos os moradores daquela região dos constantes alagamentos que havia por que as raízes delas quebravam os esgotos que não existiam. Já a grama da cidade, esturricada por falta de água, não perde a oportunidade de ver as primeiras chuvas, que um dia virão. Ninguém sabe o que é Porto Velho sustentável, mas fui eu que organizei e trabalhei para isso. Existe fumaça tóxica na cidade? Isso é muito bom. Significa que o agronegócio está produzindo e que por causa disso, em pouco tempo, ninguém passará mais fome na capital Karipuna.

Como deputado federal eu nunca tive 84% de popularidade, mas mandei retirar as lâmpadas da “ponte escura do suicídio”. As pessoas que passarem por ela à noite têm que apreciar a beleza do rio Madeira sem ter uma infinidade de lâmpadas acesas só para atrapalhar aquela romântica visão. O pôr do sol no rio Madeira foi transformado junto com os ratos e urubus em patrimônio imaterial da humanidade só por causa de uma proposta minha. Por minha causa também, a BR-319 foi devidamente asfaltada e a ponte escura finalmente terá utilidade. E a serventia dessa estrada asfaltada é algo “indizível” para madeireiros, grileiros, posseiros, garimpeiros, invasores de terra, incendiários da floresta. Na década de 1980, a BR-364 pariu Rondônia, o desmatamento, o garimpo de mercúrio, a grilagem de terras, a morte de índios, o fogo na mata. O que trará a BR-319?

O “Built to Suit” fantasma de Porto Velho, a pífia rede de esgotos de uma capital que tem menos de 3% de saneamento básico, o abastecimento de água para apenas 35% da população, a péssima mobilidade urbana, a nova rodoviária que nunca será inaugurada, os viadutos tortos e íngremes, a sujeira da cidade, a torta Avenida Santos Dumont, a ponte ainda escura do Madeira, os igarapés sujos e imundos que cortam a cidade, e até a Banda do Vai Quem Quer produzindo sujeira e lixo todos os anos. Tudo isso é obra minha. Implorei aos 21 vereadores, conservadores e reacionários, que ficassem todos ao lado do prefeito que se vai. Além do mais, pedi à Assembleia Legislativa para presentear com dinheiro público todos os funcionários lotados ali. Os Comissionados e os efetivos! Somente os professores do Estado é que não poderão receber nada. Já ganham muito bem. Porto Velho, uma potência por minha causa. Então, viram por que a capital subiu o nível?

*Foi Professor em Porto Velho

AUTOR: PROFESSOR NAZARENO





COMENTÁRIOS: