EDITORIAL
De exaltação a líderes de esquerda e apoio a Dilma Rousseff ao bolsonarismo: a trajetória de Marcos Rogério

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Em 2013, ainda no PDT, senador citou Brizola, Darcy Ribeiro e João Goulart como referências; também declarou apoio ao governo do PT

Por Informa Rondônia - terça-feira, 27/05/2025 - 09h24

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Porto Velho, RO – Em 21 de março de 2013, durante discurso na tribuna da Câmara dos Deputados, o então deputado federal Marcos Rogério, do PDT, fez uma defesa enfática das bandeiras progressistas do partido ao qual era filiado. Falava como líder da legenda na Casa, na véspera da convenção nacional da sigla em Luziânia (GO), reafirmando compromissos com a educação pública, a soberania nacional e os direitos dos trabalhadores — posições que, atualmente, contrastam com o alinhamento conservador que adota como senador pelo PL.

Na fala registrada no Diário da Câmara, Marcos Rogério citou nominalmente Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e João Goulart como “grandes líderes” do partido, reforçando a herança histórica do trabalhismo. A menção a Goulart — ex-presidente deposto pelo golpe militar de 1964 — foi feita no contexto da continuidade ideológica do PDT, que, segundo ele, mantinha vivos os mesmos “ideais” e “objetivos”.

O parlamentar também declarou apoio institucional ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT), do qual o PDT fazia parte. “Sim, o Brasil e a Presidente Dilma Rousseff podem contar conosco. Ajudamos a eleger esse Governo e temos responsabilidade por ele”, afirmou, sem adotar tom elogioso, mas deixando claro o alinhamento político naquele momento.

Na mesma intervenção, criticou duramente propostas como o FUNPRESP, posicionou-se contra a flexibilização da CLT e defendeu a destinação de 10% do PIB para a educação — ponto que classificou como a principal bandeira da legenda. Também se manifestou a favor do fim do fator previdenciário e saudou a nomeação do pedetista Manoel Dias para o Ministério do Trabalho.

Dez anos depois, a trajetória de Marcos Rogério apresenta um deslocamento ideológico evidente. Agora no PL, legenda de perfil conservador e que abriga parte significativa da base de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador passou a adotar um discurso combativo, moralista e de oposição direta às pautas que antes defendia. A figura que exaltava a doutrina trabalhista hoje é uma das vozes mais ativas do bolsonarismo no Congresso.

Em 2013, Marcos Rogério declarava apoio a Dilma Rousseff / Reprodução

Em 2022, mesmo com o bolsonarismo em alta no estado, Marcos Rogério foi derrotado nos dois turnos da disputa pelo governo de Rondônia. Seu discurso radicalizado não conseguiu atrair o eleitorado conservador moderado, que optou por Marcos Rocha (União Brasil), então candidato à reeleição com uma postura mais centrada.

Ainda assim, Rogério articula uma nova candidatura ao Palácio Rio Madeira em 2026. Caso insista no projeto, enfrentará o desafio de reverter o desgaste acumulado e reconquistar um eleitorado que já demonstrou resistência a sua retórica. Um novo revés pode deixá-lo sem mandato e sem base de influência.

A trajetória do senador revela um percurso político moldado mais por estratégia do que por fidelidade ideológica. O parlamentar que, em 2013, declarava compromisso com a educação pública e homenageava nomes históricos da esquerda brasileira, hoje atua em um campo político que combate esses mesmos fundamentos. A mudança, embora legítima no jogo democrático, levanta questionamentos sobre coerência e permanência de princípios.

O tempo cobra de quem troca coerência por cálculo. Para Marcos Rogério, essa fatura parece estar em trâmite.

AUTOR: INFORMA RONDÔNIA





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