Episódio do podcast apresentado por Roberto Sobrinho reúne três cantores da capital e aborda formação, bastidores da cena local e o retorno da MPB, com trechos autorais e clássicos da música brasileira e internacional
Porto Velho, RO – O podcast Põe na Bancada dedicou um episódio à cena musical de Porto Velho e reuniu os cantores Gual, Alan Rammos e Arthur Êba para conversar sobre carreira, repertório e rotina em apresentações pela cidade. O programa, conduzido por Roberto Sobrinho, foi definido logo na abertura como uma edição mais leve, voltada a artistas que atuam em bares, festas, casamentos e eventos culturais da capital. A conversa intercalou relatos sobre a vida profissional com execuções de músicas que fazem parte do repertório de cada convidado. Houve participação de apoio de Dani Martins durante algumas performances.
No primeiro bloco, o apresentador pediu que os convidados se apresentassem e contassem o início na música. Gual afirmou ter raízes artísticas na família e explicou que a mãe era cantora, o que teria influenciado sua trajetória. Informou atuar em trabalhos solo, fazer parte do grupo vocal Cantador e do Coral Canto Livre do Ministério Público. Disse ter ingressado na noite em 2022, após convites surgidos em eventos onde trabalhava, e citou a parceria com o violonista Vinícius. A primeira apresentação ocorreu no espaço Mary Janne e, desde então, passou a cantar com mais frequência. No decorrer da conversa, Roberto Sobrinho observou que o episódio reunia um engenheiro civil, uma advogada e um fonoaudiólogo.
Alan Rammos declarou ser nascido e criado em Porto Velho e que acumula mais de dez anos de atuação na música, sendo este o quinto ano como cantor assinando seu próprio trabalho. Relatou ter atuado como preparador vocal e cuidar da voz de artistas, inclusive nacionais, que chegavam com alguma dificuldade. Disse que a transição ao palco aconteceu na pandemia, em 2019, o que o levou à noite porto-velhense e à realização de especiais como o de Marisa Monte, com suporte de Dani Martins.
Arthur Êba destacou origem familiar ligada à música regional e afirmou ser filho de Baribu Nonata. Formado em Engenharia Civil, relatou conviver desde a infância com artistas do movimento musical da região. Afirmou que começou a se apresentar por volta dos 14 anos, mesmo sem repertório suficiente para o tempo exigido pelos estabelecimentos. Contou ter trabalhado como roadie do pai por mais de uma década, experiência que lhe acrescentou conhecimentos de equalização, interpretação e presença de palco. Atualmente mantém um projeto com o baterista Thiago Lisboa com identidade voltada à black music, revisitando MPB, pop brasileiro e internacional sob essa estética.
O debate prosseguiu sobre público, reação às apresentações e construção de identidade artística. Alan avaliou que se aprende a interpretar a resposta das pessoas nos locais, observando que público mais contido não representa falta de interesse. Gual comentou que o comportamento muda conforme o ambiente, porque em restaurantes o clima costuma ser mais voltado ao relaxamento, enquanto em festas exige-se maior energia. Arthur classificou como melhor retorno o interesse demonstrado pelos próprios funcionários do estabelecimento. Sobre definição de repertório, Arthur afirmou priorizar identidade autoral para não se tornar genérico. Gual considerou necessário adaptar-se a públicos diferentes, mesmo preservando marca pessoal, lembrando pedidos de sertanejo que a fazem buscar na memória uma canção como Boate Azul. Alan afirmou posicionar-se entre os dois extremos, aceitando pedidos quando possível sem abandonar sua linha de interpretação.
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Os três comentaram ainda o retorno da MPB à noite porto-velhense. Gual afirmou que o gênero passou por um período de menor presença na cidade e avaliou que está retomando espaço com força. Arthur relacionou seu repertório à convivência com a geração anterior e ao contato com apresentações que acompanhava na infância.
O episódio também abordou rotina, saúde vocal e bastidores da profissão. Arthur relatou que os fins de semana exigem quebra do ciclo circadiano, com desmontagem de equipamento e conversas com público e contratantes prolongando o trabalho até a madrugada. Observou que o músico é empreendedor da própria carreira, responsável por marketing, finanças e produção de conteúdo. Alan acrescentou que eventos concentrados em horários de almoço e jantar reduzem o tempo de convivência familiar. Gual afirmou que concilia música com serviço público, acordando às 6h e retornando tarde para casa nos dias de show.
O tema das relações entre músicos ocupou outro trecho do episódio. Eles relataram colaboração para indicações quando não podem atender uma data, mas também citaram casos de concorrência desleal. Gual mencionou um episódio em que um colega perdeu evento após outro profissional oferecer cachê inferior. Alan e Arthur usaram o termo máfia como gíria para classificar essa postura. Alan defendeu transparência sobre valores e a importância de não desvalorizar o trabalho musical.
Durante a gravação houve apresentações de trechos de músicas. Arthur mostrou uma composição autoral prevista para lançamento futuro. Gual interpretou Folhetim, de Gal Costa. Alan apresentou Absoluto, definida como sua primeira música autoral, lançada dia 21 e dedicada à mãe. Em respostas a pedidos do apresentador, Alan cantou Como Nossos Pais, associada ao repertório de Elis Regina, Gual interpretou Smooth Operator, de Sade, e Arthur incluiu versos que fazem referência a samurai. No encerramento, o trio vocalizou fragmentos de Sujeito de Sorte.
A conversa incluiu também a relação entre formação acadêmica e carreira artística. Roberto Sobrinho resumiu que o episódio reunia um engenheiro civil, uma advogada e um fonoaudiólogo. Arthur comentou que gerações anteriores de artistas tinham menos acesso à educação formal e que a sua geração conseguiu conciliar estudos e música. Gual mencionou que sua mãe concluiu Direito posteriormente e citou que a possibilidade de exercer duas áreas funciona como alternativa. Alan enfatizou que a escolha profissional deve considerar realização pessoal e subsistência.
Nas mensagens finais, o apresentador solicitou uma fala breve ao público. As respostas registradas pelos cantores foram voltadas à dedicação e autenticidade, com frases incentivando ser inteiro no que se propõe a fazer, agir com amor e realizar a si próprio.




